Prólogo

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Um.

Dois.

Três.

Quatro câmeras apontadas na minha direção.

Um.

Dois.

Três.

Quatro soldados dos mais bem preparados seguravam armas de fogo na minha direção.

Um.

Dois.

Três.

Cerca de quatro mil pessoas estavam me assistindo do outro lado da sala blindada. Eram muitos, todos curiosos e apreensivos, representantes de absolutamente todos os países do planeta, além de policiais, tradutores, empresários, guardas e mais soldados.

Um.

Dois.

Três.

Dou quatro suspiros e fecho os olhos por alguns segundos. Eu estava nervosa, obviamente, e a pressão dos que exigiam respostas me deixava pior ainda.

Suspiro uma quinta vez.

Foram cinco. Eram cinco e não quatro.

-Meu nome é Yasmim Silva - digo, sinto minhas mãos suarem, tento me acalmar me arrumando na cadeira de aço, mas isso não ajuda em nada - fui uma dos três sobreviventes do fim do mundo - dou uma pausa e vejo armas serem mudadas de posição - eu sei que estão todos com medo, tudo bem, de certa forma o que aconteceu foi minha culpa também.

Um.

Dois.

Três.

-Eram quatro clãs - começo - pelo menos achávamos que era assim no começo. O jogo, o mundo das almas, os fantasmas, podem chamar do que quiser aquele fenômeno mortífero que como todos sabem, começou no dia um de janeiro de 2020. O primeiro dia foi o pior. O maior caos possível, tanto no além-mundo quanto neste mundo, nesta Terra, afinal, as duas realidades estão sobrepostas uma sobre a outra.

-Você poderia narrar a sua aventura pelo "além-mundo"?

Sorrio de leve para o soldado que me perguntou isso. Eu poderia contar?

Poderia realmente instalar o caos maior do que aquele primeiro dia? Poderia mostrar a fria realidade que eles estão submetidos a ter?

Sim, eu poderia, e eu sabia que eles iriam enlouquecer.

-O fim está próximo - falo com um tom de tristeza na voz - eu já o vivenciei. Eu vi mortes, fogo, carnificina, genocídio, e agora apenas me culpo por ter destruído a humanidade.

-Não enrole mais as coisas, apenas vá direto ao ponto.

Afirmo com a cabeça.

-No primeiro dia, 01 de janeiro de 2020 era o meu aniversário de dezenove anos...

*Meses atrás*

Olho para o meu reflexo no espelho. Meu rosto estava inchado, as olheiras estavam profundas, os cortes em meus braços ainda sangravam de vez enquando e meus lábios estavam secos.

Uma manhã deplorável para meu aniversário. Uma manhã deplorável para ser o primeiro dia do ano. E uma manhã deplorável para a minha família fazer uma festa surpresa.

Coloco um vestido branco simples e cubro meus braços com uma blusa fina por cima, passo maquiagem no meu rosto, olho para mim mesma novamente no espelho.

Nem parece que chorei a noite toda.

Forço um sorriso mínimo e me preparo para sair do quarto, meu pai sorridente anuncia que vamos para a casa de uma tia minha.

De onde vêm as lágrimas?Onde histórias criam vida. Descubra agora