*Sobrevivente 1*
Mergulho no mar, a água fria e clara me cobre por completo. Sinto algo diferente acontecer em meu próprio corpo. De repente me sinto exposta, nua, pelada nadando na água, e então algo envolve meu pescoço. No susto tento retirar aquilo que parecia querer me asfixiar, só então percebo ser o mesmo tecido da minha roupa, tentando me engolir.
Minhas pernas são envoltas pelo azul do tecido, meu pescoço é apertado, perco minhas forças depois de tentar resistir. A corrente quase inexistente me leva para dentro do mar.
Abro os olhos e vejo a areia no fundo, vejo vários peixes em câmera lenta, vejo um escuro tomar conta da minha visão. O ar sai completamente de meus pumões enquanto meu corpo afunda naquela imensidão. Não sinto mais minhas pernas, nem a ponta de meus dedos.
E não penso no que está acontecendo.
As coisas estão loucas demais para questionar pequenos detalhes como um tecido mágico que me enforca.
Fecho os olhos uma última vez, e então deixo a morte vir. A água entra em meus pulmões, ou pelo menos é o que eu acho que acontece.
Abro os olhos.
Eu estou respirando.
Mas também estou debaixo da água.
Toco de leve o tecido azul em meu pescoço, só então percebo algo de diferente. Aquilo não tinha textura de tecido. Parecia uma pele, macia e firme, porém ao mesmo tempo era astuta, como uma segunda pele de uma cobra.
A lenta corrente continua me levando, olho para minhas pernas e me surpreendo mais ainda. Aquela segunda pele azul me envolvia me proporcionando uma cauda quase transparente. Eu ainda conseguia ver minhas pernas, embora não as sentisse, percebo que aquela pele azul faz parte do meu corpo, ou para ser mais clara, da minha alma.
Isso é incrível.
Tento me movimentar na água e consigo com facilidade. O mar parecia convidativo, minha respiração estava normalizada, meu corpo parecia voar.
Voando nas águas salgadas.
Sorrio largo ao perceber o que realmente estava acontecendo.
De repente algo me chama a atenção.
Nunca vi isso na realidade, parecia novo e estranho. Era uma pequena luz azul, caberia na minha palma, não estava lenta como o resto do mundo, parecia ser levada pela correnteza e gravidade da Terra. Caía calmamente em direção ao fundo do mar.
Estico o braço para alcançar aquele ponto de luz. Parecia não ter peso algum, o trago para perto e observo aquele anil lindo. Sorrio de leve.
Será que...?
*Sobrevivente 2*
Me sento na frente do senhor idoso transparente, ele parecia estar alucinando.
-Onde eu encontro essas lágrimas? - pergunto, ele balança a cabeça se negando a contar essa informação - eu vou achar algumas e trago para você, eu prometo.
Ele suspira fundo e me encara.
-Você já se desbloquiou?
-Eu acho que sim - digo me referindo ao momento em que causei uma explosão e logo depois comecei a voar - por quê?
-Você é do clã Alvo - ele aponto para a minha roupa extremamente branca - dá pra ver pela sua armadura branca, você precisa voar até as nuvens mais altas e encontrar as lágrimas, elas estão escondidas dentro das nuvens.
Voar para o céu? Que doideira.
-Tá bom - digo irritada - como essas lágrimas se parecem?
-São como luz. Elas são pequenas e brilham. Tem de várias cores. Como você vai procurar nas nuvens, acho que vai encontrar as brancas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De onde vêm as lágrimas?
ActionDe onde vêm os mundos sobrepostos à beira de seus colapsos? De onde vem a dor? De onde vem a vida? De onde vem a morte? De onde vem a alegria? Você sabe? Me diga! São muitas perguntas e nenhuma resposta. São tantas lutas que já não me sinto viva. U...