Criança Chorona

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*Yasmim*

-Nos matarmos? Como assim? – pergunta dando alguns passos para trás.

-Eles querem menos concorrência, ou um de nós dois morre, ou nós dois morre – explico, o garoto parece pensar por alguns segundos e encara todas as pessoas a nossa volta, prontas para se tentarmos fugir. O vejo balançando a cabeça e depois olhando pra mim. Então do nada Kami vem para cima de mim e sussurra.

-Desculpa por isso, Yasmim, eu preciso sobreviver... – os olhos dele estavam cheios de lágrimas – eu não te disse, mas quando o jogo começou, um pouco antes de eu entrar aqui eu vi meu irmão. Ele se desculpou comigo e disse que eu também seria herdeiro da família, e então eu vim parar aqui. Não era para eu estar aqui, não era para ser assim... – vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto – eu estava prestes a mudar de vida. Eu não posso morrer, eu preciso voltar... – de repente a roupa azul que revestida seu corpo se transforma em escamas moldurando sua pele e fazendo garras em suas mãos – Eu te admiro muito, mas você não é forte, você é dependente de um cara que se matou. Não vai sobreviver, você entende? É uma questão de lógica aqui.

Dou alguns passos para trás, ouço as gargalhadas das almas ao meu redor observando aquilo, prontos para nos matar e ansiosos para isso.

-Kami, o que você está dizendo? – pergunto engolindo em seco.

-Eu preciso ser forte – ele diz e do nada avança na minha direção, suas garras quase me acertam se eu não tivesse me esquivando de última hora, o garoto dá um giro na areia da praia e volta com outro golpe em mim, uma cotovelada bem no meio do meu peito me joga longe e me faz perder o fôlego.

Tento me recuperar mas logo o vejo correndo novamente na minha direção.

-Você disse que nunca iria me deixar! – grito.

-Não vou, você morrerá antes disso – me levanto ao ponto de escapar de um forte chute, cambaleio para os lados, minha visão turva.

-Você disse que seria meu irmão! – grito sentindo lágrimas escaparem.

-Não podemos ser irmãos se estivermos ambos mortos! – ele grita de volta.

Seus olhos estavam azuis em um tom escuro, como se fossem águas do mais profundo mar. Ele corre na minha direção. O vejo preparar as garras, sua expressão de completo ódio.

***

Outra explosão, mas dessa vez não foi o ser flamejante que a causou, dessa vez o impacto veio de dentro de mim. Atravessando minhas veias, sentindo em minha pele, ardendo em meu interior e expandindo para o exterior.

Isso doía. Doía nas pontas dos dedos e em meus pulmões. De repente eu já não estava respirando, eu estava apenas andando, e andando, e andando. O ser flamejante dá alguns passos para trás hesitante. Mas eu continuo andando, e andando, e andando.

Algo novo tinge meu sangue de azul, algo novo muda meu ser para anil, algo novo me dá um poder que eu nunca tive antes na vida.

O poder da morte.

Junto minhas mãos como aquele ser havia feito antes, meus dedos cruzados em algo que me possuía, e assim como ele, eu causo uma explosão. Grande, enorme, gigante, vasto, amplo e degradante ao ponto de até eu ser atingida.

Cheiro de sangue.

Cheiro de enxofre.

Cheiro de morte.

Cheiro de almas.

Se aqui é onde as pessoas mortas vêm depois de serem enterradas. Eu estou no lugar certo.

De onde vêm as lágrimas?Onde histórias criam vida. Descubra agora