QUARENTA E UM

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Nota da autora: Pessoal, dei uma sumidinha mas vim avisar que não vou abandonar nada. É simplesmente porque o TEMPO tá corrido aqui pra mim com muito trabalho.
Vou atualizando quando posso.

Quando fui dormir naquela noite, senti uma confusão estranha em meu peito. Sabia que Zac não gostava de mim daquela forma, e foi isso que me segurou naqueles dois anos. Ele foi uma pessoa que abriu portas incríveis para mim. Eu não quis parecer ingrata nem nada do tipo.

Eu passei muito tempo reprimindo o que sentia, chorando no banheiro escondida, noites em claro pensando em como teria sido diferente enquanto ele estava com outras mulheres em sua cama.

Ele tocar naquele assunto justamente quando estava mesmo seguindo em frente — embora John fizesse parte da minha vida como um "ficante eventual" — foi uma surpresa.

Eu fiquei mal.

Claro que ficaria, afinal ele não falou nada. Eu tive que seguir em frente, mas ele não me viu chorando as muitas vezes que ele preferiu a companhia de outras mulheres a ter que ficar comigo. E mesmo que muitas vezes ele priorizasse a minha companhia, ele também não perguntava para mim se eu estava bem com aquilo.

Na verdade ele havia sido bem idiota mesmo.

Eu estava mesmo seguindo em frente, conhecendo novas pessoas, vivendo o presente e tentando me livrar dos traumas do passado. Relacionamento não era mesmo comigo, eu ainda não estava preparada para encarar algo como aquilo com qualquer pessoa que eu conhecesse por aí.

Mas, naquele momento, eu gostava dele. E estava disposta a tentar. Mas não foi o que aconteceu na prática.

Quando acordei no dia seguinte para correr e encontrei Zac me esperando, não puxei muito assunto. Coloquei o fone e corremos pela orla em silêncio já que ele não parecia também querer conversar. Mas permaneceu ao meu lado o tempo todo.

Quando voltamos pra casa, Ele perguntou:

— Vai tomar café com a gente hoje?

— Não. Preciso ainda cozinhar algo pra levar hoje. Não tive tempo esse final de semana.

Ele assentiu com a cabeça e entrou no apartamento de Mac. Eu, definitivamente, não estava com cabeça para enfrentar meus pensamentos e Zac ao mesmo tempo.

O dia foi proveitoso, conseguimos terminar uma música e só faltava mais uma pra fechar o CD. Devoniano lançar uma música de trabalho ainda naquele mês. Como eu tinha algumas apresentações nas semanas seguintes, seria ótimo. O trabalho seria árduo até finalizarmos tudo, ainda tinha a mixagem, capa e tudo que uma pós-produção precisa.

Depois da janta naquele dia, peguei tudo e estava lavando a louça enquanto Zac enxugava. Não estávamos conversando muito, mas ele conseguiu dizer:

— Eu sei que te magoei.

Olhei para ele surpresa com aquilo e depois balancei a cabeça voltando a lavar a louça.

— Pensei tínhamos encerrado esse assunto ontem.

— É que não para de martelar na minha cabeça.

— Zac... já foi, ok? Já fazem dois anos e não tem mais porquê falar disso agora. Eu e você seguimos nossa vida, é isso que a gente faz.

Minha voz estava irritada. Ele ficou mesmo amuado com o que tinha dito. Mas ainda assim, continuou:

— Me desculpe.

Não respondi, não queria responder. Um bolo já se formava na minha garganta e, se eu resolvesse falar, iria vomitar as palavras ali mesmo. Preferi me calar.

— Eu fui um idiota mesmo. E se eu soubesse que...

— Soubesse o quê, Zac? — Parei o que tava fazendo e cruzei os braços. — Diz, se soubesse o quê? O que mudou de lá pra cá?

Ele não respondeu, apenas suspirou que nem um idiota faria. Balancei a cabeça e voltei pra louça.

— Esquece isso. Já faz tempo e eu entendi seu recado.

— Entendeu meu recado? O que você quer dizer?

Ele andou até meu lado e fez igual a mim: cruzou os braços e levantou as sobrancelhas.

— Qual é, Zac?

— Não... agora eu quero saber. Que recado eu te passei sem saber?

Fechei a torneira e olhei pra ele:

— Que você não quer nada comigo. É isso. Não sei porque você tá tocando nesse assunto logo agora.

— Você não sabe? Não sabe mesmo?

— Não, não sei.

Ele me encarou e balançou a cabeça.

— Boa noite, Mirella.

— Ei, ei, ei... não! — Corri e consegui alcançá-lo. — Você vai sair assim sem me explicar nada?

— Mirella, eu vou dormir.

— Seu problema é esse, Zac! Você quer que a gente adivinhe tudo!

— Eu não quero nada disso.

— E o que você quer, Zac?

Ele fechou os olhos parecendo respirar fundo:

— Eu não quero ter essa conversa.

— Sério? Porque parecia querer! Você puxa esse assunto, você relembra coisas de dois anos atrás e VOCÊ parece não esquecer disso. Qual é, Zachary? Eu sou palhaça pra você?

— Sabia que o mundo não gira em torno do seu umbigo, Mirella? Pra você é tudo pessoal, já percebeu?

— Pessoal? Honestamente... é melhor você ir embora ou vamos ter outra briga daquelas e não vai ser legal.

Ele andou até a porta e parou. Sem olhar pra mim, ele falou:

— Eu só... eu só queria que soubesse que eu faria diferente.

— Isso tudo é por causa do Yuri? — Perguntei já sem saber o que falar.

—Não é por causa dele. — Ele virou. — É por causa de mim. Apenas de mim, Milla.

— Você fala sobre eu achar que tudo gira em torno do meu umbigo, mas eu não reclamei da minha vida uma vez desde que cheguei. Eu não chorei de saudade de casa ou te enchia de perguntas sobre a sua vida. Mesmo quando eu estava apaixonada, eu nunca disse que qualquer uma das suas conquistas eram ao menos feias. Eu nunca me meti em sua vida pessoal, por mais que me considerasse uma grande amiga. Todas as vezes, Zac, eu me coloquei à disposição. Não porque você pagou minhas despesas e me ajudou com o EP. Eu sempre me importei. Eu nunca tirei o seu tempo para falar sobre minhas conquistas, embora tenham sido poucas. Então me diz. Me diz porque diabos tudo gira em torno de mim? Das minhas vontades e das minhas "paixões"? Se você diz que tudo é pessoal pra mim, porque você está aqui? Se eu sou uma péssima amiga ou...

Antes que eu terminasse de falar, Zac me beijou. Foi completamente inesperado. Tão inesperado e sem noção que eu o empurrei:

— O que você pensa que tá fazendo, Zac? — Gritei incrédula. — Não faz isso comigo. Não de novo!

Corri pro meu quarto e me tranquei lá. Um filme passou em minha mente. Porque depois de tanto tempo ele ainda fazia aquilo comigo?

FLOWER (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora