PRÓLOGO

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A noite estava perfeita. Era um dia quente de primavera, mas a brisa noturna impedia que todos ali suassem aos pingos. O clima descontraído e leve contagiava os presentes no baile animado. A atmosfera promissora refletia os sentimentos de cada um que ali dançava ou conversava sobre assuntos sem qualquer importância.

Não diferente dos outros convidados, lady Sophia Holland esboçava sorrisos largos a todos que vinham lhe cumprimentar e suspirava a cada indício de uma nova música. Ela já havia dançado com todos os rapazes solteiros que vieram lhe abordar, além de mais alguns casados – como um de seus tios que aparecera inesperadamente.

Mas nenhum deles chegou perto de chamar tanto a sua atenção como aquele que caminhava em sua direção no momento. O homem era esguio, os cabelos tão negros quanto os dela e o sorriso... Ah, aquele sorriso parecia conter mil promessas em apenas uma curva sutil. Era o tipo de sorriso destruidor que as damas tanto falavam. Ela se tremeu da cabeça aos pés.

Quando ele se aproximou, pegou a mão enluvada dela e depositou um longo beijo, a dama achou que seu coração iria explodir tamanha era a velocidade – e intensidade – de seus batimentos. Os olhos dele cravaram-se nos seus como garras de um felino carinhoso.

– Boa noite, milady – ele fez uma mesura. – Chamo-me Thomas Litford, mais conhecido como o mais novo Lorde Cottingley. É uma honra enfim conhecê-la e comprovar tudo aquilo que me disseram.

– Perdão? – ela conseguiu perguntar após uma acentuada mesura.

– Ora, muito tem se falado que a beleza de lady Holland é capaz de fazer até os nobres mais egocêntricos ajoelharem-se aos seus pés.

Ele tirara-lhe a capacidade de formular qualquer palavra. Sophia apenas conseguiu abrir a boca em surpresa e sorrir para, depois, deixar uma leve e sutil risada ser solta.

– Agradeço a gentileza, milorde, mas duvido que isso seja verdade. O senhor provavelmente deve estar falando da outra lady Holland, a duquesa.

Ele esboçou uma expressão incrédula e divertida. A breve conversa já estava atraindo a atenção alheia pelo vasto salão e, discretamente, as pessoas lançavam seus olhares curiosos na direção dos dois. Por isso, Cottingley puxou-a para um canto mais reservado ao lado da mesa de bebidas.

– Pois saiba que eu, como um homem honesto, nunca seria capaz de mentir sobre algo tão sério. Não estou desmerecendo a sua mãe, ela é de fato muito bonita, mas permita-me dizer, milady: a sua beleza é a coisa mais fascinante esta noite. E fica ainda mais aparente quando está dançando.

Lady Sophia envolveu aquelas palavras e as guardou em sua mente para, mais tarde, saboreá-las. Ninguém nunca havia lhe dito coisas assim e, quando Thomas Litford as pronunciou, seu coração pareceu parar de bater por um momento.

– Sendo assim, eu lhe agradeço imensamente. O senhor...

Sua fala foi subitamente interrompida pela chegada repentina de um rapaz jovem que, em menos de um segundo, prostrou-se ao seu lado e pigarreou alto o bastante para até as senhoras surdas ouvirem.

– Ando procurando você em todo esse maldito salão, Sophia! Por que foi inventar de se enfiar nesse... Ai! – ele reclamou ao sentir a menina beliscar seu braço com força.

– Oliver, meu querido irmãozinho, conheça o visconde de Cottingley. Milorde, esse é o meu irmão caçula, Oliver Holland. Desculpe-me pelos modos dele, mas desde que fez 15 anos, ele acha que pode falar o que quiser.

– Não precisa se desculpar, lady Sophia, eu mesmo já passei por essa fase. Seu irmão certamente não é o primeiro e nem será o último rapaz a falar o que pensa.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora