Bebi quase a garrafa toda de água num gole só.
Claro que Candice ficava linda com aquela roupa de tênis. Não eu. Por que eu concordara com aquilo mesmo? Tênis em plena quinta-feira.
Talvez ela gostasse de eventos nesse dia da semana. Como o jantar oficial para Alex conhecer os pais dela. E aquilo não havia corrido muito bem.
Mas Kat parecia estar se divertindo e também estava linda com a saia com pregas e a regata. Eu me sentia fantasiada para o Halloween, que aconteceria dali mais ou menos uma semana. Não que tenista estivesse na minha lista de possíveis fantasias.
O pai e a mãe de Candice eram membros do clube em que nos encontrávamos, para o qual ela nos chamara no meio da semana para jogarmos tênis.
Na verdade, quem havia feito o convite tinha sido Alex, que não disfarçou que não exatamente queria Kat lá. Mas jogaríamos em duplas e eu precisava de uma, já que ele ficaria com a namorada.
Ele pareceu tão desesperado que eu dissesse sim, ainda mais porque minha relação com Candice não era das melhores, que cedi.
Minha experiência com tênis se restringia ao Nintendo Wii da Chloe. E nem mesmo na realidade virtual eu era boa.
Então eles estavam ganhando de lavada. Kat era competitiva, mas não o bastante pra ficar brava comigo por não acertar uma, e ainda por cima levar boladas que com certeza deixariam marcas.
Demos uma pausa para desancar e foi aí que usei a conta da Candice para pedir a garrafa de água e Kat uma vitamina de aparência muito chique do tipo que as madames que ficam na beira da piscina bebem, observando os homens jovens e fofocando enquanto gastam dinheiro desnecessariamente.
- Como você está? - quis saber ela, girando o canudo azul no copo de vidro.
Estávamos sentadas em uma mesa com guarda sol. Não que o dia estivesse super quente, mas o calor vinha do exercício físico.
Abaixei a garrafa; apenas um restinho havia restado no fundo.
- Eu estou bem - respondi. - Só queria uma vitória, entende?
Kat assentiu e tomou um gole da bebida rosa e grossa.
- É só que… Como ela pôde? - falei do nada e Kat olhou pra mim com o canudo na boca. - Por que continuou com ele e teve duas filhas se estava infeliz o bastante a ponto de procurar consolo em outro homem?
- Nada disso é por sua causa, Zoey - disse Kat, colocando a mão sobre meu braço. - Você é uma boa filha. E era uma boa garçonete. Uma boa aluna. É uma boa garota para um cara gostar. Mas acima de tudo você é humana.
- Obrigada por dizer isso. Mas você não sabe quantas vezes meus pais brigaram por minha causa. O brinquedo quebrado. - Suspirei. - Sem emprego, um boletim péssimo se eu não colar, pais infelizes…
- A propósito… - Kat tirou um robô de brinquedo da bolsa. O robô com defeito da loja onde compramos os presentes de Tyler.
- Não estou entendendo - falei, bebendo da vitamina dela logo em seguida.
Ela apertou o botão e o brinquedo começou a falar.
- Eu escondi e voltei pra comprar pra te mostrar que tudo que ele precisava eram novas pilhas. Não está quebrado. E nem você.
Contra todas as chances, eu ri.
- Você sabe mesmo provar um argumento.
O garçom levou o copo vazio.
- Vamos lá ganhar esse jogo - disse Kat.
- Eu sou um desastre e você sabe. Eu admito a mim mesma, então você pode admitir também. - Levantei da cadeira de madeira sob o guarda sol. - Mas com certeza seria bom ganhar essa. Como eu disse, eu poderia usar uma vitória.
- Engraçado como às vezes tudo que você precisa fazer é desejar.
Não entendi o que ela quis dizer. Mas, surpreendentemente, paramos de perder feio. Candice e Alex se esbarravam, perdiam o saque, Alex derrubava a raquete ou fugia da bola. Kat surpreendia com suas habilidades no esporte, pareando com Candice, que gritava com Alex para tirar os olhos da bunda.
Por sensatez, nós ríamos discretamente para não deixar a fera ainda mais nervosa.
Não faltava muito para as 18h quando decidimos encerrar no empate. Candice nos fulminou com os olhos, mas apenas deu um tchau murmurado e xoxo quando Kat e eu dissemos que íamos trocar de roupa no vestiário.
Fiquei com dó de deixar Alex ali, único alvo da fúria da garota que ele namorava.
A mãe de Kat já estava a caminho como minha carona, então acenei e segui minha amiga, desejando sorte telepaticamente à Alex.
- Você sabe que ele deixou você ganhar, não sabe? - perguntou Kat enquanto amarrava o cadarço do All Star vermelho.
Coloquei minha blusa rosinha de caxemira por cima da camiseta com que eu viera.
- Do que está falando?
Ela prendeu o cabelo num rabo de cavalo de qualquer jeito.
- Deixa pra lá - disse e olhou para a pequena janela no alto da parede. Eu tirara os óculos para jogar por trauma da educação física, o que apenas dificultou diferenciar meus amigos da bola verde-limão, porém os coloquei de novo para ver o que prendia a atenção de minha cara amiga.
Embora estivesse relativamente longe, podia-se distinguir um casal discutindo acaloradamente. Alex e Candice.
- Não interfira - me cortou Kat assim que abri a boca pra falar que talvez eu devesse ir até lá dar um apoio. - Eles que se resolvam.
Olhei para o relógio na tela do celular. Eram 17h40 quando entramos no carro.
Mal sabia eu que em três minutos, durante a discussão de Alex e Candice, o destino blefaria numa jogada perigosa e aumentaria as apostas o mais alto que já estiveram até aquele momento.
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Nós Podemos Ter Tudo
RomanceZoe era boa em manter promessas. Como quando sua mãe disse que ela deveria voltar até as 22h na primeira vez que foi a um show, e 21h59 ela estava girando a chave na porta. Ou quando sua irmã pediu que ela guardasse o que era o maior segredo dela n...