QUARENTA E TRÊS

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Quando voltei pra casa, fui recebida por John e Mary Que haviam cozinhado — com a ajuda de Mac — o meu almoço.

— Eu não acredito que vocês fizeram isso pra mim. — Falei abraçando os dois.

— Papai disse que você tava doente e que precisaríamos cuidar bem de você. — Mary falou com suas bochechas ficando vermelhas. Ela era muito encabulada.

— Eu vou ficar mais tranquila com vocês aqui. — Sorri e beijei sua bochecha. Olhei para John que segurava uma flor. Ele também estava encabulado. — Hey... isso é pra mim?

— É, é sim... — Ele estendeu a flor em minha direção e eu não pude não sorrir.

— Obrigada, John! — Eu o abracei. — Eu amei.

Olhei para Zac que sorria com os braços cruzados.

— Você tem cada uma... — Falei levantando e o abraçando. — Eles vão dormir aqui comigo já que mais tarde vamos ter uma festa de pijama, hein?

Ouvi os dois gritando um "eee" e saindo pela casa gritando.

— Eu precisei trazê-los. Depois te conto melhor. Mas eles podem ficar no Mac...

— De forma alguma, aqui tem bastante espaço pra eles.

Ele sorriu sem graça e eu percebi que não havíamos conversado sobre aquele beijo. Bateu um cansaço de tudo. Do hospital, dele, da forma dele fingir que nada havia acontecido.

E mais uma vez eu me pegava pensando nele, naquele beijo e em tudo que ele havia trazido.

— Vamos almoçar? — Mac apareceu sorrindo. — Fiz spagetti à carbonara.

Sorri para Mac em agradecimento e chamei as crianças para o almoço. E, depois de uma refeição deliciosa, pedi licença e fui para o quarto.

Eu não queria cair naquela espiral louca de Zac novamente. Eu não queria passar por tudo novamente, precisava criar coragem e falar com ele. Mas como faria aquilo com as crianças ali?

Ouvi uma batida leve na porta:

— Milla? — Era exatamente a voz dele. — É o Zac. Posso entrar?

— Pode, Zac...

Ele abriu a porta lentamente e vi o sorriso em seu rosto.

— Como você está?

— Bem, na verdade.

Ele fechou a porta atrás de si e caminhou até a beirada da minha cama.

— Acho que precisamos conversar.

— É... — Falei baixando a cabeça. — Acho que temos.

— Me desculpa. Eu não estava bem da cabeça quando eu fiz aquilo...

— Só me responde se você vai fazer a mesma coisa.

— Milla... eu não sei o que deu em mim. Eu estou tão confuso e tão...

— Então é isso, Zac? Eu sempre pareço aceitável no seu momento de confusão mental?

— Eu não disse isso.

— O que você quer de mim? — Perguntei sentindo aquele aperto no peito e na garganta. — Por favor, me diz.

Ele pareceu pensar e ponderar muitas coisas.

— Eu sei que muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Você é minha melhor amiga e eu posso ter... ter me convencido de algo que não existe.

— Então você não gosta de mim como algo a mais?

Os segundos que se passaram pareciam mesmo uma eternidade. Eu vi no seu rosto se formar um rosto de dor.

Então ele finalmente estava prestes a responder e segurei minha respiração.

— Não.

Senti vontade de rir, mas não era porque aquilo era engraçado, mas era porque o sentimento era bem conhecido: rejeição. Deus, e doía tanto quanto antes. Doía mais. Pela segunda vez. E eu não entendia o que havia acontecido. Eu não fazia ideia do que fazer e nem onde colocar minha mão.

Um risinho sarcástico saiu da minha boca enquanto eu balançava a cabeça em negação.

— É incrível que eu sou rejeitada mesmo sem fazer nada...

— Milla, não se trata disso.

— Zac... esse é o momento que você some pra que eu possa me sentir mal, ok? Eu prometi aos meninos que mais tarde eu vou brincar com eles, por favor, traga-os, ok?

— Me desculpe...

— Honestamente eu não sei como. — Olhei para ele tentando segurar o choro, mas provavelmente ele pegou no ar aquilo e minhas lágrimas prestes a cair.

Então Zac levantou da cama e saiu do meu quarto me deixando sozinha. Foi aí que chorei. Depois de tanto tempo, lá estava eu chorando pelo Zac novamente. A dor de ser rejeitada estava ali novamente. E eu nem sabia como, já que eu achei que talvez uma parte dele pudesse gostar de mim. Ele nem fazia sentido.

Eu só queria sumir. Era só isso.

— Hey! — Falei recebendo os dois pequenos já com os pijamas. Zac havia feito como havíamos combinado. As crianças estavam ali. — Vamos nos divertir hoje! Deixem as mochilas em meu quarto.

Enquanto as crianças iam ao meu quarto, olhei Zac que parecia sem graça. Eu não podia negar que ele também estava mal com aquela história.

— Amanhã cedo eu venho buscar eles.

Assenti com a cabeça e esperei ele virar para fechar a porta.

A noite com as crianças me fizeram bem, e mesmo que eles fossem filhos de Zac, eu consegui esquecer por alguns minutos o que havia acontecido mais cedo. E, embora eu ficasse repetindo para mim que eu era uma sobrevivente, eu estava cansada de sobreviver.

Assistimos filme, comemos pipoca, brincamos de esconde-esconde e até cantamos no karaokê. Eles foram dormir exaustos e eu não conseguia nem pensar em pregar os olhos.

Fui à varanda olhar para o céu, tentar entender o motivo de doer tanto. Lembrei de Belém, de como eu era cheia de sonhos, de como havia conhecido eles, de como agora me sentia tão vulnerável e triste, mesmo minha vida financeira estando mil vezes melhor.

Novamente estava naquela situação, novamente me via apaixonada de novo. Na verdade duvido que algum dia havia deixado de gostar dele.

Ouvi meu celular apitar na mesa da sala. Caminhei até lá e vi uma mensagem.

{john}
Amanhã tenho um show em Santa Clarita. Quer tirar um som comigo?

{mirella}
Claro, só me diz onde é a hora.

CALMA!
Calma minha gente.

Vamos conhecer o lado do Zac também? Ele foi um babacão mas tem um motivo pra isso, ok? Não o crucifiquem assim! Hehehe

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora