11. Zoe

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Estava imaginando como estaria indo o jantar de Alex. Estaria indo melhor que o meu?

Apesar de estar apreciando a lagosta, a tensão entre meus pais era palpável. Ninguém perguntou sobre o dia de ninguém. Ninguém sequer abriu a boca a não ser para receber a comida do garfo.

Meu pai olhou o celular, levantou da mesa e se foi antes de a última garfada terminar a jornada pelo sistema digestório.

Ajudei minha mãe a lavar a louça em silêncio. Depois de certo tempo perdemos a energia para falar.

- Ouvi dizer que sua irmã e Maggie vão adotar - comentou ao guardar o último prato.

- É. Daqui umas duas semanas.

- É... - E foi aí que a perdi pra introspecção.

Voltei para o meu quarto e vi Fergus deitado bem no centro da cama. O empurrei e ouvi ele reclamar.

- Já entendi, Fergus. E já falamos sobre isso - falei, me deitando.

O dia seguinte seria sexta-feira e o dia depois daquele seria sábado. Alex ia me ensinar a nadar. Tínhamos combinado com o zelador e ele nos deu uma chave pela nossa mesada.

Então precisei viver o resto da noite de quinta, e levantar de manhã na sexta e ir a escola. Eu gostava de passar tempo com Alex, apaixonada por ele ou não.

Só de pensar nisso murchei. Tudo por causa de um maldito acampamento. Decidi que odiava acampamentos enquanto Alex entrava no ônibus com uma cara não muito boa. Dei espaço para ele se sentar do lado da janela.

- Nem pergunte - já foi falando.

- Ah, meu amigo, você age como se não me conhecesse.

Alex riu e uma sensação vitoriosa se apoderou de mim. Apesar do aparente mal-humor ele riu pra mim.

- Então desembucha - ordenei.

- Digamos que não foi o melhor jantar da minha vida - resumiu ele.

- Tão ruim assim?

- O pai dela não é meu maior fã, pra dizer o mínimo, e eu e Candice meio que brigamos.

Não me orgulhei da curiosidade que invadiu minha mente. Vocês terminaram?, eu quis perguntar, mas ao invés disso só bati de leve nas costas dele.

- Mas fizeram as pazes? - perguntei casualmente.

- Eu mandei uma mensagem de bom dia com uma carinha feliz que foi totalmente ignorada. Baseado nisso eu diria que não, não fizemos as pazes.

- Por que vocês brigaram afinal?

Alex ficou em silêncio, como se estivesse decidindo se deveria dizer ou não.

- Não importa - respondeu finalmente. - Quando chegarmos na escola vou dar um oi e ver no que dá.

- Uhum - concordei levemente desinteressada, mas tentando não dar na cara. Que ótima amiga eu era.

- E amanhã a senhorita vai aprender a nadar - mudou de assunto.

- Vou tentar, pelo menos - eu disse. - Vê se não me deixa morrer afogada. - A imagem de Alex fazendo respiração boca a boca surgiu na minha cabeça automaticamente e eu corei. Deixei o cabelo cair no rosto pra disfarçar.

- Vou tentar, pelo menos - respondeu ele com um sorriso bobo.

Dei uma tapa em seu ombro.

- Ai ai - reclamou, colocando o braço erguido em defesa e rindo. - É brincadeira, maluca. Eu nunca deixaria nada acontecer com você.

***

Não fui com Alex tentar resolver seus problemas com Candice. Encontrei Kat (não coincidentemente; havia mandando mensagem para ela) no caminho entre o ônibus e o refeitório, onde a namorada de Alex se encontrava sentada em uma mesa com as pernas cruzadas. As botas iam até quase o joelho e ela vestia uma jaqueta de couro vermelha.

- ... quando na verdade diluir é diminuir a concentração - tagalerava Alex quando percebeu que eu não estava mais em movimento.

Ele olhou pra trás e me viu parada ao lado de Kat. Ela acenou sarcasticamente, mais dizendo "tchau" do que "oi".

- Você não vem? - perguntou hesitante, indicando o refeitório. Tentei não fazer nenhuma expressão que me entregasse, porque a resposta era nem pensar.

- Até depois, Alexander - disse Kat, me puxando pra dentro da escola.

Fui com ela e paramos perto do seu armário. Na porta não havia fotografias, apenas uns enfeites coloridos e brilhantes. Ela puxou um livro.

- Até que eu gosto desse Alex. Mas tive que te impedir de dizer a coisa errada.

- Obrigada... eu acho.

- A questão é que concordo com a sua decisão de não se envolver no relacionamento dele. - Kat fechou o armário e começou a andar. - Mas ainda não sei o que você está fazendo e com que intuito. - Ela olhou pra mim. - Acho que nem você sabe.

- Estou decidindo enquanto faço - respondi sem muito convicção. - Mas sábado vamos vir aqui para ele me ensinar a nadar - contei.

- O quê?! - Kat me segurou pelos ombros. - Você não sabe nadar?

Me desvencilhei dela.

- É com isso que está preocupada?

- Como se você fosse ter coragem de dizer ou fazer alguma coisa.

- Não se trata de coragem - protestei. - Mas chega desse assunto. Parecemos essas garotas de filmes que só falam sobre caras como se nada mais acontecesse em suas vidas.

- Vamos matar aula na biblioteca - falou Kat, me empurrando até as escadas. - Tem wi-fi grátis.

Nem discuti. Apenas a segui até estarmos sentadas no fundo da biblioteca encostadas na estante de biologia.

Kat me ofereceu um dos fones e eu peguei. Eu não era exatamente fã de Taylor Swift, mas admirava o fato de ela não ter medo de se expor. Era uma habilidade que eu nunca dominaria.

- Quer bala? - ela ofereceu. - São azedinhas. - Kat estendeu o braço ainda mais e balançou o pacote.

Enchi a mão.

- Esperava mais classe de uma inglesa - brincou, colocando apenas uma na boca.

- Sua mãe não é de Londres? - provoquei.

Ela estalou a língua e comeu mais balas. Enfiei tudo que tinha na mão na boca.

- Irrelevante! - respondeu e nós rimos.

Quando éramos crianças, apesar de Chloe ser 10 anos mais velha, nós fazíamos apostas com balas. Ela odiava chicletes, mas adorava alcaçuz. Maggie aceitou minha dica e oferece um pra ela quando sabe que não vai ganhar uma discussão.

Kat girou uma ficha de cassino nos dedos e deduzi ser do pai. Cogitei se deveria fazer alguma pergunta, mas ela a guardou um segundo depois no bolso do jeans desbotado.

- Eu tinha uma banda no Arizona - falou do nada. - Quer dizer, eu era baixista. Mindy era a vocalista.

- Como vocês se chamavam?

- Engraçado essa frase estar no passado. - Ela deu uma risada rouca. - Eles ainda existem. Só tem um novo baixista. Deserted Paradise. É o nome.

- Aposto que eles são um lixo sem você.

- É, aposto que sim.

Como é difícil deixar as coisas acabarem, percebi. Ou deixar que elas continuem a existir sem você.

Nós Podemos Ter TudoOnde histórias criam vida. Descubra agora