Antropofagia

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Já havia se passado dias, eu e Kami evoluímos em nosso comando da água, o que pretendo não é tão complicado, porém, precisa ser feito da forma certa.

Letícia.

Mas aquele nome não sai da minha cabeça.

-Agora! - grito, sinto minhas mãos arderem quando as estendo para frente, Kamikaze faz o mesmo com as suas, focamos na superfície da água, o amontoado se reparte, a luz do sol brilha nas ondas causadas - pra baixo! - ordeno, e então acontece.

Nós criamos uma pequena circunferência na água e a abaixamos ao ponto de aprisionar o ar em uma bolha do tamanho de uma bola de futebol, essa é a primeira vez que tentamos e ela não escapa.

-Vamos descer. Três. Dois. Um! - Kami quem avisa, e assim, nós dois controlando a água ao redor da bolha de ar, começamos a descer até o fundo do oceano. Para a minha surpresa, bolas de lava não saem disparadas na nossa direção, pelo contrário, há uma calmaria enquanto a água esquentava.

-Precisamos colocar o ar perto da lava sem nos aproximar - digo tentando prestar atenção na fala e na dominação da água ao mesmo tempo - vamos tentar controlar, só que de longe.

-Certo - Kami concorda. Começamos nosso trabalho tentando empurrar a bolha para a lava ardente, não sabíamos ao certo o que estava acontecendo, mas sabíamos que estávamos conseguindo dominar algo, mesmo que sendo pequeno.

A bolha finalmente chega na lava, passam-se alguns segundos até que olhos curiosos saem pela parte seca, era um garotinho ruivo, provavelmente da mesma idade do meu irmão mais novo.

-Nós não vamos te machucar! - grito para ser ouvida - só queremos algumas respostas.

O menino mostra as mãos, engulo em seco ao ver suas escamas como de um dragão, então reparo em seus olhos. Nos olhos cor de fogo semelhantes ao ser que quase me matou no meu primeiro dia aqui.

-Eu respondo qualquer coisa se conseguirem me tirar daqui - o menino responde, sua voz fina, reparo que ele estava brilhando e sua pele tinha uma tonalidade diferente - vocês conseguem fazer uma bolha maior do que essa para eu subir à superfície?

Olho para Kami um pouco receosa.

-Só você está aí dentro? - Kamikaze pergunta ao garotinho.

-Eu e minha tribo estávamos na lava até que um cara do clã de vocês nos atacou. Eu me separei deles e vim parar aqui, achei várias lágrimas aqui também, mas não tenho como sair porque a água bloqueou todo o meu caminho...

-E se ele entrar no oceano estará entrando no nosso território - digo percebendo o óbvio - você morreria.

-Então vocês poderiam me ajudar? Por favor? Se eu sair daqui eu prometo responder qualquer coisa.

-Volta pra lava - digo rapidamente, ele me obedece e some, deixo a bolha de ar se esvair e subo até perto da superfície, Kami vem comigo.

-O que aconteceu? - ele pergunta aflito.

-Lágrimas te dão poder, sabedoria, tudo, ele está repleto de lágrimas, qual a nossa garantia de que se o salvarmos, ele não irá nos matar?

-Yasmim... - Kami ri de mim como se eu estivesse brincando - olhe para os lados, ele está em nosso território, não sobreviveria e nem sairia daqui sem nós.

Penso bem por alguns segundos.

-Se fizermos uma bolha maior e o trouxermos para a superfície, ele vai precisar de um apoio para não entrar na água novamente - olho para os lados pensando onde eu conseguiria esse tal apoio - um barco, uma canoa, uma madeira, qualquer coisa...

De onde vêm as lágrimas?Onde histórias criam vida. Descubra agora