15 - Abismo

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" Quem é você?"

Suspirei ainda emocionalmente instável enquanto aquelas palavras ecoavam na minha mente, como uma tortura longa e cruel, matando lentamente o pouco de fé que ainda resistia dentro de mim.

"Eu realmente não conheço você. "

Com os dedos trêmulos acendi um cigarro, lutando contra a chama do isqueiro que tremulava por causa do meu nervosismo. Minha mãe permaneceu do meu lado, silenciosa, segurando uma das minhas mãos enquanto me olhava preocupada, respeitando o meu momento de muda contemplação e dor.

"Quem é você?"

Três anos esperando, ansiando pelo momento em que poderíamos conversar novamente, temendo que esse dia jamais chegasse, e quando finalmente minhas preces amarguradas e silenciosas são atendidas ele desperta sem lembrar de mim.

As lágrimas molharam os meus dedo quando traguei o cigarro com vontade, prendendo a fumaça antes de deixá-la escapar por entre os lábios entreabertos.

A fumaça espiralou no ar enquanto se esvanecia gradativamente, dispersando diante dos meus olhos, assim como a minha esperança no momento em que eu ouvi aquelas terríveis palavras que jogaram por terra todos os sonhos e expectativas de anos, sepultando minha alegria de vez.

"Quem é você?"

Havia tanta dor dentro de mim que eu sentia que ia colapsar a qualquer instante, quebrar e desaparecer dentro do buraco que tinha no meu coração. As lágrimas agora desciam sem controle algum enquanto eu fitava o céu sem me concentrar em nenhum ponto em particular.

Aquilo doeu tanto quanto uma facada e não podia ter me quebrado mais. Parecia que o destino queria me foder pelas merdas que eu tinha feito, e não estava nem um pouco a fim de usar alguma porra de lubrificante.

Ia ser assim então? Ele nunca mais se lembraria de mim, ou do que vivemos juntos? Teria que vê-lo e perceber seu olhar para mim como se encarasse um estranho?

Definitivamente eu não ia suportar. Não tinha mais forças dentro de mim para aceitar tantas decepções e desilusões. Sei que fiz merda, e das grandes e mereço parte do que está acontecendo, mas a cobrança pelas minhas falhas estão parecendo tão injusta.

"Quem é você?"

"Quem é você?"

"Quem é você?"

Recoloquei o cigarro na boca, tragando novamente. Eu detestava ser dependente daquela porra, mas era uma alternativa para não cair novamente no uso abusivo de calmantes, e costumava funcionar, ainda que naquele momento estivesse sendo meio inútil.

Suspirei fundo, derrotado. Talvez o plano com a arma ainda estivesse de pé. Seria uma alternativa rápida e talvez indolor de terminar com tudo isso. Eu não precisaria sofrer por mais tempo.

Não. Não está de pé porra nenhuma. Eu esperei tanto para ele acordar, não vou dar o braço a torcer agora.

Mesmo assim...

Será que eu consigo suportar a dor de tê-lo tão perto e distante ao mesmo tempo novamente?

- Filho...

- Ele não se lembra de mim, mãe... - despejei sentindo a boca amargar pela realidade daquelas palavras.

"Nunca o vi, como posso esquecer?"

Winter (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora