Capítulo 22

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11 de dezembro de 1823

Mansão Everleigh, 09h49min.

— Sophia! — a voz espantada de Peter fez com que ela parasse no meio do caminho e se direcionasse para o outro lado do corredor.

Ele estava parado, sozinho, com os braços inertes e os olhos desesperados. Ao observá-lo ali, tão vulnerável e desolado,  ela lembrou-se do garotinho de onze do qual cuidou. O mesmo que só queria chorar em seu colo quando caiu de uma árvore. Mas dessa vez a dor que ele sentia era diferente. Era de um tipo novo para Peter, uma dor crua e lancinante, difícil de curar e esquecer. E não tinha remédios, ervas ou pomadas para curá-la. Sophia sentia-se uma inútil frente ao menino que sofria pelo amado pai. A única coisa que ela poderia fazer era estar ao seu lado, consolá-lo e ouvi-lo.

— Peter — o sussurro permeou pelos metros de distância que os separavam.

A força que o mantinha em pé se esvaneceu no momento em que ele ouviu a voz dela e, antes que caísse com tudo no chão duro e frio, Sophia o alcançou e abraçou desajeitadamente.

— Shhh — ela afagou seus cabelos, que já precisavam de um novo corte. — Eu estou aqui.

— Soph... e-eu... me-meu pai...

Ela apenas continuou com os braços o envolvendo em um embalo tranquilizante, sentindo os soluços dele atravessarem-lhe o corpo enquanto seu coração se comprimia. Ela odiava vê-lo assim, por mais que soubesse que não havia nada para fazer.

O garoto não precisou falar nada, ela imediatamente soube pelo seu choro incessante e pelo clima da casa. Nunca tinha visto aquele lugar tão silencioso e sombrio, a vida que sempre emanava dali já não estava mais presente. Nem um resquício sequer. Porque era o luto que conquistara cada canto, móvel e parede. O barão se fora.

Seu pensamento foi direto para Carter, que devia estar pior do que o irmão. Ele provavelmente precisaria dela, de alguém para lhe fazer companhia nessa hora. No entanto, ela sabia que Eleanor também estaria no quarto e que os dois precisavam de um momento a sós de mãe e filho. Sophia o procuraria mais tarde. 

— Quer que eu lhe prepare um chá? — ela perguntou baixinho quando Peter parou de soluçar.

Ele balançou a cabeça.

— Eu quero meu pai. — Seu olhar quebrado se fixou nela, que apenas o apertou mais forte. — Eu... não entendo. Por que ele me deixou agora? Eu achei que... que ele me ensinaria como ser um barão. Ele prometeu, Sophia. Meu pai prometeu pra mim.

Ela engoliu em seco e deixou as lágrimas rolarem enquanto o pequeno Peter desabafava.

— Ele deveria ter ficado. Não é isso que bons pais fazem, ficam com seus filhos? Eu não tive tempo de aprender nada, não tive... tempo. E daqui a alguns anos eu não vou nem mesmo me lembrar de como ele era, de como ele brigava comigo ou me parabenizava por algum exercício. Até o seu rosto já está sendo difícil de se lembrar agora, como será daqui a dez anos? Eu não terei nenhum pedaço do meu pai comigo enquanto todos que eu conheço têm um. Sophia — ele mordeu o lábio. —, como eu vou crescer sem meu pai?

Ela não soube como responder. Algumas pessoas eram como Peter, tinham um pai atencioso, gentil e amável, mas que se foi cedo. Outros tinham sorte e só diziam adeus depois de muito tempo. Mas o caso de Sophia não era nenhum dos dois, ela sentia que nunca teve um pai de verdade. O duque não poderia ser considerado um, já que nada do que ele fazia era para ela e para a felicidade dos filhos. Ele era apenas o homem que lhe deu a vida e, por isso, achava que poderia controlá-la. Nada mais. Então, ela sabia muito bem o que era crescer sem um pai, mas não sabia como era perder um.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora