*Yasmim*
Após algumas horas nadando consigo chegar a um lugar maravilhoso. Era cheio de corais coloridos, estava perto da superfície, a minha amiga baleia teve que se afastar um pouco por ser grande demais, e entre os peixinhos e as algas descansavam várias lágrimas azuis.
Eram lindas, cintilando, repousando e sendo levadas aos poucos pela maré.
Me aproximo das lágrimas e pego um punhado com as mãos pálidas de uma só vez, as aproximo de meus lábios.
Eu não queria reviver meu passado.
Nem sei se quero continuar vivendo.
Não quero me lembrar do momento em que matei Kami, nem do momento em que encontrei o corpo morto do meu irmão quando ele se matou.
Se dessa vez eu for lembrar de algo, que seja algo feliz.
E então eu engulo aquelas lágrimas, rapidamente uma por uma, pelo menos umas cinco de uma só vez. E nesse mesmo momento uma memória começa a invadir meu ser.
Eu estava entre lindas árvores grandes, pássaros cantavam ao longe, havia um lago enorme ali perto, muitas pessoas caminhavam e faziam piquenique no maior parque da cidade, eu vivia vindo aqui com minha família.
-Yasmim! - ouço uma voz um pouco longe de mim, era de uma criança, em qualquer lugar do mundo eu reconheceria essa voz - Yasmim me ajuda a subir na árvore?! - ele choraminga.
-Espera um pouco Yago - um eu do passado diz, olho para mim mesma, a garota loira com os cabelos presos em um rabo de cavalo apertado, pegando uma pera para comer, a luz do sol penetrando entre as folhas das árvores e tocando de leve minha pele.
Mas eu estava de blusa de frio, mesmo com todo o calor do local. Meus pulsos já estavam marcados naquele dia. Foi o dia após eu ter me cortado pela primeira vez.
-Yasmim! - meu irmão choraminga para mim, vejo meu antigo eu se levantar e ir até o garotinho chorão que estava longe dos pais.
-Yago! - grito, sim, esse é o nome do meu irmãozinho, como pude esquecer? - olha o tamanho dessa árvore! Muito grande para você!
-O Yeshua não teria medo de me ajudar - o garotinho fala e cruza os braços.
Sinto meu estômago se revirar nesse momento, e eu sei que a eu do passado também sentiu ao ouvir aquele nome. A loira levanta o braço e sem dó acerta um tapa no rosto do irmãozinho.
-Nunca... - me vejo dizer entre um soluço e olhos cheios de lágrimas - nunca mais fale esse nome de novo!
E nesse momento é como se eu voltasse para o meio dos corais, meus olhos estavam ardendo por eu me recusar a deixar minhas lágrimas escaparem.
Yeshua, Yasmim e Yago. Éramos os irmãos Y, inseparáveis, felizes e perfeitos.
Até não sermos mais três.
Olho para as minhas mãos, elas não estavam mais transparentes, estavam em uma cor vivida e clara, pisco os olhos várias vezes me lembrando do tapa que dei no meu irmão mais novo. Ele não merecia isso.
Ele é apenas uma criança.
Nunca entendeu a morte.
Respiro fundo e fecho minhas mãos em punhos.
Me viro e volto a nadar para longe dos corais, eu ia rápido por ali, a baleia me viu assim mas não me perguntou nada, continuamos nadando.
E nadando.
E nadando.
E nadando.
*Atualidade*
Um.
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De onde vêm as lágrimas?
AksiyonDe onde vêm os mundos sobrepostos à beira de seus colapsos? De onde vem a dor? De onde vem a vida? De onde vem a morte? De onde vem a alegria? Você sabe? Me diga! São muitas perguntas e nenhuma resposta. São tantas lutas que já não me sinto viva. U...