23ª Capítulo.

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Nós havíamos parado para descansar em um lugar qualquer,Carl nos oferece o pouco da comida que ainda havia sobrado.

— Pessoal. — Chamo a atenção de todos — A partir daqui acho melhor seguirmos nossos caminhos.

— Do que você está falando Kevin?. — Igor fala de forma assustada.

— Eu agradeço a ajuda de vocês,mas já estou perto de casa e acho que posso me virar sozinho. — Respondo.

— Kevin,ficou maluco?...sozinho você não vai durar nem 5 segundos. — Carl altera a voz.

— A única coisa que me mantem firme é...não sei... — Fico sem palavras.

— Aceitar a morte não é uma tarefa fácil,tanto quando perdemos alguém quanto esse alguém somos nós. Não se culpe só por não ter conseguido,algumas almas vem para cá no mesmo instante em que morrem e infelizmente elas não podem voltar,mas também não quer dizer que seja o fim. — Igor fala me encarando.

Ele se aproxima de mim e toca em minha testa...

— O que está fazendo?. — Pergunto.

— É para seu próprio bem...

E de repente um clarão se forma fazendo tudo ao redor desaparecer. E num piscar de olhos estou de volta ao mundo real,dessa vez em frente a uma casa até então desconhecida para mim.

Igor não era mais aquela criatura de braço único,eu o via como um garoto normal,talvez sua verdadeira forma.

...

— Poucas criaturas conseguem visitar o mundo real...e poucas ou nenhuma estão conscientes como eu.

— Essa é a sua casa?. — Pergunto.

— Era de um garoto que morreu afogado — Igor responde — Ele caiu no mundo das trevas e foi atacado por uma criatura.

— E esse garoto era você?.

— ...ele não morreu,mas se transformou em um monstro horrível...ele não era como as outras criaturas,sabia o que fazia e adquiriu um grande conhecimento,a pior parte é que não lembra nem o próprio nome.

— Então ele é você?.

Igor não responde,parece tentar...

— Foi ele que se transformou em mim...o medo de acordar e nunca mais poder lembrar dos seus conhecidos.

Essa frase me lembrou o que Carl disse no começo,as criaturas podem ser a manifestação do medo,do bizarro e da aflição das pessoas. Mas mesmo sabendo dessas coisas ainda era novo para mim.

— Esse lugar foi a única memória que restou.

— Eu ainda não entendi o motivo de me trazer aqui...

— Não foi o suficiente?. — Ele suspira.

Igor toca novamente em minha testa e assim como antes tudo ao redor desaparece. Dessa vez estávamos em um quarto de hospital,deitado na cama estava um homem...Carl...sustentado apenas por aparelhos.

— Talvez Carl não tenha feito uma escolha sábia de esperar a morte,mas tenho que admitir que o destino foi injusto com ele.

— Nada disso faz sentido. — Respiro fundo — Me trouxe aqui só para me fazer sentir pior?.

— Se concentre Kevin,a onde você quer estar agora?.

— Em cas...

Antes que pudesse terminar de falar sou arrastado de volta para minha casa,Igor está ao meu lado mas parece um pouco assustado. Corro até a varanda e da janela da sala vejo que não há ninguém ali.

— Eu te trouxe para esses lugares por um motivo. — Igor explica — Todos nós aceitamos as coisas como são,mas será que você consegue?.

Permaneço em silêncio...

— Você sabe a razão de não haver ninguém ai e também sabe onde estão nesse exato momento...no enterro do único filho.

— Não,não pode ser...

— Apenas aceite Kevin.

...

Eu apenas corria,tinha retornado ao mundo das trevas completamente em choque,Carl e Igor vinham atrás de mim. Depois de um tempo perdi os dois de vista,para chegar em casa fui pelo caminho mais longo que encontrei.

Eu precisava pensar e tirar algum desfecho disso tudo,porém era difícil sabendo de tudo pelo que passei até agora. Passo caminhando em frente a algumas lojas de roupas,os manequins das vitrines me davam arrepios. Muitos estavam com uma parte do corpo faltando e outras sem cabeça.

...estava prestando tanta atenção neles que não vi o perigo a minha frente...

— Olha só quem eu encontrei aqui...

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(Continua No Próximo Capítulo)

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