Tudo bem, eu podia fazer isso. Podia ser a melhor amiga de Alex mesmo estando apaixonada por ele. Ele nunca iria saber, disse a mim mesma.
- Ei, mocinha - chamou um homem careca na mesa 5. Só aí lembrei que estava no trabalho.
Ser gentil, anotar o pedido, sorrir, trazer o pedido, sorrir, depois fazer tudo de novo.
Não era um trabalho ruim. Alguns clientes eram um pé no saco e muito exigentes. E vai por mim, se você é tão exigente não deveria comer aqui. Mas sempre tinha aquele cliente que fazia valer a pena. O cliente que elogiava a comida ou o atendimento. O cliente que era legal de verdade e te contava uma coisa totalmente aleatória que te fazia revelar algo sobre você também.
Jim, o cara careca, não era um deles. Por isso corri e peguei o pedido dele.
- O Reclamão não faz sentido. Como tudo pode ou estar apimentado demais ou faltar pimenta e ele ainda voltar toda semana? - indagou Becky, uma amiga que trabalhava comigo, mas não saímos fora do trabalho porque ela tinha 32 anos e me achava nova de mais para o que ela considerava diversão.
- Ele provavelmente não tem nenhum lugar melhor pra estar - sugeri com um dar de ombros e uma risada que me fez sentir culpada.
Levei os burritos e sorri. Ser gentil, anotar o pedido, sorrir, trazer o pedido, sorrir, depois fazer tudo de novo.
Quase no fim do meu turno chequei minhas mensagens.
Não seja demitida até eu chegar aí. Quinze min.
Minha irmã era a melhor, sempre vinha me buscar já que a nossa mãe estava sempre no trabalho e nosso pai em qualquer lugar menos em casa.
Enquanto guardava o celular no bolso do avental reparei no garoto que acabara de entrar. Ele me parecia vagamente familiar, e era um gato, devo admitir. Apesar de ser uma das mesas de Becky, caminhei até ele.
- Quer pedir? - perguntei com o bloquinho em mãos.
- Por que não me surpreende? - respondeu ele com um sorriso que fez meus alertas soarem. Com certeza um conquistador. - Vim da Nova Zelândia - acrescentou sem necessidade.
- Certo - falei com o sorriso automático e saí.
- O que tiver pronto aí - anunciei para a cozinha.
E quando achei que tinha desviado de uma bala, Candice entrou e se sentou numa das minhas mesas de atendimento do lado de fora. O clima de setembro estava agradável pra isso.
Ela me viu e acenou, me obrigando a ir atendê-la. Me senti mal por pensar assim na mesma hora. Candice não era uma concorrente a quem eu deveria odiar. Ela já tinha o Alex. E ela era legal, eu só estava sendo boba. Ouvi dizer que pessoas apaixonadas fazem isso.
- Zoe, senta aqui - falou ela quando me aproximei.
Sentei em uma das cadeiras de madeira.
- Tenho que trabalhar, então não posso demorar - avisei.
Candice sorriu com seus lábios de gloss.
- É rápido. Só queria me desculpar por mais cedo. Seu cabelo é lindo e seus óculos são quase parte da sua personalidade.
Suspirei de leve.
- Alex te mandou aqui pra dizer isso? - eu quis saber.
- Mais ou menos. Ele me disse que eu fui uma babaca e que deveria fazer algo sobre isso - admitiu ela.
E sobre o meu peso?, eu quis perguntar. Mas uma vitória de cada vez.
- Carter, ei. Pode trazer mais nachos? - ouvi o neozelandês me chamar. Ele devia ter lido meu nome no crachá. Eu usava o Carter porque meu pai era policial e vai que um ladrão ou sequestrador em potencial entrassem no restaurante? Iam pensar duas vezes ao ver que a filha do policial Daniel Carter estava no cômodo. Calculei mal apenas o fato de existir milhares de Carters por aí.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nós Podemos Ter Tudo
RomanceZoe era boa em manter promessas. Como quando sua mãe disse que ela deveria voltar até as 22h na primeira vez que foi a um show, e 21h59 ela estava girando a chave na porta. Ou quando sua irmã pediu que ela guardasse o que era o maior segredo dela n...