Diferente do primeiro festival que John tinha participado, o festival de inverno era menos colorido, era menos delicado, mas parecia mais quente, as roupas que os lobos usavam eram mais pesadas, mais peles, menos adornos floridos no cabelo. Mais bebidas quentes e lugares mais fechados para os lobos aproveitarem.
O "palco" estava diferente, ao invés do pequeno círculo da última vez, o espaço era maior, tinham estacas de madeira fincadas no chão, algumas sendo usadas como tochas, mas com grandes espaços de uma para a outra, sem atrapalhar as passagens para os lobos, e nem a ponto de fazer um enorme círculo de fogo.
Tinham peles em volta, do círculo, alguns bancos de madeira, outros eram toras, e algumas cadeiras de fato. Eram vários espaços para os lobos ficarem, se aquecerem perto um dos outros, e verem o que fosse acontecer ali naquele palco de perto. Perto dali a mesma cabana onde John e Etton tinham dado seu primeiro beijo, onde o ômega ficou bêbado pela primeira vez e onde deixou várias pequenas flores caídas ao chão. E John, sendo o esposo do líder, tinha um espaço separado, logo a frente daquele palco, perto de Sydan e Dyran, que sorriram ao ver o logo negro acompanhado dos dois amigos.
Entretanto, Aeni preferia assistir de longe, com receio do barulho da música que viria assustar seus pequenos filhotes. E os outros dois ômegas entenderam, indo se sentar ao lado do antigo casal de líderes. Jyne falava, um tanto empolgado, sobre como o festival seria divertido, como aproveitariam depois da dança e que sentia por John não poder beber, mesmo que na verdade só quisesse fugir de sua própria cabeça, não queria pensar em seus pais, não queria ver eles o encarando de longe, esperando algo de Jyne que nem ele mesmo entendia mais o que era.
O lobo negro não prestou muita atenção no que o amigo dizia, apenas assentia com a cabeça. Estava mais concentrado no círculo de madeiras, no vento frio batendo em seu rosto, ou a leve sensação de seus filhotes mexendo dentro de si, como se já estivessem no mundo de fora, tão interessados quanto John no que iria acontecer ali.
Era seu primeiro inverno ali, com os lobos, era o primeiro festival de inverno, era a primeira vez que sentava-se no meio de peles, via as flores de outono começando a cair e começava a sentir mais uma vez o frio começar a tocar seu corpo. Se perguntava como os lobos se aqueciam nessas épocas, se as termas em que se banhavam continuavam quentes, se dormiam com mais peles do que já costumavam dormir. Mas tinha que admitir que as roupas eram confortáveis, pensavam um pouco, de fato, mas eram confortáveis mesmo para si que já carregava um peso maior do que estava acostumado.
TUM. Todos pararam de conversar ao ouvir o som da batida grave vindo do tambor. Um lobo, com um tambor preso aos ombros, duas hastes de madeira, baquetas, nas mãos e a roupa que John reconheceu.
Era parecida com a roupa da dança que tinha acontecido em seu casamento. Usava uma espécie de bota, de pelos, marrons acinzentados, que ia até abaixo do joelho, acima uma espécie de "tanga" entretanto comprida e grossa, feita das mesmas peles das botas, o torso desnudo, com pinturas em vermelho e branco, no antebraço tinham as mesmas peles, quase como uma proteção. Na cabeça, os cabelos soltos, do lobo que John via, cabelos negros e ondulados, compridos, até sua bunda provavelmente. Mas o principal, a face coberta, por um crânio com peles em cima, não conseguia ver o rosto do lobo, pela cabeça baixada dele.
TUM TUM. O lobo voltou a batucar, e começou a andar, revelando atrás de si outros lobos vindo com ele e John conseguia sentir no ar e o cheiro de ativos, alfas e betas. Os primeiros carregavam instrumentos, a maioria tambores, fazendo o som grave, outros tinham algo menor, como uma espécie de chocalho, que toda vez que andavam balançava, complementando o som.
Mas John parou de prestar atenção nos outros lobos quando seus olhos encontraram Etton. Não conseguia ver o rosto dele por completo, por causa do crânio, aparentemente de lobo, que tinha sobre a cabeça. Provavelmente algum ancestral. Mas reconhecia o corpo de seu marido, além de seu cheiro. O líder da alcateia estava bem na frente e ao centro, tomando a atenção de todos. O lobo negro reparou que a pintura de seu corpo era diferente da dos que estavam tocando. Tinha três bolas grandes brancas embaixo da clavícula em cada ombro. Uma linha vermelha que vinha do começo da sua barriga até o começo de seu queixo e uma branca delimitando sua mandíbula. Nos braços tinham três faixas, uma branca, uma vermelha e uma negra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Wëllef
WerewolfO mundo sempre foi diferente aos olhos de John, ele nunca entendeu bem como as pessoas agiam ou deixavam de agir, como se aquele mundo não fosse dele. Após um ato de bravura e loucura sua, ele acabou descobrindo que aquele realmente não era seu mund...