Capítulo XLII

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Fiquei observando mais um pouco Samuel dormindo profundamente. Eu queria tomar café com ele, mas tinha que ir cedo para editora para implorar que esperem mais um pouco antes de eu assinar o contrato do novo livro. Andei com calma entre as estantes para não fazer barulho nenhum e acordá-lo. Quando cheguei perto do hall, notei uma porta ao lado que antes não tinha visto. Me aproximei, e nela estava cravado as iniciais "M.K", o que não fazia sentido nenhum já que o sobrenome da família de Samuel era Hyung. Comecei a pensar em quem teria um sobrenome com K, que poderia ter algo a ver com a família Hyung. Eles são bem famosos por causa do avô de Samuel, então esse sobrenome deve ter... parei de pensar nisso ao perceber de quem possivelmente eram as iniciais.

-Não pode ser.... - falei baixinho para mim mesma com um tom muito, mas muito incrédulo.

Corri até minha bolsa na sala e procurei uma chave que sempre levava comigo para aonde fosse. Uma chave que encontrei entre as coisas de minha mãe, mas nunca soube o que ela abria. Quando voltei, comparei as letras cravadas na chave com as da porta, assim tive certeza. As iniciais eram da minha mãe, Maggie Kalffman. Lembrei das palavras de Samuel no dia em que vim aqui pela primeira vez, me pedindo para não abrir uma porta que contivesse essas iniciais, mas agora que sei de quem elas são não posso atender a esse pedido. Abri a porta e entrei sem hesitar e sem pensar no que poderia encontrar ali dentro.

Paralisei ao ver um enorme mural de cortiça verde com fotos e pinos ligados, como aqueles quadros de delegacia. Quase todas as fotos eram do meu pai, e em algumas ele parecia mais velho. Corri os olhos até a escrivaninha e avistei papéis e anotações com a letra de minha mãe, também havia uma agenda com as suas iniciais. Por um segundo, achei que estivesse sonhando, nada fazia sentido, por quê minha mãe teria esse quarto aqui? Com essas coisas? Com fotos do meu pai? Me aproximei do quadro atordoada, sentindo meu corpo desfalecendo em confusão e com uma olhada mais detalhada daquelas fotos e nomes em vislumbres do que seria a letra da minha mãe, eu obtive respostas às minhas perguntas.

-Amora... - A voz cuidadosa de Samuel soou dentro do quarto e as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.

Me virei para ele, sentindo um pesar grande no coração e algo preso em minha garganta. Demorei um pouco para levantar os olhos e fitá-lo com tristeza.

-Por quê? - perguntei a ele.

-Porque ela precisava... e ela acreditava que você precisava também. - ele diz, com muito cuidado.

-Precisávamos? - meu tom de voz muda. - Do que nós precisávamos!?

-Amora... - ele andou dois passos à minha frente para me acalmar, mas eu recuei.

-Não! - balancei a cabeça com força - não! Não vou aceitar essa desculpa! Nós nunca precisamos dele, em nenhum momento!

-Amora, você não pode lidar com as coisas assim! - Samuel endireitou a postura e tentou manter o controle da situação.

-Assim como? Com o meu egoísmo?! Eu sinto muito, mas é assim que eu sou. Ela não podia ter feito isso, não deveria ter escondido de mim. Quanto tempo ela gastou nisso? Para que? Aquele tempo todo, todo o cansaço repentino... era porquê... ela estava trabalhando demais em encontrar o homem que nos abandonou! - enterrei as unhas no cabelo e andei de um lado para o outro, tentando amenizar o que estava sentindo, mas não dava. - Por quê? Para morrer e me deixar aqui perdida!

-Você não está perdida, Amora.

-Olha para mim. - o encaro. - não posso ficar com o cara mais incrível que eu já conheci, porque ainda amo o meu ex, mesmo depois de 8 anos e ele logo vai se casar com uma garota perfeita. - ri de mim mesma. - meu editor se apaixonou por mim e eu quebrei o coração dele, não consigo nem mais escrever meus livros que sempre foram minha salvação. Aliás, todos eles sempre foram uma mentira também, porque quem sou eu para escrever romances e ensinar as pessoas que elas podem viver sozinhas, quando eu nunca superei meu primeiro namoro? Eu precisava da minha mãe. E ela se matou para procurar um pai que eu nunca precisei! Eu queria ela! Não ele. Eu... - o choro preso na minha garganta saiu.

Samuel tentou se aproximar de novo, mas eu me afastei e ele me deixou sozinha com muita hesitação em fazer isso. Me sentei no chão, recostando-me na parede e chorei, chorei muito ao pensar em minha mãe perdendo dias e dias naquela escrivaninha a procura de alguém que não merecia ser encontrado, alguém que talvez nem quisesse ser encontrado. Tudo que eu menos precisava agora, era descobrir isso dessa forma. Meu corpo estava tão pesado que eu não sabia se conseguiria me colocar de pé novamente, então apenas fiquei ali, tentando entender os motivos da minha mãe para fazer isso, para trocar o tempo dela comigo, por uma procura inútil. Passei todo esse tempo, acreditando que minha mãe havia se cansado demais por minha causa, que ela trabalhava demais por minha causa, portanto, eu acreditava ter culpa em sua morte por colapso, mas agora vejo que minha mãe escolheu se cansar por isso, ela sempre teve um corpo frágil como o meu, mas por quê por isso? Por que tanto cansaço por ele?

Demorei um tempinho até parar de chorar e levantar novamente. Saí do quarto e Samuel estava sentado no chão, recostado na parede, ao me ver se levantou rapidamente. Não olhei para ele, mantive meus olhos no chão.

-Pode me contar? - perguntei, baixinho.

-O que quer saber?

-Tudo... por que aqui... Como começou... Por que ela escondeu de mim... tudo. - respondi.

-Claro. Eu... vou te contar tudo que eu sei.

Nos sentamos à mesa e ele me contou tudo que sabia. Samuel me disse que soube de tudo apenas alguns dias antes do avô morrer, que o avô lhe contou que minha mãe pediu a ajuda dele e ele ajudou mesmo achando que não era uma boa ideia, que minha mãe continuou procurando por muito tempo e sempre dava em alguma pista errada, contou que o avô dele começou a notá-la mais cansada e pediu que ela parasse com isso, mas minha mãe não quis parar, e ele me contou que no dia em que minha mãe morreu, ela havia encontrado uma pista que não parecia ser mentira daquela vez. Samuel sabia apenas isso, ele disse que seu avô não quis lhe contar o resto e que ele deveria descobrir por conta própria.

-Meu avô me falou de você e me disse para que eu deixasse você vir aqui quando estivesse pronta, mas eu nunca soube como fazer isso, nunca me parecia ser o momento certo para falar sobre o assunto, e fiquei com medo. - ele diz, meio pesaroso.

-De quê?

-De você achar que eu me aproximei só porque meu avô me pediu isso, mas eu já estava cativado por você antes dele me contar essa história, antes de eu saber de tudo isso. Fiquei com medo de você achar que não foi real... - ele olha para o chão.

Ele sempre faz isso quando está com medo de alguma coisa, - é um detalhe que notei com nosso convívio - mas eu não podia pensar nisso naquela hora, não havia mais espaço dentro de mim para nenhum outro sentimento, eu já estava transbordando com os sentimentos confusos que obtive. Fiquei em silêncio antes de lhe perguntar:

-Você sabe o que aconteceu naquele dia? - continuava a olhar para o chão.

Samuel suspirou e se levantou, entrou no quarto novamente e voltou com a agenda da minha, sentou-se de novo e a entregou para mim.

-Me diz você. - ele contraiu levemente os lábios.

Envolvi a agenda em mãos e então eu soube que depois de lê-la, não seria mais a mesma pessoa e nem a minha mãe seria mais a mesma pessoa para mim.

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Pesado o clima viu... Humm, o que será que tem na agenda? 😑
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