6. Alex

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Zoe estava na janela de novo. Às vezes ela ignorava o significado de revezar.

Assim que me sentei ela me estendeu um copo de café do Stumptown Coffee Roasters.

- Como você conseguiu isso a essa hora da manhã? - perguntei pegando o copo.

- Acordei extremamente cedo - respondeu ela. - Ou posso ter comprado no Starbucks - acrescentou.

Semicerrei os olhos e tomei um gole. Eu e Zoe tínhamos uma brincadeira: um dia fomos no Stumptown e no Starbucks no mesmo dia e guardamos os copos, sem nomes, dos dois. Às vezes comprávamos em um e trocávamos os copos pra ver se o outro percebia.

- Mmm - saboreei o café. - Definitivamente Stumptown.

- Estava me sentindo generosa hoje.

- Sei - provoquei.

- Ei! - Ela bateu no meu ombro. - Eu sou uma pessoa muito generosa. Lembra daquele dia que eu comprei cinco copos de limonada naquelas garotinhas? - lembrou ela.

- Claro que lembro. E se não me falha a memória, você tinha uma aposta com a Chloe sobre quem bebia mais limonada sem ir ao banheiro e você ganhou aquela jaqueta que queria.

- Nossa, cara, me dá um tempo - falou, com sua voz de rendição. - É um café de "obrigada por ficar do meu lado sobre o lance dos carboidratos e por me defender pra Candice".

Franzi o cenho um pouco surpreso.

- Eu sempre vou ficar do seu lado, Zoe - garanti.

- É uma coisa legal de se ouvir - respondeu ela, se virando pra mim.

- Eu sempre vou ficar do seu lado, Zoe - repeti o resto da viagem até a escola, mesmo com ela dizendo que já entendeu, mesmo ela tentando tapar minha boca, mesmo meu café esfriando. Eu queria ter certeza de que ela sabia.

Só parei de falar quando o ônibus parou e nós descemos. Candice nos esperava perto da entrada. Ela e Zoe sorriram uma para a outra e Candice me cumprimentou com um beijo.

- Amor, quero falar com você - disse Candice.

- Sobre o que? - perguntei receoso.

- Andou fazendo alguma coisa errada, baby? - Candy levantou as sobrancelhas.

- Que papo é esse? - Ri nervoso. Por que agia como se tivesse feito algo errado? Não conseguia pensar em nada que me fizesse sentir culpado.

- Eu tô brincando, amor. É que amanhã a gente faz cinco meses de namoro e eu quero que você conheça oficialmente meus pais num jantar ou algo do tipo - falou.

Olhei para Zoe por algum motivo desconhecido. Percebendo meu olhar, ela deu de ombros.

- Mas no meio da semana? - perguntei.

Candice pareceu meio impaciente com a minha pergunta.

- É uma quinta-feira, Alex. Se não quer ir, não vá, mas não arrume desculpas - se irritou ela.

- Não foi o que eu disse, Candy - me defendi. - Só achei que um final de semana seria melhor para ambas as partes - expliquei.

- Que partes? - insistiu minha namorada.

- Seus pais que trabalham e nós que estudamos.

- Ah - compreendeu ela -, certo. Não precisa se preocupar com isso. Minha mãe pediu folga e, como você sabe, meu pai não precisa sair de casa pra trabalhar.

- É, parece que você já planejou tudo - eu disse com certa ironia.

- Pois é. Tudo o que você precisa fazer é aparecer - concordou ela, sem perceber.

À essa altura Zoe já tinha desaparecido fazia um tempo.

- E use uma roupa legal - continuou. - Minha mãe trabalha com isso e vai pegar no seu pé se não vestir algo apropriado.

- E o que seria "apropriado"? - eu quis saber com um revirar de olhos.

- Alex, faz um esforço. Às vezes parece que eu faço tudo por nós enquanto você vai na onda - reclamou Candy.

- Tá, me desculpe - falei sem muito sinceridade. Eu sei, eu estava sendo um idiota. - Mas é sério? O que eu devo usar?

- Sei lá. Um suéter novo e calça cáqui. Aquela bege que seu pai te deu.

- Suéter novo?

- É, pra mostrar que você quer passar uma boa impressão - explicou.

- Tá legal - concordei pra encerrar essa conversa.

Por que eu não estava ansioso? Candice era linda, divertida, carinhosa e gostava de mim. A última parte sendo a mais importante. Mas conhecer seus pais num jantar formal não era atrativo. Eu havia encontrado os pais dela algumas vezes nos nossos meses de namoro; nada oficial. Oficial, refleti. Isso mudava alguma coisa?

Eu caminhava em direção à Zoe, que vi parada perto da cantina com a nova amiga, Kate (ou algo parecido), enquanto pensava distraído. Esbarrar em Zoe me trouxe de volta à realidade, além do líquido claro e quente que me queimou e deixou uma mancha escura de molhado na minha camiseta vermelha, com respingos na bermuda jeans branca.

A amiga de Zoe me olhou assustada, e a Zoe me olhou com raiva.

- Você tem sorte de eu ter me decidido por chá, hoje - esbravejou ela. - Nossa, Alex, qual seu problema? A aula começa dentro de alguns minutos e agora eu estou toda molhada.

- Eu também - argumentei.

- É, porque você é um tapado.

- Você parecia bem distraído - acrescentou a garota ao lado de Zoe.

- Poxa, valeu, Kate - ironizei.

- É Kat - corrigiu ela.

- Não precisa ficar tão brava - falei, me dirigindo a Zoe. - Foi um acidente. E você é a pessoa mais desastrada que eu já conheci - lembrei-a.

- Irrelevante - rebateu ela.

- Só porque você quer - me irritei.

Uau, essa briga era muito idiota. Totalmente aleatória e sem sentido ou fundamento. Mas Zoe não pareceu pensar o mesmo que eu, pois continuou falando e reclamando (exageradamente), mesmo quando o pátio esvaziou e todos foram para as salas, menos eu, ela e Kat.

Enquanto ela ainda me xingava senti uma ardência por baixo da camiseta. Levantei-a até o peito pra olhar a mancha vermelha que havia se formado em minha pele; e foi quando Zoe parou de falar. Ela ficou me olhando sem palavras até eu deixar a camiseta cair sobre mim novamente.

Ela piscou, visualmente desconfortável, algumas vezes e pareceu se recompor, dando umas batidinhas agressivas na própria camiseta, a qual o sol secava. Zoe vestia uma camiseta larga demais pra ela, com a estampa de uma pipoca com bracinhos e perninhas pulando na posição "bala de canhão" de um trampolim para um balde com várias outras pipocas, numa espécie de piscina de manteiga.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela e Kat saíram do meu campo de visão, me deixando com uma pergunta que eu nunca faria: Zoe parecia desconfortável por que achava essa uma visão desagradável ou por que gostava do que via? Ou eu estava viajando? Talvez ela ficasse desconfortável com qualquer tipo nudez - se é que chega tanto.

Bati com a cara numa máquina de snacks por estar com a mente em outro lugar novamente. Minha testa doeu e eu senti gosto de sangue. Agora eu tinha uma queimadura na barriga e estava com a cara machucada.

Caramba, eu estava numa onda de má sorte.

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