30. Alex

7K 590 239
                                    

Zoe me olhava com tanta intensidade que fiquei com medo.

 Medo do que ela ia dizer. Medo de que, ao tentar conquistá-la, ter feito oposto e acabara a afastando por quebrar nossa promessa. Medo de, por uma chance remota, ela realmente sentir o mesmo, como eu desconfiara por um curto período de tempo, e a gente estragar tudo.

 Então, porque quando temos medo tendemos a voltar para o que é familiar mais do que por qualquer outra motivo, falei antes que ela pudesse:

 - Fico tão feliz que somos amigos.

 Para um garoto de boletim excepcional, eu podia ser bem burro.

 Lágrimas, eram lágrimas nos olhos dela. E era ela correndo aquele borrão cor-de-rosa se afastando.

 E então me atingiu como se eu tivesse levado um soco no estômago.

 Querer que ela notasse que eu estava diferente não era o mesmo que fazer ela pensar eu estava agindo estranho?

 Estranho como ela vinha agindo desde o verão.

 Estranho como arrumar uma briga por um acidente com chá quente e ficar nervosa perto de mim.

 Estranho como alguém fica quando está apaixonada por outra.

 “Você sabe que a Zoe está apaixonada por você, não sabe?” Até Candice, contra todas as chances, havia me dito.

 - Droga.

 - Os caras não percebem até perceberem. - Kat parecia ter aparecido atrás de mim do nada.

 Ela deu um sorrisinho quando olhei para ela, como se não tivesse dito nada.

 - Ah, não liga pra mim - disse inocentemente.

 Ela tirou a cartola da minha cabeça e colocou na de Elliot por cima da touca de Finn. Depois arrancou a bengala com uma bola redonda com listras diagonais no topo das minhas mãos e parou na minha frente, movendo os braços loucamente.

 - Tá esperando o quê, seu idiota? Vai atrás dela!

 Meus pés desgrudaram do chão e desatei a correr.

 Eles me levaram a casa da Chloe, onde eu sabia que seria o primeiro lugar que Zoe iria.

 Chloe esperava junto ao batente da porta da frente.

 - Finalmente! Eu sabia - disse mais para si mesma do que pra mim.

 - Onde ela está? - perguntei ofegante da corrida.

 - Eu prometi que não contaria - informou ela me olhando de esguelha.

 - Por favor.

 - Não posso - respondeu com pesar.

 E aí começou a cantarolar uma canção. Reconheci na mesma hora. Não porque a tinha ouvido minutos antes na festa, mas porque a tinha ouvido havia pouco mais de um ano, num evento importante. Em um casamento. No casamento da própria Chloe e Maggie.

 - Obrigado - agradeci com um meneio e voltei a correr.

 Achei irônico o fato de só poder correr tanto por praticar lacrosse - cuja vaga no time Candice me ajudara a conseguir.

 A sensação que eu tinha era de pertencer. De que meus átomos queriam ir pra casa.

 Me obriguei a parar quando vi Candice sentada num balanço no parque. Newt e Maddie estavam mais atrás, tentando pegar um o outro no colo.

 - Já não era sem tempo - falei, me referindo aos nossos amigos bêbados, para quebrar o gelo e me sentei no balanço ao lado do dela.

 Candice parecia ter feito as próprias regras com vestido angelical branco e sapatos de um vermelho reluzente combinado com o arquinho de chifrinhos.

Nós Podemos Ter TudoOnde histórias criam vida. Descubra agora