Capítulo 9

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26 de julho de 1822.

Casa dos Everleigh, 01h27min.


Antes que os lábios de Carter pudessem tocar os de Sophia, um barulho ensurdecedor fez com que os dois se separassem imediatamente. Uma dezena de frascos medicinais se espatifou no chão do cômodo e líquidos de diferentes cores se misturaram e expandiram até chegar às botas do causador da catástrofe.

— Ops. — Edmund manteve os ombros encolhidos e no rosto um sorrisinho que muito se assemelhava ao de Peter quando fazia alguma besteira.

— Ed, o que você está fazendo? Quer acordar a casa inteira?

— Eu só queria ver o que estavam fazendo... estou tão entediado. E cansado.

Era perceptível que Sophia estava com medo de que alguém tivesse acordado por causa do barulho. Por isso, Carter segurou a sua mão – sem se importar com o que o outro homem pensaria – e lhe agradeceu por seu cuidado com o ferimento.

— Vou cuidar desse daqui agora. Descanse um pouco, Srta. Ashworth.

Antes que ele se virasse para ir embora, sentiu os dedos dela envolverem seu antebraço. O toque provocou um arrepio excitante em sua coluna. Mas quando encarou o rosto da mulher, percebeu angústia e apreensão. Algo perturbava a alma dela e, infelizmente, ele não soube decifrar o que era.

— Por favor, me chame só de Sophia.

Surpreso com o pedido dela – que praticamente abria uma porta para uma maior intimidade entre os dois – Carter só pôde observá-la sair da enfermaria com seu roupão e os cabelos oscilando pelas costas esguias. Ficou calado por um minuto, imaginava que não conseguiria formular nem uma palavra sequer.

— Como é se apaixonar? — a pergunta lhe tirou do transe.

— O quê?

— Como você se sente quando está apaixonado? – perguntou seu amigo. – Nunca me senti assim e claramente você está passando por isso no momento. Eu só gostaria de saber como é a sensação.

Carter culpou a bebida. Apenas o álcool poderia alterar tanto a habilidade de percepção de Edmund naquele momento.

— Não estou apaixonado — disse enquanto o ajudava a subir as escadas em silêncio.

Os olhos escuros de Ed se arregalaram e ele precisou colocar a mão à frente da boca para abafar o riso e não causar mais barulho na mesma noite.

— O que foi? —perguntou Carter entredentes, a raiva começando a aparecer.

— Essa foi a pior mentira que você já me disse. Olhe só para essas bochechas vermelhas — ele indicou as maçãs do rosto dele. — Isso só quer dizer uma coisa.

—Quer dizer raiva. E o seu daqui a pouco vai ficar da mesma cor, mas eu garanto que não vai ser pelo mesmo motivo.

Edmund abriu um sorriso maior ainda ao entrar no quarto. Ele sabia que Carter não iria bater nele, não quando estava tão bêbado que não conseguia ficar em pé.

— Não, Carter, isso quer dizer amor — e, antes de fechar a porta, acrescentou: — Não a deixe escapar, irmão. Acho vocês bonitinhos juntos.

E, obviamente, Carter fora dormir pensando naquelas palavras. Quando acordou, não se surpreendeu pelo fato de que a primeira coisa que lhe surgiu na mente foi o rosto de Sophia. Então algo se iluminou dentro de si, a verdade já não poderia ser mais escondida. Seria uma tolice continuar mentindo para si mesmo. Agora ele não pensaria duas vezes, não iria fugir nem desistir: revelaria seus sentimentos para Sophia. Naquele mesmo dia, ele falaria tudo o que seu coração implorava para extravasar.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora