TRINTA E CINCO

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Zac precisou dar um banho em Mirella. Foi quando percebeu que ela também tinha hematomas em sua mão. Ela não parecia querer conversar e ele não conversou.

Ele a deitou na cama e desligou a luz. Ela se se aninhou ao seu peito e ficou lá em silêncio. Sua dor era quase palpável.

Em algum momento no meio da noite quando ele já pensava que ela dormia, Mirella falou:

— Eu sou algo pra você, Zac?

Embora a pergunta o tenha pegado de surpresa, ele sabia a resposta:

— Claro que é.

Ela então se virou e olhou para ele:

— E o que eu sou?

— Mirella, eu gosto de você. Eu gosto mesmo.

Ela ficou pensativa por alguns segundos:

— Robertinho tem razão...

— Ei! No que ele tem razão? Ele te machucou hoje?

— Tudo que eu tenho é graças a ele. Eu não sou nada sem ele e estou encrencada.

— Mirella, eu te vi cantando naquele dia no bar e te vi cantando aqui e em todos esses dias. Seu potencial é incrível. Se você não consegue aproveitar isso aqui, tem algo errado.

— Eu preciso arranjar um trabalho de verdade. — Ela se virou. — Preciso começar a tomar as rédeas da minha vida.

— Eu estou te dando uma chance. Você pode continuar aqui, mas eu quero te levar pra fora.

Ela não respondeu. Sabia que era a chance da sua vida e que isso não aconteceria novamente.

— Eu preciso me organizar. O visto pode ser negado e eu estarei na mesma. Eu vou ter que viajar pra Recife pra fazer o processo.

— Eu posso te ajudar com isso também.

— E como eu vou te pagar?

— Mirella, olha pra mim. — Ela olhou para ele. — Eu estou pedindo alguma coisa? Se você quiser me pagar, faça o seguinte, quando a gente lançar seu EP e der certo, parte da grana que você ganhar, você me paga. Sente-se melhor assim?

Ela engoliu seco.

— Eu preciso de um trabalho para me sustentar em L.A.

— Conseguiremos. E aí? Topa?

Ela pensou novamente. Estava mesmo tentada a aceitar.

— E se o visto não der certo?

— A gente casa. — Ele falou brincando mas ela arregalou os olhos. — Eu tô brincando, Mirella. A gente dá um jeito.

— Ok, ok... amanhã já vejo como foi a entrada nos papéis.

Zac reprimiu o sentimento delicioso que sentiu naquela hora. Ele gostava dela. Não era algo como paixão avassaladora, era mais como algo "gosto de estar com ela e só".

Pelo visto ele viraria seu bom amigo.

Era documentos e mais documentos. Até Zac ficou confuso com tanta coisa. Mas ao menos ela tinha um passaporte dentro da validade. Ela havia tirado um ano antes já que ela e Robertinho pretendiam viajar para fora na lua de mel. Então eles poderiam ficar apenas no visto.

Primeiro ela iria ter que preencher um formulário DS-160. Ela teria que pagar uma taxa de 160 dólares. Sairia mais de seiscentos reais só aquela taxa. Ela até tinha aquele dinheiro, porém era muito caro.

Zac não se ofereceu para pagar por medo dela desistir de tudo com raiva dele.

— Não é melhor a gente contratar um atravessador? — Ele perguntou quando viu o formulário.

— Zac... — Ela o repreendeu.

— Mas Milla, olha bem pra mim. Você vai gastar 160 dólares sem a certeza que isso aí está preenchido certo?

Ela pensou um pouco e, com a voz de Zac falando direto que eles não teriam tempo, que ele acabaria indo antes dela e ficaria difícil ir depois, ela aceitou. E, no mesmo dia, ela estava em contato com o profissional.

Eles explicaram a situação e ele prometeu que, fazendo tudo corretamente, ela viajaria com ele em, no máximo, duas semanas.

Era irreal para Mirella já que eles estavam comprando as passagens para Recife. O rapaz chamado Marcos preencheu a ficha juntamente com ela. Ela tinha poucos vínculos com o Brasil, mas eles deram um jeito de fazer um contrato com a 3CG para a gravação de um disco.

Essa parte foi a mais trabalhosa. Ele precisou ligar para Ike e Taylor por Skype.

— A Bex vai ter um infarto quando chegar no estúdio e encontrar ela. — Taylor falou rindo.

— Ela não vai pra 3CG. Vamos fazer o trabalho em L.A.

— Você deve gosta muito dela, hein? — Ike falou pensativo.

— Na verdade... Eu acho que não sei se quero ter algo com ela.

— Como assim, Zac? Tu brigou com a Rebecca pra dizer que não quer nada com a garota? — Taylor perguntou confuso. — E ainda está trazendo ela pra cá?

Mirella não estava em casa, por isso que a conversa fluía dessa forma. Ele jamais falaria em sua frente algo assim.

— Primeiro, eu acho ela uma garota legal e interessante. Mas eu não me apaixonei por ela. Eu gosto dela e seria mentira se dissesse que... bem, vocês sabem. Mas não sei... acho que ela é incrível é super talentosa. Ela pode ser uma boa amiga. E eu quero que ela tenha uma oportunidade de mostrar seu nome pro mundo.

— Você é inacreditável, Zac... — Ike falou irritado. — Como você ilude a menina assim?

— Ike... Ninguém iludiu ninguém aqui. Eu gosto dela, como disse. Mas...

— Mas ela não é o amor da sua vida. — Taylor falou dando os ombros.

— É isso.

— Ok, ok. — Ike falou irritado. — Não tá mais aqui quem falou.

Depois do formulário pronto e pago, foi a vez deles embarcarem para Recife. O processo levava dois dias. Marcaram o primeiro dia para o mesmo dia que eles chegassem lá. No horário da tarde.

Era apenas para tirar foto e as digitais. A entrevista aconteceria no dia seguinte. Eles se hospedaram em um hotelzinho próximo ao local onde haveria a entrevista.

Zac tentou se afastar um pouco dela, embora fosse difícil já que ela era mesmo linda e andava pro lado e pro outro ensaiando todas as respostas possíveis para todas as perguntas possíveis.

Eles não transaram mais depois de toda aquela situação, mas acontecia algum beijo ou outro. Mirella já sentia que ele estava perdendo o interesse e não tentou nada. Embora estivesse mesmo gostando dele, suas preocupações eram outras.

A entrevista durou dois minutos e ela conseguiu o visto tranquilamente.

A correria foi para encerrar todos os contratos com os donos dos bares e para encontrar a mãe de Mirella que deu todo o apoio para ela ir.

E num domingo super nublado, eles embarcaram para os EUA. Mirella deixou toda sua vida pra trás em busca de um sonho. Ela não sabia o que esperar.

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora