QUARENTA E QUATRO

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Zachary's P.O.V

Quando Mirella me perguntou sobre os sentimentos que tinha por ela, eu não tive como dar outra resposta. Eu tive que dizer responder não. Mesmo sendo injusto com ela, mesmo tendo sido fraco e idiota ao beija-la.

Vamos lá, eu sabia que ela merecia mais do que o silêncio. Eu sabia que ela gostava de mim quando viemos para L.A. Eu sabia de tudo isso e mesmo assim ainda a beijei depois de dois anos.

Eu a beijei, mano.

Eu não deveria ter ficado com a porra de ciúmes daquele baixista brasileiro. E eu fiz a idiotice de beijar uma amiga. Eu a magoei mais uma vez mesmo ela sendo quem era. Ela nunca me cobrou nada, muito menos gostar ou não. Nem mesmo quando nos mudamos. Ela nunca abriu a boca para falar de nada.

Mas eu me pegava novamente naquele dilema. Eu não estava apaixonado. Aquele sentimento não havia me arrebatado a ponto de estar apaixonado. Então como poderia dizer que eu gostava dela? Eu queria sentir.

Sentir.

Eu queria sentir aquilo que todo mundo falava. As borboletas, a loucura, o não conseguir ficar longe... tudo que eu havia sentido por Kathryn. Claro que eu amava ficar com ela, adorava sua companhia. Mas eu não sentia aquele...

Eu não estava apaixonado.

E eu sabia que ela estava. Isso me tornava uma pessoa pior, muito pior. As vezes a gente faz essas merdas e fica tentando se justificar.

Por isso que quando fui pegar as crianças no dia seguinte, encontrei uma Mirella pouco disposta à conversa. Mas as crianças estavam super felizes pela noite. Me senti pior ainda quando vi que ela não olhava para mim.

Merda, merda, merda.

Eu era um merda.

Os dias que se seguiram não foram fáceis. Eu não falava para Mac o que havia acontecido e Milla mal trocava alguma palavra comigo. Havíamos conseguido gravar a música — que havia ficado muito boa — e tudo iria voltar ao normal. Ou pelo menos eu esperava.

Voltei para Tulsa para deixar as crianças. Sabia que encontraria Kathryn muito debilitada, mesmo que ela negasse para todos.

Ela havia me ligado naquele fatídico dia pedindo para que levasse Mary e John pois não conseguia nem cuidar dos próprios filhos. Sua doença não deixava. Ela estava enfrentado um câncer de mama e não havia contado para ninguém além de mim e de seus pais.

Ela sofria em silêncio, escondia de todos mas as pessoas não eram idiotas. Eu já havia sido questionado sobre sua saúde. Mas não era meu segredo, não era algo que eu pudesse fazer algo. Eu só podia apoiá-la e amenizar sua carga.

Eu jamais deixaria alguém que fora tão importante em minha vida sucumbir assim. Ainda mais sozinha. E agora teria mais tempo já que as gravações haviam acabado e só precisava terminar o disco e lançá-lo.

Milla também voltou a cantar e tocar a noite, mas agora suas músicas novas. Eu não estava mais como baterista, já que não havia mais tempo. Milla não reclamou, mas não pareceu mesmo se importar.

Em um desses dias que estávamos decidindo onde ela lançaria o disco, percebi que havia muito tempo mesmo que não conversávamos.

— Milla, posso conversar com você? — Falei quando ela pegava sua bolsa e já estava saindo.

— Claro... — Ela falou forçando um sorriso, mas não olhou pra mim. — Algum problema?

— Mirella. — Falei sério e então olhou pra mim. — Você vai me perdoar um dia?

Ela pareceu surpresa com aquela pergunta.

— Eu não quero falar disso agora.

— Já fazem três meses que tudo aconteceu...

— Você tá contando? — Ele deu um risinho irônico.

— Eu só queria que tudo voltasse ao normal.

— Zac, eu não sei o que você quer de mim.

— Eu quero minha amiga.

— Você é inacreditável.

Ela balançou a cabeça em negação. Eu odiei aquele olhar. Era mágoa, era tristeza, era raiva.

— Zachary, não existe mais isso. Você não sabe como eu estou, você não sabe o que passei nesses meses. Você só quer saber da amizade que você tinha. Por eu vou ser bem sincera agora: aquela amizade morreu. E não é porque você me ajudou que eu preciso...

— Eu não estou jogando isso na sua cara. — Falei com raiva. — O que você queria, Milla? Que eu estivesse morto de apaixonado por você? Veja só, isso não se escolhe.

Então eu soube que havia falado besteira. Ela me olhava incrédula.

— Qual o seu problema, Zac? — Vi as lágrimas caindo em seu rosto e me desesperei.

Ela se virou para sair e eu corri atrás dela:

— Milla... — Peguei em seu braço e ela tentou se desvencilhar. — Milla, me desculpe...

— Quantas vez você vai me pedir desculpas, Zac? — Ela se virou pra mim e já chorava. — Quantas vezes você vai me quebrar inteira? Qual o seu problema?

Eu a abracei forte, ela me bateu algumas vezes, mas já chorava muito e cedeu.

— Eu sou um idiota, Mirella. Eu juro que queria acabar com tudo isso, com esse sentimento destrutivo. Eu...

— Eu preciso ir embora, Zac. — Ela falou me empurrando de leve.

Ela então sorriu tristemente e saiu pela porta.

Não sabia como sabia daquilo, mas eu havia perdido ela. Definitivamente.

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora