1. Zoe

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Tentava desesperadamente agir normalmente.

- Último ano!!! Iuhul. - Essa não era eu.

- As férias nas Bahamas foram maravilhosas. - Essa pessoa que cantou a palavra maravilhosas e passou as férias nas Bahamas também não era eu.

- Estou super focado em estudar porque Harvard está aí só me esperando. - Esse com certeza não era eu.

- Nossa. Que diabos aconteceu? Um furacão? - Isso era sobre mim, porque...

- Oi, gente. Me atrasei e tive que vir correndo porque perdi o ônibus e vocês sabem que desde que bati o carro da minha mãe eu não posso dirigir. E eu tive que comer no caminho. Não comam cereal enquanto correm pra escola. - ... essa era eu.

- Zoe, você está usando uma camiseta do Nirvana com calças do pijama e all star? - Candice perguntou o óbvio, pois ela podia me ver, qual é.

- Tem cereal no seu cabelo e... em você toda - apontou Alex. O cara de Harvard.

- Já acabou a sessão "apontar tudo que tem de errado com a Zoe"? - perguntei sarcasticamente.

É, essa era eu agindo normalmente. Não, sério. Eu normal era Zoe Furacão. Sempre atrasada e nada elegante. Mesmo perto dele.

- Tá, vou pra aula - avisou Candice, beijando Alex no rosto e acenando.

Candice namorava Alex. Alex era melhor amigo de Zoe (eu). Até que Zoe descobriu que talvez estivesse gostando de Alex de outra maneira. E era por isso que eu tentava desesperadamente agir normalmente. Ele não podia saber. E quem sabe eu estive só confusa. Por favor que eu esteja só confusa, rezei.

Alex se virou pra mim e passou o braço por cima do meu ombro.

- Agora me diga. - Ele fez uma pausa com um olhar sério. - Como diabos você conseguiu correr comendo cereal? - perguntou ele, perdendo toda a seriedade.

Olhei para a tigela com restos de cereal e um fundinho de leite; depois olhei para minha roupa e de volta a Alex. Com a testa franzida, perguntei enquanto ria:

- Quem foi o idiota que te disse que eu consegui?

Me sentia uma impostora ali, fazendo Alex rir enquanto o contato das nossas peles me fazia arrepiar e sentir o estômago estranho. Nós éramos melhores amigos. Definimos no começo da amizade que era o que sempre seríamos. Por que eu tinha que estragar tudo?

No começo éramos só nós. Renegados e excluídos. Eu com meu jeito desajeitado e óculos e ele com seu corpo magro e inteligência acima da média. Costumávamos ser clichês ambulantes; exceto que apesar dos óculos eu não era uma nerd, não era inteligente acima da média e não era fanática por Star Wars (desculpe o estereótipo). E Alex começou a praticar esportes quando conheceu Candice e ficou menos magrelo e mais forte. Quer dizer, agora ele tinha um tanquinho.

Eu, infelizmente, não era a garota que tira os óculos, solta o cabelo e arrasa no baile, conquistando o cara mais popular da escola. Eu não tinha uma barriga lisa e nem autocontrole o suficiente pra adquirir tal coisa. Umas das minha únicas qualidades era meu cabelo, e eu não enxergava sem meus óculos (lentes de contato estavam fora de questão).

Saí de baixo do braço de Alex e sorri nervosamente. Caramba, agir normalmente era difícil.

- Tudo bem? - perguntou ele com um ar de curiosidade.

- Perfeito. - Fiz um sinal de O.K. que ficou ridículo.

- Está esquecendo que eu te conheço mais do que... qualquer um? - Alex arqueou a sobrancelha. Eu não conseguiria mentir pra ele. Então, omitiria.

- Qual é meu quinto sabor de sorvete preferido? - indaguei com um dedo acusador.

- Ah, essa é muito fácil. Menta - respondeu todo convencido. - Agora vai me falar porque você tá agindo estranha desde o verão?

Droga. O verão. Foi quando havia começado. Fomos acampar com a família dele; meus pais estavam numa fase ruim (quando é que eles já tiveram uma fase boa?, me perguntava), e Alex e eu dividimos uma barraca (os pais confiavam mesmo em nós). Candice estava nas Bahamas nessa época.

Fomos dormir depois de ficar no lago e estava mais frio que pensávamos. Alex havia nadado e eu ficara até onde meus pés tocavam o chão. Vendo minha tremedeira, Alex me abraçou durante a noite. Provavelmente achou que eu estava dormindo, mas eu senti o corpo quente dele contra o meu e foi diferente das outras vezes em que nos abraçamos ou dormimos na mesma cama. Meu coração estava estranhamente acelerado e eu rezei pra ele não sentir aquele beija-flor batendo as asas no meu peito. Acordei antes dele e me virei de frente pra olhar seu rosto. Ele era tão lindo. Com seus olhos azuis e cabelo castanho, a pele um pouco queimada de sol. Passei a mão no rosto dele e senti sua respiração quente no meu rosto, seu peito subindo e descendo. Foi a primeira vez que desejei que fossemos mais.

Amigos não agem como se estivessem nervosos perto um do outro.

- Sabe o quê? - fingi refletir. - Você tem razão, me desculpe. É só toda a tensão com meus pais... - Era verdade. Só não toda a verdade.

Alex não pareceu totalmente convencido, mas ele era aquele tipo especial de pessoa que não insiste quando percebe que falar sobre qualquer seja o problema não é o que você quer, então só assentiu.

- Eu sinto muito. - Ele colocou a mão no meu ombro. - Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

- Seu primo David "Bíceps" manda lembranças - brinquei, mas ele não riu.

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