TRINTA E QUATRO

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ATENÇÃO: Esse capítulo contém cena de violência e pode ser extremamente desagradável.
Então se você fica mal com esse tipo de coisa, não recomento a leitura.

Nada havia preparado Mirella para o que ela viu quando chegou à sua antiga casa.

Ela abriu o apartamento com as chaves que tinha e quando entrou, viu a bagunça generalizada na cozinha. Em cima da mesa havia muito pó branco. Duas carreiras estavam feitas. Apenas a luz de um abajur estava acesa.

Ouviu o barulho de descarga e Robertinho saiu logo em seguida, se assustando com sua presença.

— Ah, é você...

— Eu disse que viria, não disse?

— Pensei que tivesse trepando com aquele ricaço.

— É sério que você quer ter uma conversa nesses termos?

— Não, Mirella. Eu mudei de ideia. Eu não quero conversar.

Ele caminhou até a mesa, tirou uma nota já enrolada do bolso e cheirou uma carreira.

— Ok, foi um erro ter vindo. — Ela falou levantando as mãos em rendição. — Eu vou embora.

— Não... — Ele começou a rir. — Fica, me conta como foi pra você ter me esquecido assim tão rápido?

— Sabe o que eu acho? Que sorte a minha hein? Não ter sofrido por você como da primeira vez!

— Não seja cínica! Você não passa de uma hipócrita do caralho.

— Ok, terminou?

— Não, não terminei. Eu espero que ele te use bem muito pra que você fique na merda! E depois quando vier atrás de mim, eu vou rir na sua cara.

— É isso que você me deseja?

— Não. É isso que vai acontecer. Ou você acha que ele vai assumir uma fulêra como você? Se enxerga, Mirella.

Mirella queria sair dali correndo. Ele falava daquela forma para magoá-la mesmo. Mas ele também estava magoado.

— Roberto...

— O que você tem agora? Nada! Você não tem absolutamente nada. Tudo que você tinha era por minha causa. Até esses malditos shows você foi com meu dinheiro.

— Isso é mentira. Eu paguei tudo.

— Você só é quem é por minha causa.

Ele estava desdenhoso. Ela não queria mais ouvir aquilo.

— Eu vou pegar minhas coisas e vou embora.

— Vai embora sozinha é? Ele não veio te ajudar? Que grande novidade!

— Cala a boca, Roberto. — Ela falou já irritada enquanto pegava uma caixa.

— OU O QUÊ? — Ele gritou e chutou a caixa, espalhando todas as roupas pela cozinha. — O que você vai fazer? — O tom dele era ameaçador. Mirella então sentiu medo.

— Você tome muito cuidado com o que você vai falar e fazer agora. — Ela permaneceu com a voz firme, embora estivesse tremendo.

— Você é só uma putinha aproveitadora. Saindo com um homem casado e se passando de Santa.

Ela não queria dizer mais nada pra ele. Nem se justificar e nem falar que ele não era mais casado. Aquilo era um absurdo.

Ela se abaixou para pegar as roupas e ele avançou em cima dela e a, praticamente, jogou na parede, segurando seu pescoço.

Ela podia ver seus olhos vermelhos de ódio e o pavor a consumia.

— Você acha que você pode fazer isso comigo e se dar bem, hein sua putinha?

— ROBERTINHO, ME SOLTA!

Ela já estava sem ar e se debatia nas mãos dele.

— ME SOLTA!

A respiração dela voltava à medida que os dedos dele afrouxavam. Ela olhou para ele apavorada.

— Você é louco...

E saiu correndo do apartamento deixando-o parado com um rosto totalmente imparcial.

Quando alcançou a calçada do pequeno prédio, começou a chorar. Ela chorava desesperada enquanto as pessoas passavam por ali e estranhavam aquilo.

— Moça... você está bem? Quer ajuda? Quer uma água?

Uma mulher que passava por ali viu sua situação e resolveu ajudá-la. Caminharam até um bar e a moça pediu uma água. Mirella continuava chorando, sentia ainda as mãos dele em seu pescoço. O medo da morte ainda a assombrava, a falta de ar ainda invadia seu corpo.

A moça lhe ofereceu água.

— Obrigada. — Foi somente isso que conseguiu falar.

— Por nada. Quer que eu chame alguém pra te buscar agora? Acho que você não está com condições de dirigir assim. — Ela falou vendo que Mirella segurava a chave do carro. — Posso ligar pra alguém?

Muitas pessoas vieram em sua mente, mas todas elas conheciam Robertinho. Todas elas poderiam querer parar lá e conversar com ele.

— Eu posso ligar, obrigada. — Ela falou e viu o sorriso fraco da mulher. Pegou o celular e, ainda tremendo, ligou para Zac que atendeu no primeiro toque.

Alô? Milla? — Ela desabou a chorar novamente deixando-o desesperado do outro lado. — Milla, pelo amor de Deus, o que está acontecendo?

— Você pode vir aqui? Me buscar? — Ela pediu ainda com muita dificuldade.

— Claro, você tá no apartamento que me recebeu naquele dia?

— Eu tô no bar bem em frente.

— Chego já.

Ele desligou o celular e a moça pediu ao dono do bar para trazer açúcar.

— Você quer conversar? Eu vou ficar aqui até virem te buscar.

— Eu estou melhor. Muito obrigada mesmo.

— Você tá com um hematoma no pescoço. Está um pouco roxo. Não quer que eu chame a polícia?

Ela deveria chamar. Ela sabia que aquilo havia sido uma agressão muito grave. Mas não tinha forças. Ela se sentia culpada por ele fazer aquilo, embora as drogas contribuíssem de fato.

— Não... não chama. Eu só preciso respirar um pouco.

Em menos de dez minutos, Zac saiu do uber e pediu para esperar ele.

— Milla? Milla, pelo amor de Deus, o que aconteceu? — Ele perguntou se abaixando até ela é vendo o roxo ao redor do seu pescoço. — Ele te agrediu?

Ele levantou e, se Mirella não tivesse sido mais rápida e o segurado, ele teria corrido em direção ao apartamento e matado aquele homem.

— Não, não... não vai lá. Por favor. — Ela pediu desesperada.

— Mirella, eu não vou deixar ele impune disso! — Zac falou com ódio, mas recebeu o abraço de Milla.

— Por favor... deixa ele lá. Não vai lá.

Depois de alguns segundos ele relaxou um pouco.

— Vamos embora? — Ele perguntou e ela assentiu. — Obrigado. — Ele falou em português para a moça com um sotaque muito carregado.

You're welcome. — Ela respondeu. — Se cuide, moça.

— A água... — Mirella virou para ela. — Quanto foi?

— Nada. — O dono bar falou do balcão e sorriu. — Se cuide.

Zac a acompanhou até o carro e logo em seguida eles estavam indo para o apartamento. Mirella encostou a cabeça no vidro e chorou em silêncio. Zac não conseguia conter a raiva. Aquilo não poderia ficar daquela forma. Ele precisava fazer algo.

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora