VINTE E NOVE

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Zac se sentia um verdadeiro adolescente enquanto olhava para Mirella dormindo em seus braços. O dia já havia amanhecido e ele ficava se perguntando o que sentia por ela. Era óbvio que não era nada, por mais que estivesse confuso, ele sabia reconhecer a indiferença.

No relógio ainda marcavam seis da manhã, mas o sol já estava forte e entrava pelas frestas da cortina da sala. Eles haviam adormecido ali mesmo.

Ela se mexeu em seus braços e abriu os olhos.

Good morning... — Ele falou sorrindo. Não se conteve ao vê-la sorrindo. — Você é linda, sabia?

— Você só pode estar louco. — Ela passou as mãos pelos olhos. — Morning.

— Tem plano para hoje?

— Além de cantar, preciso ver algumas casas. E pegar algumas roupas.

— Você vai ficar aqui? — Ele perguntou surpreso.

— Achei que a ideia fosse nos conhecermos, não? — Ela sorriu. — Claro que se não tiver problema.

— Claro que não tem. — Ele beijou seu pescoço. — Mas vai ter que se acostumar comigo te beijando o tempo todo.

— Acho que posso me acostumar a isso. — Ela sorriu enquanto ele já a beijava seu ombro. — Ótima forma de me acordar.

— Quer tomar um banho?

— Um banho seria ótimo. — Ela já falou em um sussurro.

Eles levantaram e foram agarrados até o banheiro  o banho demorou mais do que o normal, mas quando saíram, perceberam que estavam mesmo com fome.

— Quer tomar café aqui? — Ele perguntou já abrindo a geladeira e tirando o leite de lá.

— Por mim sim. Posso fazer alguns ovos.

— Eu comprei bacon. Vocês comem bacon no café da manhã? — Ele coçou a cabeça.

— Não costumamos. Mas não tem problema. Eu faço alguns para você.

Enquanto ele saía para comprar pães — Mirella havia anotado e ensinado ele a falar pão careca — Ela fez os ovos e bacon. Também tirou do armário um bolo de laranja que ela havia feito ele comprar. Além do café, que infelizmente havia sido feito em cafeteira, ela fez um suco de laranja.

A mesa estava posta quando ele chegou com pães, queijo e presunto. E, para a surpresa de Mirella, "orelhas".

— Você gostou mesmo das orelhas, hein?

— A moça da padaria sabia falar um pouco de inglês. — Ele falou animado. — Quando apontei para a orelha, ela já sabia o que era.

Eles se sentaram para tomar o café reforçado.

— O que você ouve além de Hanson? De internacional? — Ele perguntou curioso quando ela cantarolou uma música da Lady Gaga.

— Bem... Ando ouvindo muito James Arthur, Phillip Phillips, Sam Smith... Shawn Mendes as vezes. Ah... por causa do Ike eu comecei a ouvir Charlie Puth.

— É, ele é bom mesmo.

— Eu também ouço muito o Joshua, irmão de vocês.

— Sério? Pensei que ele não havia chegado aqui no Brasil.

— Acho que descobri através das inúmeras pesquisas e fãs de Hanson. Mas ele é bom mesmo. Em um dos repertórios internacionais que eu tenho, eu incluí "Hey, Hey". A galera até curte.

— Então você ouve mais pop.

— Eu sou de épocas, na verdade. Mas curto muito rock progressivo e psicodélico. A gente tem coisas boas aqui no país. No final das contas, eu estou ouvindo isso agora por muitos motivos.

— Quais seriam esses motivos?

— Eu estou cantando mais internacional. Preciso conhecer. Mas dependendo de onde eu toco, tenho que cantar... sei lá... Sertanejo universitário. Se você me acompanhar hoje, você vai perceber isso. Hoje é o dia de sertanejo.

— Você gosta?

— Honestamente a gente vai aprendendo a curtir. Não é meu estilo favorito, mas já cheguei a ir a um show do Wesley Safadão com o Robertinho. Esse cara faz um sucesso dos infernos aqui. Seria algo como Wesley shameless, sabe?

Really? — Ele perguntou gargalhando. — Como vocês ouvem música de um cara que se intitula assim?

— É dançante, sabe? Esse tipo de música faz muito sucesso por aqui. — Ela deu os ombros. — Não quer dizer que seja bom nem nada, mas a galera gosta então...

— Tem algo aí pra ouvir?

— Você quer mesmo ouvir? — Ela perguntou incrédula. — Por sua conta em risco?

— Eu quero entender como um cara desse faz sucesso ué.

Ela, ainda rindo, pegou o celular e colocou uma música dele.

Que porra é essa? — Ele perguntou incrédulo enquanto Mirella cantava "uh uh uh" com a música.

— Eu te disse! — Ela falou rindo. — Ah, vai. Quando quero fazer faxina eu até ouço.

— Realmente, dá pra ver que é dançante e tal, mas mesmo assim.

— É música de festas e bebidas.

— Você vai cantar isso hoje?

— Vou. — Ela falou rindo. — Você não viu foi nada. E eu nem vou traduzir pra você.

Oh no... você precisa me dizer o que essa música diz.

Ela começou a gargalhar logo então traduziu para ele.

Mirella encontraria os três rapazes que tocariam com ela naquele dia para ensaiar. Como era sertanejo, ela havia fechado com mais três músicos. Mas primeiramente eles veriam algumas casas.

Todas péssimas. Mirella realmente estava se preocupando com aquilo. Talvez não tivesse condições de pegar alguma casa boa e teria que se contentar com qualquer coisa.

Zac achava aquilo irreal. As casas eram minúsculas e jamais se veria morando em algum lugar daqueles. Mas sabia que eles eram de realidades diferentes.

— Como você consegue? Essas casas são minúsculas. — Ele perguntou quando estavam a caminho do apartamento para almoçarem. 

— Zac, eu canto e toco pra sobreviver. E não ganho tão bem assim. Eu preciso de um lugar que possa pagar. E infelizmente o que posso pagar é um lugar pequeno. E sou só eu também. Não preciso de muito ela viver. Eu estaria procurando casas boas agora se não tivesse acabado com o Robertinho. Mas sabemos o que aconteceu...

— Você se arrepende? De ter terminado com o ele?

— Não. Mas é difícil pensar que quando íamos começar uma vida, tudo terminou. Mas a vida é isso, cheia de imprevistos. Não me lamento mais.

Ele sorriu. Ela era nova mas parecia muito decidida. Queria poder levá-la para Tulsa, ajudá-la a se erguer é claro, ficar com ela. Mas aquilo sim seria loucura.

— O que você tá pensando? — Ela perguntou curiosa.

— Em casa, na verdade.

Ela sorriu mas ficou triste. Pensou que ele não estivesse mesmo gostando de sua companhia.


Gente, que capítulo DIFÍCIL de sair. Foi quase um parto já que não consegui escrever absolutamente nada o dia inteiro. Mas enfim saiu um capítulo.

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora