*Yasmim*
-Vamos de novo - digo arfando - quando eu falar já. Um. Dois. Três... Já!
Eu e Kami tentamos mais uma vez, concentramos em nossas mãos, em mover as águas, mas novamente apenas uma pequena onda de no máximo cinco centímetros aparece. Eu já estava cansada, passamos horas nisso, sempre que volto para o fundo do mar a tribo na lava volta a nos atacar, e nós não conseguimos nem dominar nosso próprio elemento.
-Mais uma vez? - Kamikaze pergunta, suspiro fundo e estendo as mãos em frente ao meu corpo - um, dois, três...
Uma pequena onda aparece na superfície da água cintilante, menor que a última, não atingimos nenhum progresso. A noite já estava chegando, o cansaço já havia me dominado.
-Acho melhor descansarmos um pouco - comento, o garoto afirma com a cabeça, nós dois descemos até a fenda de lava no fundo, novamente bolas ardentes voam até nós. A água que nos rodeia as esfria e diminui sua velocidade, ao ponto de ao chegarem em nós serem apenas pedras mornas. Suspiro fundo.
Nado junto a Kami até um lugar por perto para descansar, estava tudo um grande breu aqui, com muitos peixes e seres estranhos por perto.
-Yasmim - o garoto me chama assim que chegamos no lugar para dormir, aceno com a cabeça para que ele continuasse - você está desaparecendo.
Encaro minhas mãos, realmente, eu estava ficando transparente.
-Temos que achar mais lágrimas - digo e me deito das algas, observo a superfície calma e distante, o céu lá em cima deve estar cheio de estrelas - hoje quando estávamos lá em cima, eu olhei para o céu e vi aquela tabela do primeiro dia.
-Aquela que mostrava quantos já morreram?
-Sim - dou uma breve pausa - mas aquilo não mostra só as mortes.
-É eu vi, tem desbloqueados e...
-Lágrimas e justapostos - continuo - você viu os números?
-Muita gente já se desbloqueou, muitas mesmo, eu fico pensando se todas elas chegaram a quase morrer para isso, ou se simplesmente eram suicidas anônimas.
Dou um sorriso fraco.
-As lágrimas diminuiram, de cem por cento passou para noventa e oito. Me pergunto onde todas essas outras lágrimas estão escondidas - falo pensativa - mas não é isso o que está me incomodando.
-E o que é?
-Justapostos... - digo indignada - no primeiro dia aqui estava no número zero.
-E agora?
-Continua zero - falo - é o único que não mudou, o único que ninguém descobriu como mudar.
-Será que isso tem a ver com a dominação da água?
-Não, acho que conseguiremos dominar com treinamento, já conseguimos mover um pouco de qualquer jeito. E você percebeu? As bolas de lava que aquele clã lança na gente são sempre identicas, até do mesmo tamanho, nunca está mais rápido ou mais lento, nunca chega a nos atingir.
-Isso significa que eles também estão no começo do treinamento? Precisam evoluir?
-Acredito que sim - ao longe vejo um grande tubarão nadar tranquilamente sem nem perceber nossa presença - eu falei com aquela baleia ontem.
-Doida.
-Ela me respondeu. E ainda tem uma alma encrustada nela - digo - ela parece uma velha sábia, talvez possa nos dizer como dominar a água.
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De onde vêm as lágrimas?
ActionDe onde vêm os mundos sobrepostos à beira de seus colapsos? De onde vem a dor? De onde vem a vida? De onde vem a morte? De onde vem a alegria? Você sabe? Me diga! São muitas perguntas e nenhuma resposta. São tantas lutas que já não me sinto viva. U...