Rendição

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"O ciúme é um monstro que zomba da carne que consome."  - Willian Shakespeare

Malon King

Crane Country, Texas
Ano de 1992

- Malon, faz silêncio, sua mãe não pode descobrir que a gente fugiu! - Romani briga comigo.

Ontem Romani me convenceu a fugir de casa, e hoje eu fiz minha mochila e fugi pelo meu quintal, que divido com meus vizinhos. Eu e Romani estávamos andando a um tempo.

- To cansada, vamos parar e pedir água para alguém, eu esqueci de trazer a minha.

Eu e Romani decidimos entrar pela porta dos fundos de uma casa amarela. Por fora a casa parecia bem bonita, mas por dentro era meio bagunçada e meio fedida, bem diferente da minha.

Romani abriu as portas e andou até a cozinha, tudo muito silenciosamente, como se já conhecesse aqui. Pegou um copo de água para mim e outro para ela.

Ao sair, tenho uma visão para a sala, e lá vejo um homem, Romani me puxa e nos escondemos atras de uma pilha de livros e jornais que ficava no corredor. Ele está sentado no seu sofá sujo, sua barba estava pingando alguma bebida, e a sua regata deixa bem evidente sua barriga redonda e seu corpo peludo, mas o que me chama a atenção é a sua concentração enquanto prepara algo na sua mesinha de centro, ele parece um cientista fazendo misturas.

Parece que ele fazia algo interessante, já que quanto mais ele fazia, mais Romani apertava meu braço, me puxando mais para baixo, mas eu queria ver, então ia para cima. Estremeci quando ele pegou uma agulha, eu morro de medo de agulhas, o que ele pareceu não ter, já que espetou a agulha nele mesmo.

Sem querer acabo derrubando um livro, o que faz ele olhar para mim. Saio correndo segurando a mão de Romani, dou um grito quando percebo que ele corre atrás de mim. Ao sair da casa dele, corro em direção a minha, e ao olhar de relance para trás vejo que o homem corria atras de um cachorro, então estava só dando voltas pelo seu quintal, correndo igual um louco.

Paro Romani e ficamos paradas, de longe, olhando o adulto. E foi nesse dia que conheci o Agulha.


Pecos, Texas
Ano de 2005

Essa noite foi terrível, passei ela acordada aos berros, chorando como nunca chorei. Mary ficou ao meu lado, até ficar muito tarde e ela me pedir desculpas e ir dormir. Não ligo, cada um tem suas prioridades, e a minha era chorar por ele, a dela era dormir.

Estou no banco de pedra da praça na rua da frente da universidade, ele obviamente não foi feito para ficar horas assim como estou ficando, provavelmente as dores musculares virão mais tarde. Cuido para não bagunçar meu cabelo, não o arrumava desse jeito a meses, assim como meu rosto, que passou tanto tempo sem maquiagem que esse rímel está até me incomodando. Decidi vestir um vestido soltinho e florido, mas, já que esta frio, coloquei uma meia-calça e uma jaqueta jeans.

E espero.

Espero até dar o horário que fecha o Café, lá para as nove da noite. Vejo Harry saindo com Samantha, o choro vem até minha garganta mas eu o engulo. Harry não vai querer uma chorona. 

Mas quando Samantha se despede dele e vai embora, eu simplesmente não sei o que fazer. Me sentirei ridícula se gritar seu nome, mas também não me sinto capaz de simplesmente andar até ele, como se nada tivesse acontecido. Nenhuma das duas situações me é confortável, mas claramente não seria. Por que não usei essas minhas horas de espera para pensar nisso? Agora estou simplesmente tremendo de nervoso tendo que pensar rápido antes que Harry, que esta me olhando diretamente agora, vá embora e toda essa espera idiota for em vão.

No. 9 || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora