Capítulo 6

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21 de Julho de 1822

Casa dos Everleigh, 16h27min


As nuvens que tomaram conta do céu na tarde seguinte fizeram o humor de Sophia um pouco mais sombrio do que minutos antes. A cor cinza que se apossava do dia e o vento que ainda se apresentava suave só podiam indicar que a noite seria chuvosa. A breve mudança de clima contribuiu para que ela ganhasse coragem e fosse se reunir com o barão e a baronesa. Eles precisavam saber o que acontecia com o filho e, mesmo que a mulher admitisse que sabia de tudo, era o dever de Sophia contar-lhes que ela nunca faria aquilo. Peter era apenas uma criança, por Deus!

— O que você vai fazer? — ele perguntou, acompanhando os passos dela.

O garotinho e Carter não saíram de seu lado nos últimos minutos, mesmo ela tendo dito que tinha que resolver algumas questões pendentes.

— Não é assunto para crianças.

— Mas eu não sou uma criança! Meu pai disse que sou quase um homem — Peter falou com tanta convicção e orgulho que Sophia não conseguiu reprimir um sorriso.

Ao olhar para o lado, ela reparou que Carter estava fazendo o mesmo. O homem estava como sempre: calado e ao seu lado. Isso era tanto irritante quanto curioso. E talvez um pouquinho agradável também.

— Não precisa me seguir, eu sei o caminho. — Disparou para aqueles olhos claros.

— Preciso garantir que não se perca... ou que não seja atacada.

— Atacada? Dentro de casa?

Ele simplesmente deu de ombros e continuou a andar tranquilamente com um sorrisinho nos lábios rosados. Sophia se perdeu ali naquele momento, imaginando qual seria a textura deles, o sabor que teriam. Como seria se entregar a eles? Será que os beijos de Carter eram tão decepcionantes como os de Thomas Litford?

— Sim, pode haver algum bicho. — Ele falou, tirando-a de seus próprios pensamentos.

— Aqui? Só se for algum roedor, mas desses eu não tenho medo algum — ela lançou um olhar significativo a Peter, que imediatamente arregalou os olhos.

— N-não tem m-medo de roedores? Nem r-ratos?

— Ah, não. Mesmo que estivesse em cima de minha cama, com terra e minhocas, eu não teria medo de uma criatura tão simpática — mentiu descaradamente, tentando ao máximo adotar uma expressão despreocupada.

— Desculpa, Srta. Sophia! Eu não te conhecia ainda quando coloquei o rato lá — ele parou e puxou a saia do vestido dela. — Eu não queria fazer aquilo com você!

— Não?

Ele abaixou a cabeça e seus ombros caíram, os olhos claros ­— que eram idênticos aos do barão — carregavam uma névoa de culpa e arrependimento.

— Na verdade, eu queria sim. Mas eu não sabia que você era tão nova e... diferente. Para mim, a senhorita seria como as minhas babás.

— Bom, agora você sabe que eu não sou. — Ela bagunçou os cabelos castanhos dele. — Agora vá fazer seus exercícios em algum lugar. Ah, e não precisa ser na biblioteca.

— Sério? — seus olhos brilharam com entusiasmo. — Posso focar lá fora?

— Pode, desde que faça tudo direit...

O menino nem ao menos deixou ela terminar a frase e já correu porta afora em uma euforia infantil que contaminava todos na casa. Não havia nada que os criados pudessem fazer além de repreendê-lo, mas Peter não deu ouvidos a eles e levou sua lição para os jardins.

O Destino de Uma Dama ArruinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora