Prólogo

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Maggie Kalffman segurava a xícara de café com firmeza ao olhar para o mural de cortiça verde, intrigada com as incontáveis informações que reuniu, mas que, naquele momento, eram inúteis. Havia meses que investigava o sumiço do marido e o porquê do abandono repentino dele a família. Fazia isso escondido de sua filha de 17 anos, que não suspeitava em nem uma das vezes que a mãe dizia ter hora extra no café Girassol, local em que trabalhava, e na verdade, estava na casa do dono do café, o Sr. Joseph Min Hwang,  o qual ajudava em sua procura incessante pelo marido. Já era a sexta ou a sétima vez que ela encarava o mural, achando ter algo que ainda não tinha visto. Richard Kalffman era um pai de família comum que trabalhava como roteirista, mas alguns meses depois do aniversário de 8 anos da filha, ele começou a evitá-la e voltar tarde do trabalho, brigava constantemente com Maggie e sempre parecia estar alterado. Um dia, ele disse a filha que voltaria para jantar e simplesmente saiu pela porta com uma mochila e não voltou mais. Havia apenas um pequeno bilhete pregado na geladeira deixado por ele, que dizia:

Desculpem-me, mas não posso mais ficar com vocês, sou um covarde, admito, mas eu amo vocês e contar a verdade seria doloroso demais. Por favor, esqueçam de mim e vivam suas vidas tranquilamente.


Maggie fez de tudo para encontrá-lo ou para, pelo menos, descobrir o motivo do seu abandono, mas nunca conseguiu encontrar nada, mesmo com a ajuda de uma pessoa influente no mundo da mídia como o Sr. Min Hwang, que era dono de uma empresa de jornais famosa. Essa vida dupla que ela estava levando a cansava e deixava-a frustrada, sempre mentindo para sua filha amada, que cresceu apenas com os cuidados da mãe desde os 8 anos de idade. Joseph se tornou para Maggie como um pai e por isso ele a ajudava tanto como ajudaria sua própria filha. Ele pedia que ela deixasse aquilo tudo de lado e focasse mais em si mesma, porém, ela não queria desistir, a curiosidade e a dor a faziam continuar.

Maggie saiu de um pequeno quarto dentro da biblioteca da casa luxuosa de Joseph e foi ao seu encontro no jardim para se juntar a ele em uma xícara de café.

— E então? – perguntou ao vê-la se sentar na cadeira branca e detalhada.

— Nada. – falou, suspirando e recostando-se, olhando em sua volta o quintal refrescante –, só mais um número de uma pessoa com o sobrenome Kalffman, mas não deu em nada, liguei e uma criança atendeu, ela passou para sua mãe e a mulher disse que não conhecia ninguém com esse nome.

— Maggie, quando você vai deixar de fazer isso? Não tem medo de Amora descobrir? Isso não será nada saudável para ela – comentou, bebendo seu café.

— Amora está ocupada demais com sua carreira de escritora para saber o que estou fazendo em minhas horas extras no trabalho e prefiro que ela continue assim. Estou fazendo isso por ela também, um dia ela vai querer saber o que aconteceu e eu quero já ter respostas – Ela disse, colocando o café do bule em uma xícara.

— Se ela não lhe faz perguntas sobre esse assunto, deve ser porque já sabe que você não tem respostas e também, com seu gênio forte, acredito que ela não queira saber nada de um pai que a abandonou sem nenhum motivo aparente – argumentou, fitando a mulher de aparência cansada a sua frente. – Acha mesmo que ainda vai encontrar alguma coisa? Faz muito tempo que você pesquisa nomes de pessoas, números e lugares que ele possa ter ido ou contatado e não houve resultado.

— Eu acredito que um dia saberei da verdade e minha filha também.

— Não acha que está exagerando demais, minha querida? Você parece exausta, deveria dormir mais. – Ele a olhou preocupado.

— Estou bem, Joseph. – Mostrou-lhe um sorriso. – Obrigada por tudo que faz por mim por nós – Esticou o braço sobre a mesa e apertou a mão de Joseph.

— Já tenho você como uma filha e mesmo sem conhecer a Amora, tenho ela como uma neta. Você me lembra muito minha filha, eu já lhe disse isso, acho que não a ajudei como deveria, então pelo menos farei de tudo para ajudar você agora. – disse com um sorriso, e apertando a mão de Maggie também.

— Obrigada, Joseph. – Levantou-se e beijou-o na testa. – Agora, vou trabalhar. – Virou-se para ir embora.

— Maggie – chamou Joseph.

Maggie se virou e encarou-o.

— Sim?

— Não se esforce demais – disse em um tom de repreensão.

— Claro, deixe comigo. – Deu-lhe um sorriso grande e foi embora.

— É o que ela sempre diz e nunca cumpre, no final, sempre é ela quem se esforça demais. – Joseph disse para si mesmo e depois bebeu seu café, com um olhar preocupado.

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Fazia uma hora que Maggie havia chegado ao trabalho, ela estava limpando o balcão quando uma mulher muito bonita se aproximou, sentando-se em uma das banquetas. Ela observou bem Maggie e depois se pronunciou:

— Com licença, você é Maggie Kalffman? – perguntou.

— Sim, sou eu. – Maggie deixou de lado a flanela que usava para limpar e aproximou-se da mulher reconhecendo na hora sua voz, a mesma voz que havia falado com ela pelo telefone. – Você é a mulher que falou comigo ao telefone mais cedo?

— Sim. Você ligou procurando Richard Kalffman, não foi? – perguntou, fitando Maggie.

— Sim! Por acaso, sabe onde ele está? – Maggie se apoiou no balcão.

— Sim, eu sei. – A mulher desviou o olhar. – Eu me chamo Stephanie – hesitou e engoliu em seco – Stephanie Kalffman. Eu acho, que precisamos conversar.
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Maggie chegou em casa, ainda atônita por tudo que aconteceu. Começou a sentir fortes dores de cabeça, então resolveu ficar ali mesmo, no balanço sofá da varanda, observando as tonalidades de pôr do sol no céu daquela tarde. A exaustão no seu corpo e em sua mente eram visíveis, ela começou a sentir dores agudas em seu peito e recostou a cabeça cansada no encosto do balanço, talvez, já soubesse o que viria a seguir, então apenas tentou relaxar e observar o céu, que aos poucos ia se transformando em noite. Sua garganta ficou cada vez mais seca e o suor cada vez mais frio. Seu coração estava desacelerando devagar.

— Que bom – falou baixinho para si mesma –, eu finalmente descobri o motivo, eu precisava sentir essa dor e você tinha tirado meu direito de senti-la, Richard. Que bom, agora eu sei. – Ela esboçou um pequeno sorriso cansado. – Só não queria ter ficado tão exausta no processo, agora vou poder descansar melhor – tentou movimentar um pouco a cabeça, mas a dor a impediu. - Que pena, gostaria de ter visto minha filha se tornar uma grande escritora – foram suas últimas palavras, antes de seu coração parar de vez e uma lágrima escorrer pelo seu rosto pálido e frio.

A Coadjuvante Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora