Capítulo XI

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Sentada na mesa do café, tentei colocar alguma ideia para fora. No papel. Mas nada veio a mente. Samuel estava me desconcentrando, não parava de olhar para mim e sorrir quando eu o olhava de volta. Talvez os clientes reclamem desse péssimo serviço dele. Mal presta atenção quando eles fazem seus pedidos. Continuo com minha caneta tinteiro na mão e minhas folhas amareladas. Nelas não há nada. Nunca vi um bloqueio desse jeito. Larguei de lado a caneta e apoiei meus cotovelos na mesa e a cabeça em minhas mãos começando a observar Samuel trabalhando. Seus cabelos negros balançando a medida que ele dá pequenas corridas até o balcão, seu avental marrom com o desenho de um girassol no meio, que escondia sua calça jeans um pouco colada permitindo ver seus músculos da coxa, sua blusa xadrez aberta sobre uma camisa preta sem detalhes. Entreabri os lábios quando o vi correr os dedos sobre seu cabelo desgrenhado. Desta vez não era ele que me olhava atentamente e sim ao contrário. Queria parar, mas não conseguia desviar os olhos por algum motivo. Senti minhas bochechas esquentarem ao vê-lo se aproximar rapidamente. Desviei o olhar e me endireitei na cadeira.

-Que foi? - ele perguntou me olhando.

-O quê? - perguntei sem entender o que ele estava querendo saber.

-Por quê está me olhando? - ele sorriu.

-Ah... Eu... é.... estava olhando para o girassol no seu avental. Só isso. - falei firme. - lembro quando minha mãe o usava, o avental é o mesmo de antes. - tomei um gole do meu café.

-É? - ele sentou-se a minha frente - poderia jurar que você estava olhando para meu rosto... - disse pensativo.

-Eu? - dei um sorriso nervoso e maneei as mãos. - Claro que não.

-Sério? Então foi coisa da minha cabeça ver você suspirando ao olhar para minha boca. - falou sorrindo com escárnio.

-I... - gaguejei, minhas bochechas pegaram fogo e a vergonha tomou conta de mim. Tentei segurar um olhar de frieza, mas não deu. - I.... idiota! Só pode estar delirando. - virei o rosto. - o dono desse lugar sabe que um de seus funcionários está bêbado!? - esqueci que ele é o dono.

-Não sei, - ele afirmou com incerteza - acho que devemos perguntar a ele. - Samuel pegou meu celular sobre a mesa e com facilidade digitou minha senha. Depois discou um número e passou o celular para mim. Sem querer entrei no jogo dele e coloquei o celular na orelha. Depois o vi pegar seu próprio celular e atender. Droga. - Alô? Antes que pergunte minha querida, - escutei sua voz em meu celular e ali também em minha frente. - sim, permito que meus funcionários bebam e façam o que quiserem com os clientes que ficam olhando para eles como se os fossem devorar.

Ignorei o comentário idiota e me controlei.

-Como sabe minha senha? - perguntei, com calma e lhe mostrando um sorriso falso.

-Você me deu, lembra? - ele colocou os braços sobre a mesa e inclinou o corpo por cima dela. - depois que eu suspirei no seu ouvido e pedi com carinho. - ele sorriu, maliciosamente.

-Dá para parar com as piadas pervertidas! Você está demais hoje! Por acaso está irritado comigo? - perguntei, enfurecida.

-Não, só... - ele começou a corar de repente, e mudou completamente a postura de malícia. Parecia tenso, e envergonhando. Virou o rosto para que eu não o visse corando ainda mais. - só estava com saudades. - falou baixinho.

-O quê? - perguntei. Escutei o que ele disse, mas queria ouvi-lo dizer novamente.

-De qualquer forma! - levantou-se levando a mão fechada a boca e limpando a garganta. - não suma mais. - pôs a mão sobre meu cabelo. - principalmente se estiver doente. Fiquei preocupado.

Fiquei sem palavras. O toque de sua mão me fez esquecer qualquer raiva que estivesse sentindo.

-Eu... eu só sumi por uma manhã. - aleguei, olhando-o fixamente.

-Eu sei. - ele sorriu. - vou voltar ao trabalho. - afirmou, indo de volta para o balcão.

Como eu deveria agir? Não tenho ideia. Coloquei minhas mãos entre as pernas e senti meu coração acelerar. Há uma pontada de felicidade dentro de mim, como eu deveria reagir a isso? Não sei. Há outra coisa também. Nunca senti isso antes, o sentimento de querer que uma parte da sua vida nunca tivesse acontecido. Se eu não tivesse conhecido Lucas, teria me apaixonado por Samuel? Seriamos um casal? Casal. A ideia de que eu e Samuel poderíamos ter sido um casal me entrelaça e me preenche de algo estranho. Dor? É isso? Fiquei triste por saber que não poderemos ser assim? Eu queria ser assim. De alguma forma, começo a sentir que gostaria de ser assim. Não com outra pessoa, mas com Samuel. É a primeira vez que penso dessa maneira, mas gostaria de ter conhecido ele antes. É a primeira vez que penso assim, mas gostaria de amá-lo. E agora, vendo por esse ângulo, percebo que por ainda amar o Lucas, eu perdi muita coisa, e continuo perdendo.

-Vamos nos beijar? - a voz macia de Samuel me tirou dos meus devaneios. Ele estava sentado à minha frente novamente. Seus olhos estavam sorrindo junto com sua boca. - Vamos nos beijar? - perguntou ele de novo, com mais animação.

-Va.... Quê!? - me perdi por um momento admirando seus lábios e quase respondi vamos. - Do que você está falando? - levei uma mão a testa em sinal de confusão e cansaço.

-Deveríamos nos beijar. - ele falou como se fosse algo comum.

- E Por quê faríamos isso? - perguntei.

-Precisa de motivo para duas pessoas se beijarem? - ele me encarou.

-Sim! Precisa!

-Ah, vamos, por favor. - me pediu com uma voz irritante e acriançada.

-Pare de agir como se fazer birra fosse adiantar. - o olhei, irritada. - me peça durante duas semanas e talvez eu pense no assunto! - falei isso para acalmá-lo, mas é claro que não vamos no beijar.

-Ok. Duas semanas. Todos os dias. - ele levantou-se. - e aí poderei sentir o seu gosto. - me lançou um sorriso brincalhão e andou em direção ao balcão, mas para no meio do caminho como se lembrasse de alguma coisa e retorna. - Eu... quero te mostrar uma coisa.

-E o que seria? - perguntei envergonhada pelo comentário anterior dele.

-Não se preocupe, me passa o endereço da sua casa, vou te buscar no sábado à noite.

-Hum... - desconfiei.

-Prometo que você vai gostar. - ele sorriu. Um sorriso sincero dessa vez.

-Tudo bem, então, mas sem gracinhas. - apontei.

Ele andou de costas e levantou os braços em rendição, depois virou-se e voltou a trabalhar. Fiquei toda vermelha e virei o rosto. Esbarrei o cotovelo nos papéis sobre a mesa e percebi que não havia escrito nada. Meu editor me matará. Droga.

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Coitada da Amora.... Mas uma perturbação assim né, até eu queria. Kkkkk☺😊 espero que tenham gostado desse capítulo, e até Quinta-feira, pessoas ❤😊

A Coadjuvante Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora