5

14 5 0
                                    

             As folhas das árvores balançam em uma sintonia extremamente cativante. É quase hipnotizante. Os bancos são pequenas relíquias que o tempo e a evolução da nossa cidade não conseguiram devastar. Pessoas de diferentes tipos andam de um lado para o outro.

             Gostaria de evitar o incomodo que esse lugar me causa, porém, "Alice" precisa de ar fresco. Até agora ela não conseguiu identificar o lugar que estamos, nos sentamos em um dos bancos e ela me pergunta:

              — Que lugar é esse?
 
              — Tente adivinhar... — proponho.

              — O que lhe garante que eu vou conseguir?
 
              — Como irá saber se não tentar?
 
              — Tudo bem! Como eu faço isso?
 
              — Feche os olhos, eu também vou fechar os meus.
 
              — Acho que você esqueceu que sou cega.
 
              — Não esqueci, feche os olhos. — ordeno.
 
              Ela fecha os olhos e em seguida eu também fecho os meus.
 
              — Agora, limpe sua mente.

              — Certo.
 
              — Inspire fundo.

              Inspiramos juntos.
 
               — Solte. — digo.

               — Deixe o ar do ambiente invadir seus pulmões e coloque seu foco nas ondas sonoras que estão presentes nesse espaço.
 
              Eu consigo ouvir sinos, provavelmente são de bicicletas. Obviamente eu sei onde estamos, mas é bem mais divertido fazê-la adivinhar.
 
               — Então, já sabe onde estamos?

               — Acho que sim...
 
               — Então diga — faço uma leve pausa e continuo — estou extremamente curioso.

               — Pelo som, o cheiro e a temperatura. Suponho que isso seja um parque.
 
               — Acertou, estamos em um parque.

              — Agora pode abrir os olhos. — digo.
           
             Com os olhos abertos, pude avistar um vendedor de algodão doce.
 
              — Fique aqui Alice, eu já volto, não sai daqui.
 
              — Aonde você vai?

              —... Só fique aqui, está bem?
 
              Saio antes que ela tivesse a oportunidade de perguntar outra coisa. Compro dois algodões doces um azul e um rosa. Volto para onde está Alice.

              — Voltei — anúncio sentando ao seu lado.
 
              — Trouxe algodão doce para a gente.
 
              — O que algodão doce?
 
              — É um algodão, só que doce e comestível.

              — Nossa, ajudou muito. — debochou.

              Retiro o algodão doce da embalagem e entrego em suas mãos.
 
               — Coma, você vai gostar!

               Ela me obedece, e logo após de dar a primeira mordida no alimento, um sorriso se estala em seu rosto. Uma mecha saliente do seu cabelo se desloca de seu penteado, eu levanto a minha mão esquerda suavemente e ponho a tal mecha para trás de sua orelha. Delicadamente meu dedo indicador desliza pela sua face, assim fazendo-a respirar bem fundo. Retiro minha mão de seu rosto antes que ela tivesse a oportunidade de me tomar como um atrevido ou aproveitador.

               Depois que a gente terminou de comer, um silêncio se estabeleceu no ambiente. Começo encarar o nada e viajar com minha mente para os momentos mais felizes que tive aqui. Meu pai sempre me trazia aqui para andar bicicleta. Noah sempre adorou andar de skate, ele podia se achar o maioral. Sarah era a princesa de nossos pais, ela só permanecia sentada ao lado de mamãe segurando um boneca de porcelana, acredito eu que ela ainda tem esse brinquedo guardado em algum lugar. Éramos muito felizes, se eu pudesse voltar no tempo aproveitaria o máximo de tempo com meu pai. Nossa família era perfeita. Quando eu conheci Alice meu já estava doente, o câncer presente em sua suas células sanguíneas, foi o levando aos poucos. Seu cabelo cacheado foi caindo com tratamento, sua pele foi perdendo a vida, mas seus olhos ainda eram seus olhos, ele sabia que estava partindo, mas fazia todos acreditarem que ele estava bem e que nada iria acontecer. Penso às vezes que um dos motivos pelo qual me apaixonei loucamente por Alice, foi originado pela forma parecida que meu pai me tratava. Não há um só dia que eu não penso nela, ninguém nunca me fez sentir algo tão puro e maravilhoso quanto ela fez, tenho todo o prazer de seu fantasma em minha vida, pois, assim sei que pelo menos uma parte dela está comigo.

               De repente sinto um toque em minhas mãos, um toque capaz de me tirar das minhas lembranças do passado e me trazer para as atividades do agora.
 

                — Obrigada. Sei que sou uma péssima pessoa para morar e nem agradeci. — diz ela.
 
                — Não precisa agradecer, meu apartamento é espaçoso.
 
                — Não falo só do apartamento, agradeço de um modo geral, se não fosse por você hoje eu não estaria aqui.

               — Você é única, sabia?

               — Olha, eu juro que eu não me lembro nada do nosso passado, mas gostaria muito de ter no mínimo uma pequena lembrança da nossa história. Por mais que eu não me recorde de seu rosto e da nossa trajetória juntos... — ela gira seu rosto para mim e continua — no entanto, sinto que eu realmente gosto de você, sim isso é uma loucura porque eu nem conheço você direito e nunca nem vi seu rosto, mas sinto que ninguém nunca me fez tão feliz quanto você me fez hoje. Antes eu tinha dúvidas de seus relatos, mas agora eu tenho certeza que é verdade, gostaria de tentar reescrever a nossa história. O que acha?

               Fico sem palavras, sem qualquer tipo de reação para tudo que ela falou, não posso ser hipócrita e dizer que não senti vontade de beijá-la, mas não estou pronto para seguir em frente. Mas como vou dizer isso a ela? Ela realmente acredita que era minha namorada.
  
                — Eu não sei o que dizer.
Ela tira suas mãos de cima das minhas.
                 
               — Eu sabia! Esqueça foi um erro estúpido da minha parte achar que você sentia o mesmo. Por favor, pode me levar de volta? Quero voltar para o meu quarto.
 
             — Me desculpe, eu...
 
             — Por favor me leve de volta!

ALICE E EUOnde histórias criam vida. Descubra agora