Capítulo 4

2.4K 215 37
                                    



20 de Julho de 1822
Casa dos Everleigh, 4h48min

O cheiro dele estava por toda parte. Ao deitar-se na cama do homem cujo nome ela ainda não tinha a menor ideia, Sophia sentiu um cheiro masculino cítrico de limão e sabão invadir suas narinas. Assim ela foi dormir e assim ela acordou: com o nariz enfiado no travesseiro e cercada por essa áurea envolvente. Era viciante e reconfortante... mas também a deixava um pouco consternada com a situação.

Ela estava mesmo gostando de ficar emaranhada naqueles lençóis cheirosos? Justo ela, que estava tão determinada a ser dura e nada receptiva em relação aos homens?

— Eu devo estar ficando louca — murmurou para si mesma antes de fechar os olhos e dormir serenamente.

Depois de algumas horas, seu sono tranquilo foi brutalmente interrompido quando alguém bateu na porta do quarto – que ela havia trancado na noite anterior. Assustada, Sophia sentou-se na cama e deixou a coberta cair em seus quadris. Os olhos castanhos cravaram na madeira escura, onde as batidas continuavam, como se ela pudesse ver quem estava do outro lado da porta se encarasse por muito tempo.

Obviamente não foi isso que aconteceu.

— Carter? — uma voz feminina surgiu abafada.

No mesmo instante, Sophia sentiu o coração bater mais rápido.

Aparentemente, o homem se chamava Carter e tinha uma namorada que o estava procurando. Mas se a mulher a visse ali no quarto dele, ele estaria muito encrencado. E seria tudo culpa de Sophia.

Ela foi até a janela e puxou um pouco a cortina. O céu estava clareando ainda, o sol nem ao menos nascera.

— Carter Williams, acorde já!

Oh-oh. Ela estava furiosa.

Sophia não sabia o que fazer. Seus pertences estavam em uma cadeira ao lado da cama e foi exatamente para lá que ela se dirigiu. Quando já havia colocado o seu vestido da noite anterior e pego seus outros pertences, ela resolveu tentar escapar pela janela. Provavelmente não se machucaria, afinal, estava no andar inferior.

No entanto, um barulho na fechadura surgiu, indicando que uma chave fora inserida ali. Com um clic assustador, a porta abriu.

Uma mulher pequena caminhou até o centro do quarto e parou quando a luz do Sol invadiu seu rosto. Logo Sophia reconheceu aquelas feições.

— Sra. Williams?

— Srta. Ashworth? — seus olhos arregalaram em espanto para depois se tornarem duros como aço. — Não me diga que meu filho fez isso. Não me diga que ele a seduziu em seu primeiro dia na casa.

— O quê? — Sophia sussurrou, não acreditando naquilo que estava ouvindo.

— Eu sabia que Carter tinha gostado da senhorita, estava óbvio. Mas levá-la para a cama no mesmo dia? Eu não lhe ensinei a se comportar dessa maneira. Não acredito que ele tenha feito uma...

— Não! — a menina a interrompeu antes que ela continuasse o falatório e a deixasse mais constrangida ainda. Suas bochechas estavam tão vermelhas que até os morangos mais maduros sentiriam inveja de sua cor naquele momento. — Desculpe, Sra. Williams, mas aconteceu um pequeno imprevisto em meu quarto ontem à noite e seu filho gentilmente ofereceu o dele para mim. Seu filho deve ter passado a noite em algum outro quarto, suponho.

— Ah! Eu pensei... — ela pareceu envergonhada com o que tinha dito antes. — Então ele não...?

Sophia negou balançando a cabeça que nem uma desesperada. Para ser sincera consigo mesma, ela nem ao menos sabia o que queria dizer de fato "levar para a cama". Mas ela suspeitava que era algo relacionado ao que acontecia com os casados na noite de núpcias. Ou seja, algo que não deveria ser comentado pelas damas.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora