29. Zoe

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Tínhamos treze anos.

 Alex e eu estávamos deitados na grama enquanto ele me ensinava a jogar xadrez.

 - Me atrevo a chamar de “arte” - dizia ele todo esnobe.

 Eu olhei para o céu. O sol era uma bola de luz e calor distante. Não longe demais. Longe o bastante. De outro jeito morreríamos congelados ou queimados.

 - Gosto das nuvens de algodão no céu. Não sei porque minha mãe diz que o céu está bonito quando não tem nada além do azul. Ela não vê o que eu vejo. - Movi meu cavalo. Estávamos na décima segunda partida e ele havia ganhado todas. - Xeque.

 Alex franziu a testa antes de fazer a próxima jogada e usar o bispo para sair do xeque.

 - Nuvens não são de algodão - disse ele em resposta. - São partículas de gelo, água ou ambos em suspensão na atmosfera que se condensaram ou liquefizeram por causa de fenômenos atmosféricos.

 Meu eu de treze anos revisou os olhos. Garota esperta.

 - Eu sei que não são de algodão de verdade, seu bobo. Você é que não entende o que é “modo de dizer”.

 - Claro que entendo. São figuras de linguagem. Metáfora, comparação, metonímia, prosopopeia, pleonasmo - recitou ele.

 Fiz minha próxima jogada.

 - O que você vê? - finalmente Alex cedeu à curiosidade.

 Deitei na grama e apontei.

 - Histórias. Formas.

 Alex moveu a torre e se deitou ao meu lado. Os olhos azuis pareciam refletir o céu.

 - Ah, isso se chama pareidolia e é um fenômeno psicológico…

 - O nome não importa. Pare de pensar com seu cérebro e pensa com seu coração por um instante.

 Percebi a cara dele de quem achava que eu não fazia sentido algum.

 - Tudo bem. O que você está vendo agora?

 - Essa, por exemplo - apontei - parece um coelho. Ele está… saindo da cartola.

 - Uma ponte de hidrogênio - disse rindo e apontando.

 - Você está pegando o espírito.

 Nós dois olhamos para a mesma ao mesmo tempo:

 - Um coração! - falamos ao mesmo tempo.

 Parei de olhar e me sentei. Eu estava triste porque meus pais brigavam o tempo todo.

 Alex sabia, apesar de sermos amigos há apenas seis meses. A gente sabia que nossa amizade não era nada passageiro como o verão que ia e vinha.

 - Por que eles se machucam se se amam? - perguntei.

 - Porque é o que casais fazem - respondeu ele simplesmente.

 - Eu não entendo… - lamentei.

 - Vamos fazer uma promessa - sugeriu ele, segurando minha mão. - Nunca vamos ser como eles. Vamos ser sempre amigos.

 Olhei para ele encantada com a ideia.

 - Sempre amigos - concordei e demos os dedinhos, porque era assim que se selava uma promessa quando se tinha treze anos.

 Movi minha rainha.

 - Xeque-mate.

 Quarta-feira, trinta e um de Outubro, dizia o calendário agora. 9h58 da manhã. E ali estava eu, cinco anos depois, a horas de quebrar essa promessa.

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