VINTE E TRÊS

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— Feliz que você voltou, Mirella! O cara do Marketing disse que você está bombando e que isso é uma coisa boa.

Mirella sorriu tristemente enquanto ouvia Beto falando sobre o seu suposto "momento de famosa". Quase todas as pessoas que a seguiam nas redes sociais naquele momento eram fãs de Hanson. Elas ainda insistiam na mesma pergunta: "Você tem algo com o Zac?". Talvez voltar à rotina mudasse tudo.

E estava mesmo voltando à rotina da sua vida. Havia chegado em Belém há apenas três dias e já estava fechando os contratos para tocar a cantar nos bares da cidade.

Também estava procurando uma casa para se mudar, mas aquilo demorava. Havia falado com o Robertinho de que vagaria o quitinete para que ele tivesse seu espaço, porém ele disse que ela poderia ficar ali o quanto quisesse. Ele ainda estaria na estrada por alguns meses.

Então bateu a agonia de estar sozinha novamente. Como ela bancaria tudo agora que não tinha mais o emprego de dia? Chegara a ir na empresa e pedir as contas, mas o dinheiro do seguro desemprego acabaria logo. Precisava de um trabalho.

— Hey, Milla. — Era o barman simpático do bar. — Você deveria tentar fazer um canal no YouTube. Aproveitar esse hype em cima do seu nome e faturar em cima.

— Você acha que daria certo? — Ela perguntou curiosa.

— Acho. E você tem um equipamento de som bacana. Só adaptar.

Depois de tocar aquela noite, voltou para casa pensando seriamente no que aquele rapaz havia dito. E se ela lançasse mesmo um canal no YouTube? Tinha alguns amigos que trabalhavam com marketing. Talvez eles pudessem ajudar com a identidade visual.

Ficou realmente animada com a possibilidade de, talvez, conseguir algo na internet. Ela já tinha muito seguidores. Podia aproveitar isso.

Ela se negava a pensar em Zac também. Mas era difícil quando deitava a cabeça no travesseiro e seu pensamento voava longe. Principalmente naquele beijo. A porra daquele beijo. Deveria ser proibido beijar alguém daquela forma e depois dispensar a pessoa. Aquele era o tipo exato de cilada que ela jamais deveria ter caído.

Mas caiu. E como caiu.

Eles ainda estavam no Brasil. Teriam um último show em Porto Alegre e au revoir, embarcariam de volta para Tulsa. Foram dias conturbados e cheios de sentimentos confusos para ela. Mas de modo geral, aproveitou a companhia de todos.

Se despediu de Walker, Taylor e Ike com lágrimas nos olhos. Todos foram unânimes em dizer que, se um dia ela fosse à Tulsa ou NYC, poderiam procurar por eles.

Não falou com Rebecca ou Zac. E honestamente estava ok com isso. Estava chateada o bastante com tudo a ponto de não querer mais contato com ambos. E, aliás, não haveria possibilidades dela ir à Tulsa, haveria?

Ela também havia descoberto o que havia acontecido na Inglaterra. Zac dormira com uma fã depois do show em Londres. Alguns fãs os viram aos beijos no meio da rua. Não foi uma surpresa para ela que já não tinha mais Zac com bons olhos. Era lógico que ele era galinheiro, ainda mais solteiro do jeito que era. Idiota fora ela por acreditar que ele se interessasse de verdade.

Os jornais locais também estavam pegando em seu pé para que ela desse uma entrevista contando "o seu lado" da história. Ela respondia sempre: "meu lado é que não houve nada entre nós". Mas eles insistiam e isso a irritava um pouco.

Mas as coisas estavam voltando aos conformes aos poucos. Tentou não saber mais nada da turnê deles e continuou a fingir que nada daquilo havia acontecido.

— Você acha que dá certo? — Ela perguntou ao seu amigo da época de faculdade, Diego.

Mirella não tinha muitos amigos, mas Diego era um bom amigo que ela sempre encontrava para conversar sobre a vida. Ela o conhecera no primeiro semestre da faculdade e ela foi a primeira a saber que ele gostava de rapazes. Sua família inteira jamais aceitaria o fato dele ser gay, mas Mirella não via nada de mais naquilo. E também o ajudou quando todos descobriram. Ele também trabalhava como produtor musical.

— Acho que é uma boa ideia e você pode tentar. Eu tenho boas câmeras e a gente pode fazer alguns testes. Que tal?

— Mas onde poderíamos fazer?

— Talvez na Estação das Docas.

— Mas não fica barulhento?

— Fica, mas eu consigo tratar o áudio. Não se preocupe. Vamos amanhã no final da tarde onde há gente por lá e o céu está lindo. Você também já tá tocando nos bares de lá né?

— Sim, inclusive amanhã toco em um bar por lá. Acho que dá mesmo certo.

— Certo. Agora vamos para aquele assunto que você está evitando...

— Diego...

Hanson? Você nem me falou que iria viajar e quando vi, você já tava nos jornais da cidade. A última vez que eu te vi, você estava bem noiva de Robertinho. O que aconteceu?

— Nem eu sei direito. — Ela falou penosa. — Sabe quando você vive algo mas não parece que foi real?

— Você teve algo mesmo com ele?

— Se você chama um beijo maravilhoso seguido de um "não estou pronto para amar" de "algo", então sim.

— Um beijo? Só um?

— Sim. E depois de toda a confusão ter estourado no mundo. Eu estava arrumando minhas coisas pra voltar e ele apareceu em meu quarto?

— E Robertinho? Porque essa história eu não estou mesmo entendendo.

— Nós terminamos. Ele voltou para drogas, eu não podia mais abrir mão da minha sanidade.

— Poxa... de novo? Eu pensei que ele estivesse limpo.

— É... eu também. — Ele ficou em silêncio alguns segundos. — Mirella, tudo está meio confuso. Você não ama o Robertinho?

— Eu não sei, Diego. Pra ser honesta tudo que eu preciso agora é de um tempo pra mim. Tempo esse que tá mais difícil do que outra coisa.

— Como ele se sente com relação à isso?

— Eu não sei se ele sabe. Mas se souber, duvido que se importe. Ele não se importa com mais ninguém quando está viciado.

— Eu gostava de vocês juntos, mas lembro bem de quando ele tava viciado. Você se acabou para tirá-lo do fundo do poço.

Eles ficaram em silêncio.

— E esse rapaz, Zachary... foi só isso que aconteceu?

— Só. Depois eu soube de coisas que ele fez na Europa. É difícil perceber que você tava errada sobre uma pessoa.

Mirella sentiu incrédula vibrar.

{zac hanson}
Estou partindo para a USA. Me perdoe por tudo. Sei que não acredita, mas não quis mesmo te machucar. Não queria ir embora sem que soubesse disso.

Foi então que Mirella não aguentou e chorou. Toda sua vida estava desmoronando. E tudo que ela queria era poder vê-lo de novo.

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora