Aquela Garota

9 3 1
                                    

*Yasmim*

Eu ainda não sabia o que tinha acabado de acontecer, foi tão repentino e profundo, aquela garota conseguiu me ferir, não só no exterior como no interior também.

-Você está sangrando – ouço a voz doce da baleia em minha cabeça, eu sabia que estava, tinha um corte em meu ombro que só fui perceber depois de cair no mar.

-Desculpa por te colocar em perigo – digo para a minha única amiga ao meu lado – e obrigada por ter feito aquele tsunami.

-Não foi eu quem o fez – ela responde, a encaro sem entender – foi você quem fez aquilo, talvez nem tenha percebido por causa do calor do momento, embora não tenha sido muito grande, foi um bom começo para quem não conseguia fazer uma ondinha.

Sorrio com o comentário dela.

É, aquilo foi incrível, espantei todos daquele grupo idiota, mas não foi a tempo de salvar Kamikaze.

E agora ele está morto.

Encaro minhas mãos, eu matei meu amigo, meu irmão.

-Você precisa se alimentar – a baleia diz em minha cabeça, eu estava desaparecendo, nunca estive tão transparente assim – conheço um lugar com várias lágrimas, não é muito longe, eu posso te levar lá.

-Por que está me ajudando? – pergunto e encosto nela perto de seu olho, faço um carinho ali enquanto esperava pela resposta.

-Jovem humana, eu também já fui humano, aqui nesse mundo as crianças muito pequenas que não viveram o suficiente ainda, se transformam em animais, e desde o momento que a morte chegou para mim eu venho vagando nesse oceano por décadas, talvez séculos. Você já ouviu falar que os animais sentem quando uma pessoa é boa ou não?

-Sim...

-Isso é verdade. E quando eu te vi eu percebi que você é uma pessoa boa. Jovem humana, eu tenho estado solitária nesse oceano há tanto tempo que nem me lembro ao certo, poder conversar com alguém foi a coisa mais diferente que já me aconteceu, e poder ajudá-la foi melhor ainda. A questão não é o porquê de eu estar te ajudando, e sim, por que não te ajudar?

*Jhassi*

-Droga! – grito tentando chutar o ar e desejando poder bater em algo físico – ela estava na minha frente! Como a deixei fugir?

-Acho que o mais importante é como você sobreviveu – Ary diz revirando os olhos – você tem noção de que ela poderia ter te matado a qualquer momento, não é?

-Mas não matou – An complementa – ou aquela garota não quis te matar...

-Ou eu não a deixei me matar – digo sentindo um pouco de raiva.

-Eu conheço você... – uma das almas ali diz apontando para mim, haviam vários nos assistindo, todos os curiosos por causa do maremoto haviam visto a pequena luta, pareciam babar por um pouco de atenção minha – você é aquela garota que matou o rei de um dos maiores reinos.

-É, sou, e daí? – pergunto cruzando os braços, todos ali começam a se encarar, alguns dão até um passo para trás com medo – parece que os rumores voam até para as almas.

-Ficamos sabendo que o clã Alvo inteiro está contra você – um dos garotos ali diz se aproximando de mim – me disseram que você fugiu de um grupo e açoitou outro...

Me lembro dos primeiros dias nesse mundo, ao qual entrei em um grupo do clã Alvo mas roubei algumas lágrimas e fugi.

-Por quê vocês estão preocupados com isso?

-Nós te vimos lutar contra aquela garota, e os rumores correm a solta, com certeza você é forte e com certeza haverá gente atrás de você.

Bufo alto e começo a gargalhar.

-Que venham – digo – eu tenho meus próprios interesses no momento, não estou afim de nenhum atraso, se alguém vier me matar ou coisa do tipo, eu espero que ele esteja pronto para morrer.

Bufo novamente e me viro contra eles, dou alguns passos para longe daquelas crianças medrosas.

-Espera! – um deles grita para mim, olho por cima do ombro para a certa pessoa – qual é o seu nome?

Sorrio de lado.

-Me chamem de Jhassi.

*Ary*

-Jhassi! Jhassi espera! – grito tentando correr atrás dela que já estava longe, mergulho no chão e acelero, rapidamente a ultrapasso e saio do chão na sua frente, seguro em seus ombros a parando de continuar a andar – espera!

-O que você quer? – ela pergunta ríspida, vejo An se aproximar de nós e o grupo de almas curiosas começar a se dispersar.

-Você tem noção do que acabou de dizer? – pergunto.

-Sim.

-Não! Não tem! Agora você será conhecida por todos e todos vão querer te matar por te acharem uma grande ameaça!

-Foda-se.

-Não foda-se! Você está comigo e com An, estamos em uma aventura juntos, também seremos mencionados, não se preocupa com os outros?

-Se quiser pode seguir sua aventura sozinho.

-Eu não vou te deixar!

-Então o problema é seu.

Ela me empurra e volta a andar, reviro os olhos e tento alcançá-la.

-Você pode não se preocupar com nós, mas nós nos preocupamos com você – An diz se aproximando dela também – somos seus amigos.

-E eu sou o Bozo.

-Para de ser estúpida!

-Estúpida? ! – ela para e se vira para nós dois – vocês viram aquela garota que quase me matou? Vocês viram o tsunami? As garras? As explosões? Aquilo sim é estupidamente forte! Eu não sou nada em comparação, por sorte não virei pó! Acordem! Não rodamos nem meio mundo e já encontramos alguém no nível dela, imagine quem já está em um nível superior?! Os rumores vão apenas atrair pessoas para eu poder treinar e me fortalecer, e se eu tiver sorte, eu atraio aquela garota.

-Você quer atrair ela mesmo depois de ela quase te matar?!

-Eu não disse que tenho um objetivo? – ela pergunta cerrando as mãos em punhos – eu vou reencontrar ela, eu vou ficar mais forte, não vou deixar ela fugir de novo, e dessa vez, ela vai me dizer seu nome...

-Nome? É isso que você quer? Vai arriscar sua pele para saber o nome dela? – pergunto achando isso ridículo.

-Ela é diferente – Jhassi diz, percebo que seus olhos estavam brilhando, algo estava acontecendo dentro dela que não consigo dizer ao certo o que é – eu preciso saber o nome dela.

AN encosta de leve sua mão na minha e se aproxima de mim, sussurra lentamente em meu ouvido para que Jhassi não ouça.

-Eu acho que ela acabou de encontrar sua alma gêmea.

Olho para Jhassi.

Alma gêmea.

Isso não é um mito?

Isso realmente existe?

Balanço a cabeça e encaro os olhos de An, brilhando, me encarando. É, eu faria de tudo por ele, até arriscar minha própria vida.

Me viro para Jhassi, ela continuava com os punhos cerrados, fecho minha mão e estendo na sua direção.

-Tudo bem, pode contar comigo – digo. An estende a mão também ao lado da minha em punho.

-Comigo também – diz.

Jhassi sorri maravilhosamente e então estende seu punho, formando um triângulo entre nossas mãos que se encostavam.

-Obrigada.

De onde vêm as lágrimas?Onde histórias criam vida. Descubra agora