27. Zoe

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- Esqueci… uma coisa - falei quando Alex me perguntou sobre o plano de ficar até segunda de manhã para minha irmã me levar a escola. - Chloe me deixou em casa pra pegar e aproveitei o ônibus.

 Não era exatamente uma mentira, se você considerasse que Chloe me trouxera até onde eu poderia ir de ônibus com Alex para, segundo os planos dela, me declarar.

 Não tive coragem, é claro. Ainda tentava desesperadamente agir normalmente. Então fiz o que sempre fazia, reclamei da música animada que sempre me lembrava da série Grimm, quando a corredora era atacada por um blutbad; dormi e etc. Só não pude ficar brava por ser acordada quando Alex o fazia com tanto carinho.

 Para mim, nunca tinha sido sobre aparência, mas um olhar para aquelas olhos azuis, as covinhas, a franja caindo na testa, eu me perdia completamente. Meu cérebro ia direto para as funções básicas. Dependendo do dia isso significava agir feito maluca, arrumar briga sem fundamento e por aí vai.

 Desde que ele fizera a pergunta, eu sabia que tinha que ser mais cautelosa. Principalmente porque havia me ocorrido que se ele gostasse de mim de outro jeito e desconfiasse que era o que eu sentia também, teria feito outra coisa - como recitar um poema (bem a cara dele) ou me beijar num “tudo ou nada” (menos a cara dele) - que não uma pergunta totalmente direcionada sobre a merda dos meus sentimentos.

 “Você não gosta de mim, gosta?”, imitei a voz dele para Kat enquanto recortávamos caveiras de papel.

 - Francamente - murmurei.

 Alex já estava no treino, juntamente com Kevin. O Comitê que me incluía no momento estava dividindo funções.

 Kat me olhou por cima da folha que ela recortava.

 - A mentira tem perna curta - disse de uma forma meio aguda.

 - É, tá - resmunguei, pegando outra folha. Ao nosso lado na mesa já haviam outros recortes e pacotes de aranhas falsas.

 - Não gosto de interferir com o destino, mas notei que seu amigo Alexander parece um pouco mais maníaco. Me pergunto o porquê - falou enigmática.

 - E a Chloe não sai do meu pé - continuei falando. - Você tem que falar pra ele, Zoey - imitei. - Só chuva cai do céu, Zoey.

 Minha amiga balançou a cabeça.

 - Suas imitações são uma negação, conselho de amiga. E ouvir o que as pessoas te dizem não é de todo ruim.

 - Aff - falei. - Deveríamos fazer algo mais realista - continuei como se fosse o assunto desde o começo. - O Halloween deveria ser divertido e assustador. Não só divertido.

 - O que você sugere?

 - Sangue.

 Kat arregalou os olhos.

 - Falso, quero dizer - acrescentei, ao que ela pareceu se acalmar.

 - Vou ver o que acho na sala de teatro - disse ela.

 Sozinha contemplando umas teias de aranha que havíamos feito com material de arte, percebi pelo canto do olho um movimento.

 Os corredores estavam mal iluminados já que passava do horário de aula.

 Meu coração acelerou. Você está sendo boba, falei a mim mesma chegando mais perto. Drogas de filmes de terror!

 Uma pessoa apareceu do nada e eu dei um grito.

 Candice fez uma careta de impaciência.

 - Qual o motivo de escândalo? - perguntou com a voz entediada e as unhas sujas de terra. Uma folha no cabelo.

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