" Quem é você?"
Suspirei ainda emocionalmente instável enquanto aquelas palavras ecoavam na minha mente, como uma tortura longa e cruel, matando lentamente o pouco de fé que ainda resistia dentro de mim.
"Eu realmente não conheço você. "
Com os dedos trêmulos acendi um cigarro, lutando contra a chama do isqueiro que tremulava por causa do meu nervosismo. Minha mãe permaneceu do meu lado, silenciosa, segurando uma das minhas mãos enquanto me olhava preocupada, respeitando o meu momento de muda contemplação e dor.
"Quem é você?"
Três anos esperando, ansiando pelo momento em que poderíamos conversar novamente, temendo que esse dia jamais chegasse, e quando finalmente minhas preces amarguradas e silenciosas são atendidas ele desperta sem lembrar de mim.
As lágrimas molharam os meus dedo quando traguei o cigarro com vontade, prendendo a fumaça antes de deixá-la escapar por entre os lábios entreabertos.
A fumaça espiralou no ar enquanto se esvanecia gradativamente, dispersando diante dos meus olhos, assim como a minha esperança no momento em que eu ouvi aquelas terríveis palavras que jogaram por terra todos os sonhos e expectativas de anos, sepultando minha alegria de vez.
"Quem é você?"
Havia tanta dor dentro de mim que eu sentia que ia colapsar a qualquer instante, quebrar e desaparecer dentro do buraco que tinha no meu coração. As lágrimas agora desciam sem controle algum enquanto eu fitava o céu sem me concentrar em nenhum ponto em particular.
Aquilo doeu tanto quanto uma facada e não podia ter me quebrado mais. Parecia que o destino queria me foder pelas merdas que eu tinha feito, e não estava nem um pouco a fim de usar alguma porra de lubrificante.
Ia ser assim então? Ele nunca mais se lembraria de mim, ou do que vivemos juntos? Teria que vê-lo e perceber seu olhar para mim como se encarasse um estranho?
Definitivamente eu não ia suportar. Não tinha mais forças dentro de mim para aceitar tantas decepções e desilusões. Sei que fiz merda, e das grandes e mereço parte do que está acontecendo, mas a cobrança pelas minhas falhas estão parecendo tão injusta.
"Quem é você?"
"Quem é você?"
"Quem é você?"
Recoloquei o cigarro na boca, tragando novamente. Eu detestava ser dependente daquela porra, mas era uma alternativa para não cair novamente no uso abusivo de calmantes, e costumava funcionar, ainda que naquele momento estivesse sendo meio inútil.
Suspirei fundo, derrotado. Talvez o plano com a arma ainda estivesse de pé. Seria uma alternativa rápida e talvez indolor de terminar com tudo isso. Eu não precisaria sofrer por mais tempo.
Não. Não está de pé porra nenhuma. Eu esperei tanto para ele acordar, não vou dar o braço a torcer agora.
Mesmo assim...
Será que eu consigo suportar a dor de tê-lo tão perto e distante ao mesmo tempo novamente?
- Filho...
- Ele não se lembra de mim, mãe... - despejei sentindo a boca amargar pela realidade daquelas palavras.
"Nunca o vi, como posso esquecer?"
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Winter (Concluída)
أدب الهواةDesde que ele partiu minha vida se tornou inverno. todos os dias são frios e cinzas, sem cor ou vida. Tudo me faz falta, o som de sua risada, a cara de idiota... Contudo, eu me recuso a ir atrás dele, afinal, tenho meu orgulho e reputação a zelar. ...