Capítulo 15

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27 de agosto, 1822.

Em uma velha estrada de Wiltshire, 20h16min.

O vento forte cortava seu rosto com fúria, levando seus cabelos para todas as direções possíveis. Seus olhos tiveram que semicerrar para ele conseguir ver a sua frente de forma clara, mas mesmo assim a tarefa continuava árdua. Pequenos grãos de poeira que o cavalo levantava faziam-nos arder em desconforto. No entanto, ele não se importava.

Sua mente estava à mil, os pensamentos mais rápidos que o animal que o levava para longe, o coração mais caótico que a estrada sob os cascos do cavalo. Todas as lembranças recentes apareciam desordenadas enquanto ele tentava focar no caminho, para onde ia. As mentiras não o largavam, apenas enfiavam cada vez mais forte as garras em sua mente, não deixando que ele pensasse em qualquer outra coisa.

Carter só queria saber como inalar ar puro outra vez. Queria descansar por dias seguidos, não pensar nos problemas nem no que havia deixado para trás.

Sua mãe. Seu pai. Seu irmão. Sophia.

Não havia como ele ficar lá, mesmo que amasse cada um deles. Tentar negar seus sentimentos não ajudaria em nada, apenas pioraria toda a situação. E Carter não estava com vontade nenhuma de que isso acontecesse.

E seu peito só havia doído tanto exatamente porque ele os amava demais.

Sentindo a noite recaindo sobre si, Carter começou a procurar algum lugar para dormir. Ele tinha levado uma parte de  economias na mala, portanto, não precisaria se preocupar muito.

Mas quando o cavalo diminuiu a velocidade, ele sentiu algo estranho na estrada, mais precisamente atrás dele. Uma sensação angustiante lhe percorreu e um arrepio que teve início em suas costas foi até os braços que seguravam as rédeas.

Virando a cabeça rapidamente, para não perder a direção do caminho, Carter tentou fazer com que seus olhos conseguissem discernir alguma imagem fora do comum. E não foi diferente.

Entre as árvores sinuosas, uma figura masculina tremulava junto ao vento em cima de um cavalo tão grande e majestoso quanto o de Carter. E ele estava se aproximando cada vez mais.

— Vamos, Athos, não desacelere agora. Por favor — sua voz saiu baixa e arranhada ao se dirigir ao animal.

Apesar dos diversos carinhos que ele fez na crina de Athos, o cavalo estava cansado demais para galopar mais rápido. O vento que arranhava o rosto e cabelos louros de Carter foi perdendo a intensidade ao passo que o som de cascos aumentava em seus ouvidos, fazendo seu coração disparar. Ele estava sendo seguido.

Mesmo com o frio noturno, sua testa começou a suar conforme ele tentava pensar em uma saída. Mas nada lhe vinha à cabeça, então ele apenas decidiu tentar pegar um atalho para a estalagem mais próxima que, segundo a sua memória, estava a menos de seis minutos de distância.

— Desculpe, amigão — ele lamentou ao cavalo quando bateu levemente com os pés na lateral do animal, fazendo-o acelerar em direção às árvores que ladeavam a estrada.

Por alguns segundos, pareceu que ele tinha conseguido fugir dos olhos de seu perseguidor. Porém, quando ele estava quase suspirando de alívio, ouviu um grito ecoar pelas copas das árvores. Um grito grave e forte.

A única coisa que Carter conseguiu fazer foi continuar a cavalgar até chegar a um caminho sinuoso que lhe traria de volta ao caminho de terra. Em menos de dois minutos, ele conseguiu ver a hospedaria. Não que isso fosse afastar o homem que lhe perseguia, mas pelo menos lá ele teria outras pessoas ao seu redor. E elas seriam testemunhas do que quer que aconteceria com ele.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora