Capítulo 08 - Não é só mais um dia

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Eu esperei o sol raiar
Esperei, esperei e nada
Só havia nuvem cinza.
Esperei, esperei comecei a pensar
No que o Rei queria falar
Era a voz do meu Rei, comecei a escutar
Meu filho não deixa a nuvem te enganar.
Jesus, o Sol e o Reggae (Salomão)


Esse capítulo é um relato real de alguém com síndrome do pânico, foram feitas pequenas alterações apenas pelo contexto e a partir do início da conversa com o empresário são minhas palavras, mas as sensações são reais, pessoas com síndrome do pânico não precisam de julgamento, mas de apoio como verão a seguir.
Boa leitura.

Tati

Hoje eu não acordei bem, nem consegui desejar bom dia Espírito Santo, depois de tanto tempo analisando e existindo dessa forma, você aprende a ver os sinais. Meu corpo está horrível, eu não quero sair de casa, não quero sair da cama para ser mais exata. A fadiga que eu sinto e o torpor na minha mente são tão grandes que eu me perguntei brevemente se, em algum momento da noite, eu havia sido raptada por alienígenas que injetaram soníferos tão poderosos em mim que ainda não era capaz de superar os efeitos, mas é claro que essa não é a verdade. Acontece com frequência demais para eu fingir que era novidade. Meu corpo entrou em modo de segurança, como fazem os computadores ao detectarem uma ameaça ou perceberem que estão sobrecarregados. Minha mente ordena que eu fique em repouso, quietinha na minha, onde nada poderia me afetar, muito menos o meu próprio consciente. Eu tenho que dormir. Dormir era bom. Dormir era seguro. Fora isso, tudo era desconhecido e perigoso.
Segue então uma hora de batalha física e mental de mim contra mim mesma tentando ver quem vai ganhar: a Tatiana que continua dormindo sem precisar se preocupar com nada ou a Tatiana que levanta e enfrenta a vida. A primeira estava quase vencendo por nocaute quando o elemento Mãe entrou na batalha e me força a levantar. Forçar é uma palavra horrível, mas é como eu me sinto. É doloroso demais e ela não precisa nem ser má ou me bater. A minha própria culpa dá conta do recado em me surrar até não existir mais nada de bom em mim. Voltando a minha rotina, me levanto correndo, troco de roupa em poucos minutos e saio literalmente correndo de casa, já sabendo que não dá tempo. Meu coração apenas acelerou desde o momento em que acordei e a ansiedade se acumulou em grandes pilhas que subiam em forma de colunas imaginárias ao meu redor, ameaçando desmoronar sobre mim a qualquer instante. Ônibus lotado, trânsito lento, eu em pé e entre outras 40 e tantas pessoas, meu pulmão não consegue trabalhar. Várias das janelas estão fechadas e eu só queria gritar para que todos abrissem as malditas janelas. Sentindo o desespero me tomar, eu fecho os olhos e respiro fundo algumas vezes, usando o que aprendi de técnicas para me acalmar. Funciona um pouco e eu relaxo, e evito pensar na faculdade e no que me aguardava lá. É difícil demais não pensar nisso e quero pular na frente de um carro apenas para não precisar passar por aquilo. E assim como todos os outros dias, os pensamentos suicidas dão as caras, aqueles impulsos estranhos, pensamentos horríveis, até sinto Deus tentando falar comigo, só que nesse momento não consigo nem pensar direito. Aquele alívio que o suicídio me faz acreditar, eu não quero me sentir assim. Tenho medo de mim mesma. Pensamentos horríveis. Meu Deus, eu estou sozinha. Eu não quero me sentir assim, por favor. Eu não quero isso, não quero. Ou será que quero? Me perdoe, Senhor. Eu não quero isso. Me perdoe. Faço uma oração e finalmente encontro um banco livre.

Minha mente, sempre rápida, já estava entrando em ação com seu super sonífero para desligar meu cérebro e evitar que eu entre em colapso nervoso.

A próxima coisa que vejo é a Estação das Docas, vários e vários pontos depois daquele em que eu devia ter descido. Tão rápido quanto o efeito do sonífero, meu corpo todo entrou em alerta e a adrenalina corre em minhas veias. Saltei na primeira parada, meu corpo em alerta, mas minha mente ainda sem compreender completamente o que estava acontecendo.

Aliança na Guerra (COMPLETO) - Livro 01 - Sou do ParáOnde histórias criam vida. Descubra agora