Meu corpo estava dolorosamente deitado na beira da piscina suja dos meus pais, com somente meu braço mergulhado, dividindo espaço com os insetos. Eu olhava o céu, já não tinha questões em mente ou pensamentos vagos e deprimentes, só pensava em uma coisa: acabar com essa dor. Meus pais provavelmente estavam, na cozinha ou quarto, conversando sobre como me mandar embora sem parecerem rudes.
Já meu namorado, ele estava calmamente lendo a bíblia na sala, e ele lia como se estivesse lendo uma revista. Me sentia sozinha também por ele estar a poucos metros de mim e não ter ido me consolar nem um segundo, nem ao menos me perguntar se estou bem. Ele estava calmo como não o via a muito tempo, principalmente levando em conta a confusão que havia acabado de acontecer.
Lembro da confusão que senti com a arma apontada para mim no começo desse mesmo dia.
- Pai? - repeti, com a voz mais alta, porém ainda tremula. - Papai, sou eu. - estiquei minha mão, querendo expressar calma, mas cada parte do meu corpo tremia, com medo do meu próprio pai.
Ele me encarava com horror, completamente estático.
- Jack? - minha mãe colocou a mão no seu ombro, com sua voz aveludada. - Abaixa a arma, é a Luh.
Depois que mamãe disse isso, foi como sair de um transe. Papai abaixou a arma, guardou e me mandou um sorriso nervoso.
- Luh, claro. - ele seca as mãos soadas na calça. - Filha, o que faz aqui? Você me assustou, pensei que tivessem invadido a casa.
Eu apertava a mão do meu namorado na esperança de me transmitir força para questionar meus pais. Mas eu nunca fui uma pessoa de voz ativa, e mesmo agora, com tantas perguntas na minha mente, elas não conseguiam sair de lá.
Minha mãe abre um sorrisão e empurra meu pai, ainda meio confuso, para dentro de casa. Ela tranca a porta e anda até mim.
- Desce daí, filhota, vem, vou preparar um chá para você. - E vai para a cozinha.
Harry percebe meu choque, e desce as escadas na frente me guiando, e me senta no sofá, de frente para o sofá onde meu pai se sentou. Ficamos muitos segundos em completo silêncio, se olhando.
- Filha, sei que você deve estar confusa, nós também estamos... - meu pai começa a falar, mas é interrompido pela minha mãe, que volta da cozinha.
Minha mãe estava atuando, e eu e meu pai reconhecíamos quando ela fazia isso. Na minha idade, antes de casar com meu pai ela costumava atuar em peças amadoras, e isso foi útil anos depois para se inserir na vida superficial da elite texana. Sorrindo e escondendo a sujeira.
E ela estava fazendo exatamente isso agora comigo, sorrindo, atuando, tudo para esconder a sujeira. Mas eu não sou suas amigas fúteis da igreja.
- E quem é esse bonitão ai? - ela diz chegando na sala com os chás, dou um gole no meu.
- Sou Harry, eu e Malon nos conhecemos na HMU. Começamos a namorar depois que ela voltou da clínica.
Minha mãe ergue as sobrancelhas quando Harry menciona a clínica.
- Oh... A clínica, sim... - mas ela volta a sorrir. - Você parece ser encantador, Harry, fico feliz que Malon tenha encontrado alguém assim. Alguns dias atrás eu e o pai dela estávamos conversando e....
- Cala a boca. - finalmente digo, lhe cortando.
- Filha. - meu pai me repreende.
- Meus sinceros vão se foder.
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No. 9 || h.s
Mystery / Thriller"Falam que somos loucos, mas com um amor como o nosso quem não seria?" O amor te destrói? Se o mundo é um penhasco frio e lá embaixo você vê um campo de flores, quem se jogar é uma suicida em pró do amor? Aqui conto a história de Malon King, uma s...