11 - Sobreviver

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Saudades? Não, com certeza, pois o ritmo de postagem de Winter é acelerado como um trem! rsrs Talvez não nessa proporção, mas é bem rápido.

Podem ficar relax, amores, o sol vai voltar a brilhar, vocês vão ver.

A minha mente é uma confusão desgastante de pensamentos e, por causa dessas merdas de remédios que tenho que tomar para mantê-la estável e funcionando, sou incapaz de raciocinar direito

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A minha mente é uma confusão desgastante de pensamentos e, por causa dessas merdas de remédios que tenho que tomar para mantê-la estável e funcionando, sou incapaz de raciocinar direito.

Para ser sincero, nem sei mais porque ainda insisto em levantar da cama. Tudo o que faço todos os dias e me forçar a seguir em frente, tentando sobreviver a dor que me consome dia após dia, e que está me matando lentamente há mais de três anos.

Sigo um dia de cada vez, sem estímulo ou vontade de continuar. Droga, nem mesmo para brigar, retrucar ou mandar os outros à merda eu tenho disposição. Ando como se estivesse morto, pois é assim que me sinto por dentro.

Sou a sombra do que já fui um dia agora que não o tenho mais.

Três anos. Três anos sem o som de sua risada. Três anos sem ouvir sua voz, ou sentir o seu calor em um abraço. Uma vida vazia, sem significado...

eu...

...só quero que tudo isso acabe.

Acordar desse inferno e tê-lo do meu lado, me abraçando e dizendo que vai ficar tudo bem. Juro que nunca mais se passaria um dia em que ele não ouça o tão desejado "eu te amo" que tanto ansiou, e que agora repito sem parar toda vez que o encontro, ainda que não possa me ouvir ou responder.

- Olá, senhor Bakugou, como o senhor dormiu hoje? - a enfermeira pergunta, cortês, sorrindo complacente.

Fossem outros dias eu a mandaria ir à merda, ou mesmo nem responderia, ignorando sua presença para não ter que me dar ao trabalho de ser educado. Mas esses são outros tempos e, aquele, outro Bakugou. Um que se importava com coisas pequenas, sem dar valor ao que realmente é valioso, crendo que nunca perderia até perder o que lhe era mais precioso.

- Mal.

- Os remédios estão ajudando?

- Não muito.

O olhar dela é compreensivo enquanto anota algo na prancheta me encarando como se visse um inválido.

- Tudo bem, vou pedir ao doutor que prescreva outros, tudo bem?

- Faça como quiser.

Uma breve visita e ela sai, saiu me deixando novamente sozinho com os meus pensamentos. O constante bip bip dos aparelhos não me afeta mais, já me habituei a esse som infernal. Dia após dia, esse é o barulho que me persegue.

No entanto é ele quem indica que pelo menos fisicamente eu ainda o tenho.

Observo o meu amado Eijiro, deitado, como esteve nos últimos anos, sem nenhuma esperança de melhora. Com seu carisma, sorrisos e animação presos em um corpo adormecido. É impossível não chorar vendo-o dessa maneira silencioso e debilitado, um homem tão jovem e cheio de vida encerrado talvez para sempre em uma mente comatosa.

Encostando a minha testa na dele, eu choro mais uma vez, deslizando a ponta dos dedos pelas bochechas dele em uma carícia suave.

- Oi, Eiji. Eu te amo - repito novamente, como venho fazendo religiosamente todos os dias desde que ele entrou em coma - Te amo tanto que dói ver você assim. Queria tanto que pudesse me ouvir.

Ele se arriscou para me salvar, temendo que eu me acidentasse quando foi ele quem acabou sofrendo esse destino.

Uma maldita ironia.

Deku me disse, logo após aquela primeira noite de desespero quando não sabíamos se ele sobreviveria a cirurgia, que ele veio ao meu encontro tentar me parar e os demais o seguiram.

Isso me atormenta dia a pós dia. Eu sei que sou o culpado por ele estar assim. Eu e o meu maldito orgulho me impediram de parar de me arriscar para ouvi-lo, por medo dele ver minhas lágrimas, de perceber que eu sou fraco.

- Me desculpe amor. A culpa é toda minha... - ergo a mão dele, entrelaçando meus dedos em torno dos seus, inertes, sem receber resposta. Como eu queria que ele apertasse minha mão. É difícil falar, a minha garganta se fecha como que bloqueada por um bolo de carne - Eu sou um merda, um maldito... Era para ser eu nessa cama, não você...

- Ele não ia gostar disso. - a presença da minha mãe no quarto não me faz parar de chorar. Simplesmente não me importo que ela me veja miserável assim - Eijiro sempre te protegeu, não ia gostar de vê-lo sofrendo assim.

- Eu sei, ele sempre se importou comigo. Eu que eu nunca me importei com ele... só o tratei mal - ergo meus olhos para ela, sem me importar que ela veja as lágrimas. Uma imagem a qual já deve estar habituada. Eu sou a sombra do que já fui um dia. Destruído por dentro e quase irreconhecível por fora - Eu não suporto ver ele assim.

Os braços dela envolvem o meu corpo e eu me permito ser abraçado. Ela também está chorando. Sei que também está preocupada, quase em desespero com a minha situação. A peregrinação diária do hospital para casa me roubou muitos quilos em minha peregrinação, e a melancolia e depressão mantêm prostrado, abatido, letárgico. Ao longo desses três anos tentei me matar por três vezes e vivo à base de tranquilizantes. Ela me visita bastante, cercando-me de cuidados e isso me deixa ainda pior, pois eu queria que fosse o meu ruivo idiota andando pela casa, brigando comigo, rindo igual uma hiena descontrolada.

- A culpa não foi sua.

- Foi sim, mãe. Se eu tivesse parado a moto naquela noite... se eu não fosse tão orgulhoso... - minhas lágrimas molham o ombro dela e eu me agarro ao seu abraço, buscando conforto, alento - Eu só quero que isso acabe... quero morrer.

- Não diga isso nunca mais - a repreensão dela sai embargada pelo tom choroso, seus braços me segurando ainda mais forte - Você precisa ser forte.

Eu entendo a angústia dela, o medo de me perder, mas eu não consigo mais continuar fingindo que está tudo bem quando não há mais nada para mim aqui que não o sofrimento e a culpa. Ao invés de me compadecer com a súplica velada dela, eu acabo me revoltando.

- Não, eu não quero! Estou cansado de ser forte! - o olhar dela é piedoso e isso me sufoca e destrói - Cansado de viver sem ele.

- Meu filho, eu sei que dói, todos sentimos falta do Eijiro, mas temos que lutar contra isso.

- Vocês não sentem como eu! Não tem culpa do que aconteceu, nem precisam conviver com esse sentimento de fracasso e impotência! - frustrado, eu acabei atacando-a. Isso resgata um pouco do meu eu antigo, mas só por alguns segundos antes que eu me desmonte novamente. Frágil e inconformado, tão desesperado por alguma saída daquele inferno -Eu não aguento mais, mãe. Viver desse jeito é uma maldita tortura.

Eu não consigo mais, simplesmente não suporto. Por Deus, eu não tenho motivos. Os médicos disseram que a lesão dele foi muito severa e que provavelmente nunca mais acordará. É tão doloroso pensar nessa possibilidade, olhar para ele sabendo que ele nunca mais vai abrir os olhos ou sorrir para mim, sabendo que fui eu quem o condenei.

Minha mãe de alguma maneira conseguiu me acalmar e solicitou à enfermeira que trouxesse um calmante. Na verdade mais um, pois eu já funcionava a base de muitos. Deitei no colo dela, ao lado da cama, segurando a mão de Eijiro, observando cada detalhe dos dedos dele, antes de erguê-la e passar levemente pelo meu rosto, chorando ainda mais, saudoso do tempo em que esse carinho vinha dele.

Sem perceber acabei adormecendo.

- Acorda, filho! - a voz alarmada da minha mãe me assustou - Vamos, você precisa ver isso, ele acordou, o Eijiro acordou!

*****

Eu sou verdadeiramente uma infeliz que adora um angst. Está na hora de tomar vergonha nessa minha cara e acabar com isso

Winter (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora