Capítulo 16

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08 de novembro de 1823

Casa dos Everleigh, 16h19min


Se Sophia achava que cuidar de um garoto de onze anos era um terror, não fazia ideia da dor de cabeça que um de treze poderia causar.

Já eram mais de quatro horas da tarde e ela ainda não havia visto Peter naquele dia. Quando foi tomar o café da manhã mais cedo, o garoto já tinha sumido de sua vista. Infelizmente, aquela situação não era tão incomum assim nos últimos meses.

Ela estava parada no caminho de cascalho, debaixo da mesma árvore que o filho mais novo do barão tinha caído há mais de um ano. Seus braços estavam cruzados e os lábios franzidos. Ela tentava demonstrar irritação, mas era pura aparência. Sabia que nada disso adiantaria.

No entanto, quando a poeira no horizonte levantou junto com alguns tufos de grama, ela teve que fazer essa expressão. Pelo menos para não perder um pouco de dignidade. E talvez para fazer com que ele sentisse um mínimo de arrependimento por não ter lhe avisado antes. Tudo bem que era sábado e ele tinha o dia livre, mas... ela era responsável por ele e tinha de saber para onde o futuro herdeiro fora.

Quando ele chegou perto o bastante para ouvi-la, ergueu os braços em rendição como se já soubesse o que ela iria dizer. Porém, com isso, as rédeas do cavalos caíram soltas. Sophia arregalou os olhos, perdendo a compostura.

— Peter! Você perdeu o bom senso? Pare logo esse cavalo! — exigiu.

Peter estava rindo enquanto descia do animal, que por sinal ainda estava em movimento.

— É bom vê-la também, Soph — ele disse galanteador, curvando-se sobre a mão dela.

Sophia tentou muito voltar à expressão de aborrecida. Tentou mesmo.

— Aonde o senhor estava?

— Ah, só cavalgando por aí. Fui visitar os fazendeiros da propriedade, soube que um deles estava com um problema no galinheiro.

— E isso levou a manhã e a tarde toda?

— Bom, galinhas não são animais muito fáceis de lidar... — ele deu de ombros. — Posso ter passado um tempo no vilarejo aqui perto também.

— Peter! — Sophia pressionou o nariz com o indicador e o dedão. — Já falei milhares de vezes que não é para você sair assim tão longe sem me avisar. Você está crescendo e precisa saber que terá...

— Responsabilidades cruciais para o futuro do baronato — ele repetiu de forma monótona. — Já sei, já sei. Mas não posso fazer nada se você é preguiçosa e só quis acordar depois das dez horas da manhã.

— Fiquei ocupada até tarde.

Era verdade. Ela passara a noite inteira pensando no melhor jeito de responder a última das raras cartas de seu irmão. Como ela poderia omitir a verdade e ao mesmo tempo desabafar em uma só correspondência? Não encontrou a resposta nem depois das três horas da madrugada.

Peter deu de ombros.

— O que importa é que eu voltei. E nem demorei muito dessa vez.

Antes que ele pudesse lhe dar as costas, Sophia segurou seu braço. Ela reparou que ele havia crescido vários centímetros desde que o conhecera há mais ou menos um ano. Assustadoramente, Peter estava ficando cada vez mais próximo de seu tamanho.

— Não. O que importa é você estar vivo e bem... e não nos preocupar com seus desaparecimentos. Se continuar assim, irei ter cabelos brancos antes dos vinte e cinco anos!

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora