Yasmim

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*Sobrevivente 1*

Volto para a praia com aquela luz estranha em minhas mãos, era macia, molhada e leve. Vejo as pessoas ali na praia me encarando como se tivessen visto um fantasma, os analiso.

Tinha bastante gente aqui, talvez até mais que mil adolescentes, estavam espalhados pela borda da praia e apenas um pequeno grupo se continha em me esperar. Todos vestidos de azul, todos perdidos como eu.

Me aproximo do amontoado de gente perto da água, sinto minha antiga cauda voltar a ser minha roupa, ou para ser mais precisa, minha segunda pele. Suspiro algumas vezes para tentar me acalmar, e por fim finalmente começo.

-Me desculpem por tentar fugir - digo - eu estou com medo, e não os conheço.

-Tudo bem, nós entendemos isso - um deles fala, o mais alto, ele se aproxima de mim e estende o braço na minha direção - posso? - o mesmo faz menção de me tocar, em minha bochecha, continuo parada no local quando ele acaricia desde minha têmpora até o contorno do meu queixo - você é real.

-Claro que sou - digo o óbvio, olho para os outros ali, não só o amontoado de pessoas que me esperavam quanto todos os outros adolescentes na praia agora me encaravam, estavam pasmos, e consigo ver certo brilho em seus olhares.

-Pensamos que tivesse morrido.

-Por quê?

Ele abaixa a cabeça como se estivesse com medo de continuar, uma garota se aproxima dele e segura em sua mão como para dar suporte, então ela sorri docemente para mim, de canto de olho percebo os adolescentes cochichando e sussurrando algo uns para os outros.

-Depois daquela explosão que você causou e que nos salvou, você ficou inconsciente por um bom período de tempo - ela me explica calmamente, embora seu físico fosse de dar medo, com enormes braços, músculos e traços marcantes, ela transmitia uma aura boa e cintilante, quase como um oposto ao seu exterior - nós estamos nesse mundo para jogar, descobrimos algumas coisas porque nos deparamos com alguns penados pelo caminho. Eles nos explicaram que para não morrermos temos que matar quem quer nos matar, isso significa que temos que fazer o que você fez no primeiro dia. Sobreviver à morte - ela para e encara aqueles que sussurravam na escondida, todos fazem silêncio perante seu olhar cortante e vazio, ela se volta para mim e o brilho em seus olhos também voltam. Engulo em seco - o penado nos disse que temos que nos desbloquear assim como você fez. Só assim poderemos entrar no nosso território sem morrermos, ou deja, o mar, e só assim poderemos procurar pelas lágrimas - ela aponta para as minhas mãos onde eu segurava a pequena luz azul que havia encontrado - parece que você já achou uma.

-Pra que isso? Como assim? O que ê isso?

-O primeiro que tentou entrar no mar morreu, mas você que já se desbloqueou conseguiu entrar normalmente. Você achou uma lágrima. Precisamos dela para não morrermos também. São o nosso alimento.

Olho para aquele negócio em minhas mãos, novos cochichos começam ao meu redor.

-Então, o que eu faço com isso? -pergunto estendendo aquela pequena luz, ela segura em minhas mãos as fechando sobre a tal lágrima.

-Você a achou, ela é sua, se alimente - diz docemente. Olho para a luz.

-Mas e se for uma armadilha?

-Nunca saberemos se não tentarmos.

Engulo em seco e a encaro.

-Desculpa, mas, quem é você?

O sorriso em seus lábios desaparecem.

-Não nos lembramos dos nossos nomes aqui - diz olhando para os lados, percebo as expressões de medo das pessoas ali - você se lembra do seu?

De onde vêm as lágrimas?Onde histórias criam vida. Descubra agora