Sério, qual era o problema dele?
Já estávamos indo dormir, meus óculos pendurados nos meus dedos, quando Alex veio com aquilo.
- Você não gosta de mim, gosta? - A pergunta fora tão direcionada que mal foi de fato uma pergunta.
Olhei-o confusa com o choque inicial, mas tentei me recompor.
- Q-quê? - gaguejei. - Não. - Dessa vez fui mais firme; falei como se fosse a coisa mais boba que já tinha ouvido, mas deixei escapar outro: - O quê? - Evitei os olhos de Alex. - Vamos dormir.
Discrição não era uma coisa que eu apontaria como um forte meu, mas nunca imaginei que ele desconfiasse.
E mesmo se o fizesse, por que iria dizer alguma coisa? Se queria tanto que a resposta fosse não, seria bem mais prático fingir que não notara nada.
Percebi que de primeira, eu podia dizer que não podia ser sincera porque ele tinha uma namorada, porém, quando isso mudou eu só não queria ouvir que ele não sentia o mesmo.
Foi o que ele dissera, de certa forma, ao fazer aquela pergunta.
Ele merecia passar a noite no chão, mas não consegui deixar ele lá me olhando desconcertado com a mão na base da coluna.
Eu estava com tanto sono que apenas dei espaço para ele deitar e fechei os olhos. Parte de mim não sabia o que era real ou o que era pesadelo, com a linha entre os dois mais tênue do que nunca ultimamente, mas achei ter ouvido ele murmurar um “droga!” por algum motivo.
Achei que as coisas ficariam estranhas na manhã seguinte. Não foi o que aconteceu. Pelo menos não de um jeito ruim.
Chloe havia saído com Maggie e Tyler para a igreja. As duas não eram praticantes, apesar de acreditarem em Deus. Mas Tyler era, então elas levariam ele quando quisesse ir.
- Cereal? - Alex ofereceu a caixa com uma espécie de sorriso maníaco.
Peguei com o cenho franzido e coloquei na tigela verde, colocando o leite depois. A tensão que achei que encheria o ar não estava lá.
- Meu pai só vem daqui a algumas horas. Quer ver As Crônicas de Nárnia? - sugeriu. Poderia ser uma sugestão inocente. Se As Crônicas de Nárnia não fossem meus filmes favoritos.
Foi quando percebi que ele estava tentando compensar pela pergunta idiota que fizera.
- Claro - respondi.
Isso continuou até minha irmã, Maggie e Tyler voltarem.
Ele fez o almoço - o fricassê de frango que eu gostava. Tão organizado com as medidas, o tempo e a temperatura. Um pano de prato pendurado no ombro. Aquela era uma imagem que me fazia sorrir do sofá onde eu estava.
Alex picou os tomates com uma concentração sem igual. Sabia que ele podia sentir os meus olhos nele. A cena era um tanto engraçada, visto que ele estava de pijamas.
- Pare de encarar - disse ele, levantando o rosto da salada que preparava.
- Vou pensar no seu caso - falei de brincadeira. Ele jogou uma rodela de tomate em mim.
- Ei! - protestei. Alex riu, o que me fez rir. - Você sujou o sofá. - Peguei o tomate. - E pare de desperdiçar comida.
Alex sorriu e começou com as cebolas. Eu continuei encarando.
- Não chore! Quer que eu brigue com essas cebolas malvadas? - zombei.
- Posso lutar minha próprias batalhas. - Ele levantou a faca com uma risada e os olhos lacrimejando.
Mais tarde comemos sorvete de sobremesa enquanto repetíamos as falas do filme.
- Você sabia que o sorvete surgiu na China? E Nero, segundo rumores, na época da Roma antiga, já o consumia mandando trazer neve das montanhas e misturando com frutas - contou entre uma colherada e outra. - Mas foi Marco Polo quem levou do Oriente essa receita para a Itália.
- Minha eterna gratidão à essas pessoas - comentei. Alex riu. Ele era cheio desses fatos de que nunca se lembrava onde tinha lido.
Chloe e Maggie chegaram com Tyler. Ele estava animado porque encontrara Mia e a irmã na igreja. Nos contou tudo sobre isso enquanto coloríamos alguns desenhos na mesa da cozinha.
Aparentemente a garota mais velha se chamava Kaya. E ela havia prometido de dedinho que traria Mia para brincar sempre que pudesse (do que Mia quisesse, porque Tyler devia uma a ela desde o supermercado).
Alex contornava mordendo a língua por causa da concentração uma árvore para Tyler quando o pai dele veio buscá-lo.
Conforme anoitecia e todos começaram a bocejar, fui ao banheiro escovar os dentes antes de me deitar.
Uma Chloe de pijama parou encostada no batente da porta. Olhei pra ela com a boca espumando de pasta de dente.
- Então Alex não tem mais uma namorada - disse ela casualmente, tirando um grão de poeira invisível do ombro.
Dei de ombros e cuspi na pia. Saí do banheiro e fui indo em direção ao quarto.
- Não se esqueça de correr riscos, Zoe. Só chuva cai do céu.
Uma infinidade de coisas caem do céu, pensei, mas não disse.
- Não esse risco - respondi. - Não posso apostar nossa amizade num sentimento que provavelmente nem é recíproco.
Chloe levantou as sobrancelhas.
- Provavelmente? Não com certeza? Eu diria que suas chances são muito boas.
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Nós Podemos Ter Tudo
RomanceZoe era boa em manter promessas. Como quando sua mãe disse que ela deveria voltar até as 22h na primeira vez que foi a um show, e 21h59 ela estava girando a chave na porta. Ou quando sua irmã pediu que ela guardasse o que era o maior segredo dela n...