Capítulo XXXIV

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Dei uma boa olhada pela terceira vez no meu vestidinho jeans rodado azul, conferi meus sapatos pretos de couro e dei uma mexida no cabelo para ver se estava em ordem. Eu estava em frente ao prédio do evento, esperando Samuel chegar, ele estava atrasado, mas não fazia diferença já que eu também havia me atrasado um pouco. Fiquei observando a variedade de pessoas que entravam no prédio e sorrindo como de costume para elas, fico muito excitada nesses eventos. De repente, senti uma coisa cobrir meus cabelos, era um chapéu, virei-me para trás e me deparei com Samuel que usava um chapéu também. Peguei o meu em mãos e observei aquela fofura, ele era branco, tinha orelhas de gato, bigodes e um nariz preto. Voltei a colocá-lo. O que Samuel usava também era nesse modelo, mas tinhas as cores ao contrário do meu.

-Para que os chapéus? - pergunto, olhando para o dele.

-Só achei eles legais e resolvi comprar. - ele começou a observar ao redor.

-Obrigada. - sorri. Tirei da bolsa meu óculos redondo e fino de hastes prateadas e coloquei, Samuel olhou para mim querendo rir.

-Você é o que? Kara Danvers? - ele pergunta, rindo.

-Muito engraçado. - lhe dei uma careta. - eu só gosto do ar de pessoa inocente que eles me dão.

-Você já tem esse ar, não precisa de óculos para isso. - ele se aproxima e toca a ponta do meu nariz, tentei evitar ficar vermelha, mas não consegui. Desviei meu olhar para suas roupas e meu corpo se arrepiou ao ver seus braços definidos tão amostra.

-Te pedi para ser discreto. - falei desviando o olhar. Ele usava uma blusa branca sem mangas e uma calça de couro preta, que marcava também as suas pernas torneadas.

-Está calor. - ele me encara arregalando seus olhos pequenos e puxando sua blusa na tentativa de se refrescar, isso me fez suspirar. - Além do mais, não se preocupe, eu trouxe isso. - ele tira do bolso um óculos de hastes finas como o meu, mas de uma cor escura, que parece ferro. O coloca e de imediato sua boca fina e clara, quase rosa, se destaca junto com seus olhos pequenos. - você me pediu para trazer justamente por isso, não foi? - ele aproxima o rosto do meu com um sorriso malicioso.

-Ah, o quê? Claro, para o que mais séria? - gaguejo e quase não falo. Na verdade, pedi a ele que trouxesse um óculos, porque queria vê-lo de óculos e foi uma boa ideia. Mordo o lábio inferior admirando Samuel assim, mas saio dos meus devaneios e encaro o prédio. - Vamos? - suspiro.

-Vamos lá. - ele responde.

Assim que entramos naquele enorme espaço, deu para sentir o ar-condicionado misturado a atmosfera literária. Aqui estão reunidas coadjuvantes de vários lugares diferentes e também amantes de romance ou apenas pessoas comuns que acompanham meu trabalho, mas posso sentir que a maioria das pessoas aqui são coadjuvantes que se identificaram com os meus livros e sentem o mesmo que eu. Olho ao redor e vejo várias mesas com representantes meus para a compra do meu livro, vejo também o palco com a mesa para a coletiva de imprensa com a editora e a empresa que nos financia. Toda vez que os vejo sentados ali, sinto que lá nunca foi o meu lugar e sim, bem aqui, aonde estou agora, no meio do meu público.

-Você, por acaso, acabou de sorrir e olhar nos olhos de uma pessoa? - Samuel interrompe meus devaneios.

-Acho que sim, por quê? - o pergunto.

-Como assim, "por quê"? Você não faz isso, e foi por esse fato que você não me notou durante todo esse tempo no café. - ele franze o cenho para mim.

-Com meus fãs é diferente. Eu quero encará-los e saber exatamente que tipo de fã eles são. Por exemplo... - aponto para uma mulher bem-vestida e de sorriso fácil - Ela com certeza concorda com cada palavra do meu livro e é uma coadjuvante, por isso está aqui. - Agora, aponto para um rapaz muito bonito e de porte físico forte. - Aquele cara, que por sinal é muito bonito... - Samuel me olha com desdém - só está aqui porque não acredita que vai encontrar uma garota que o ame de verdade. - apontei para a próxima pessoa, uma garota jovem de pele limpa e baixinha. - Aquela adolescente está aqui, porque possivelmente conseguiu encontrar sentimentos em meus livros que ela jamais saberia o nome ou que sentiria aquilo.

-Hum. - ele cruza os braços e contrai o queixo, fazendo um biquinho.

-Quero entendê-los e saber no que posso ajudá-los, e isso é algo que só posso fazer se eles não souberem quem eu sou, entende? - pergunto.

-Entendo, acho que entendo. - ele me mostra um sorriso sincero. Ficamos nos fitando, mas um espirro meu quebra nosso olhar. - Você está doente?

-Que? Não. Eu só espirrei, é algo normal. - disfarço.

-Não tente me enganar, Amora. Eu vi você entrando na água, lembra? E do jeito que seu corpo é, isso já é motivo suficiente para você ficar doente. - ele contrai a boca. - sem falar naquele desespero que você passou...

É verdade, então, com certeza, vou ficar com febre daqui uns minutos, mas não posso ir embora, preciso resistir até o final. Já vim a muitos eventos como esse, mas é o primeiro que vou com coletiva de imprensa. Sempre tive uma certa aversão a coletivas de impressa por conta das perguntas, mas achei que dessa vez poderia perder o medo se Samuel estivesse comigo.

-A coletiva de imprensa já vai começar, por favor, vamos ficar. - peguei em seu braço e comecei a implorar que me deixasse ficar.

-Mas Amora, você já viu várias dessas, tenho certeza e não quero que desmaie aqui. - ele põe a mão por cima da minha e aquilo quase me convence a atender o seu pedido.

-Eu nunca vim a um evento desses que tivesse coletiva de imprensa, na verdade, sempre evitei coletivas. - olhei para todos aqueles repórteres chegando.

-Sério? - ele franze as sobrancelhas.

-Sério. Então, por favor! Só até a coletiva acabar... - junto as mãos, suplicando. Ele aperta os olhos na minha direção tentando resistir, mas não consegue, Samuel coloca a mão na boca e vira o rosto para o lado.

-Tudo bem. - ele diz, voltando-se para mim com a voz firme. - mas só até a coletiva acabar. - ele aponta com o dedo. Eu não fico animada porque já esperava que ele me deixasse ficar, mas lhe dou um sorriso.

Antes da coletiva começar ando um pouco entre as pessoas e converso com elas sobre meus livros, claro, tendo o máximo de discrição possível para que elas não percebam que estão falando com a própria autora. A cada passo que dava e a cada pessoa nova com quem eu iniciava uma conversa, sentia os olhares e os sorrisos que Samuel lançava em minha direção. Não pude ter certeza, mas acho que ele estava me admirando e eu gostei disso, normalmente, odeio ter pessoas me olhando como se eu fosse melhor do que elas, mas o olhar de admiração de Samuel não era assim, era mais um respeito profundo de igual para igual e eu me senti confortável com isso.

Todos começaram a se posicionar em seus lugares e as pessoas a se achegarem para assistir a coletiva. Nós também nos aproximamos o bastante para vê-los e ouvi-los bem, me aproximo mais de Samuel e começo a me sentir com frio, só não sei distinguir se é por conta da febre ou do medo do que vem a seguir.

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Curiosos para saber o que vai rolar nessa coletiva? 🙂 Garanto que vão ter algumas emoções... Kkkkk até segunda-feira pessoas 😍😘❤

A Coadjuvante Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora