Capítulo 17

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14 de novembro de 1823

Estrada a caminho da mansão Everleigh, 20h48min.


— Carter? — sua voz saiu trêmula.

— Sophia — a intimidade daquele tom e a rouquidão na voz fizeram com que a pele dela se arrepiasse.

Não era ilusão. Sua mente não estava lhe pregando peças. Porque bem à sua frente estava ele, beijando a sua mão em cumprimento. Aqueles lábios macios em contraste com a barba por fazer tocavam-lhe a pele com a lembrança dos dias em que passaram juntos há mais de um ano.

— Como?

Ele sabia o que ela queria dizer.

— Edmund e eu nos comunicávamos sempre que podíamos. Um dia ele me mandou uma carta dizendo que Peter iria embora para Eton e que eu provavelmente não o veria por um bom tempo, até pelo menos as próximas férias dele. Então eu resolvi visitá-lo uma última vez.

— Visitá-lo uma última vez? Houveram outras? — a desconfiança começou a rondá-la.

Carter deu um sorrisinho culpado e abaixou a cabeça, os cabelos louros caindo nos olhos.

— Eu não ia conseguir ficar longe de Peter por muito tempo, ele não teve culpa de nada. E... é o meu irmão. — Ele a encarou com diversão. — Confesso que não foi muito fácil, você estava mais rígida que o normal, não o deixava sair para o vilarejo nunca.

— Ele agora tem mais responsabilidades... — ela começou a defender-se. — Então ele ia toda hora lá apenas para te encontrar?

— Bom, não só por isso. Peter gosta muito de conhecer pessoas e eu apenas o acompanhei. Pode ficar tranquila que não deixei ele fazer nenhuma burrice ou se meter em confusão. Foi difícil, mas consegui.

Ela não o acompanhou na risada.

— E onde ficou esse tempo todo? Não o vi uma vez na propriedade dos Everleigh.

— Porque eu não passei por lá.

Ela ia falar mais alguma coisa, mas percebendo que ele não iria dizer-lhe mais nada, desistiu.

— Como sabia onde eu estava?

— Conforme eu havia dito, Ed me avisou tudo, inclusive que a senhorita não iria ficar mais com o barão. Ele não sabia dizer nas cartas, mas quando o encontrei hoje à tarde, depois de você já ter partido, ele me disse para onde estava indo e com quem. Edmund não conhece os criados tão bem quanto eu, então não sabia o perigo que você estava correndo e nem o lugar imundo para onde iria. No que estava pensando, Sophia?

Ela não sabia dizer. Pensava que Lydia fosse uma boa pessoa, talvez até uma futura amiga. A criada havia sempre lhe tratado bem e nunca tinha dado nenhum indício que faria algo tão horrível assim com ela.

— Eu não entendo. Lydia sempre foi uma ótima pessoa comigo, não sabia que era capaz de ter me arrastado até aquele local.

Carter suspirou e apoiou os braços nas pernas, chegando o rosto mais perto do dela.

— Ela não era uma pessoa má, e eu acredito que continua não sendo, mas não teve uma vida uma boa e acabou conhecendo a dona daquele bordel. A francesa lhe ajudou muito e, com isso, ela ficou em dívida, passou a trabalhar lá todas as noites. Mesmo depois de ter conseguido um emprego com o barão, Lydia continuou devendo muito a Madame Beaulieu. A senhora está sempre precisando de novas cortesãs, por isso propôs a ela que lhe encontrasse mais e, em troca, Lydia poderia quitar a sua dívida e ganhar algumas moedas se continuasse ajudando. Desde então, ela vem conseguindo novas mulheres para para trabalhar naquele lugar. Você foi apenas mais uma que caiu na armadilha.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora