ALICE E EU

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Até algumas horas atrás achava que hospitais eram os lugares mais hostis e fortes para parentes e entes queridos, porém creio que delegacias conseguem, simplesmente arrancar os hospitais desse posto e se alojarem facilmente.

"O advogado irá chegar logo" repito esse mantra para mim mesmo na tentativa de amenizar-me e controlar-me. Não é difícil de esquecer, uma vez Alice disse que se algo viesse a acontecer era pra eu chamar ele, porém nada nunca aconteceu. Quando ela morreu pensei em convoca-lo, no entanto os peritos foram no local do acidente e não acharam nada e os legistas fizeram uma autópsia em seu corpo e também foi comprovado que foi realmente um acidente.

Samsung está atrás de uma grade como um animal enjaulado, o pior é que não posso fazer nada para ajudá-la, mas o Dr. Torres chegará logo. Nunca tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, porém torço para que seja um profissional sério e competente.

Em uma pequena quebra de tempo depois, o defensor de minha irmã chega no ambiente junto com o delegado e diz:

- Olá, me chamo Tan Torres e serei o advogado de Samsung Frey.

- Sou James Frey, irmão de Samsung. - digo apertando a sua mão.

- Você era namorado de Alice Braga? - pergunta.

- Sim.

- Há muito tempo que eu quero falar com você. Alice deixou um pertence dela comigo, ela havia dito que deveria entregá-lo.

- Creio que vocês podem resolver isso uma outra hora. - diz o delegado.

Saio da sala e deixo que o Dr. Torres resolva o que minha família fez. Pego o celular em meu bolso e ligo para o Noah.

- Que surpresa, irmão. - diz ele com um tom de deboche.

- Noah, ela é nossa irmã! Como você pôde?

- Nossa irmã morreu por causa daquela vadia!

- Samsung não tem culpa de nada! Noah, não vamos perder outra irmã... Retire a queixa.

- A minha irmã se chamava Sarah Frey e ela está morta! Não me culpe por querer justiça.

Encerro a chamada para não xingá-lo.

Minutos depois Dr. Torres sai da sala do delegado, no entanto a expressão que ele carrega em seu rosto é desanimadora e negativa. Torço para que as notícias serem boas, porém o Tan joga uma bigorna em minhas esperanças. Peço licença e me retiro de perto dele, assim vou em direção ao banheiro. Chegando lá, lavo meu rosto em uma tentativa de limpar um pouco da sujeira da minha vida.

É totalmente maluco o rumo que minha vida tomou. Perdi meu pai, Alice e Sarah, ganhei uma nova irmã, e para completar estou apaixonado por uma mulher que não sei o próprio nome. Eu dei a vida da Alice para ela, na verdade, eu coloquei ela na vida da Alice. Sou um perfeito doente. Esses pensamentos ficam mais fortes em minha cabeça. Sinto uma mistura de enjoo e medo. Passo as mãos molhadas pelos meus cabelos cacheados e começo a encarar o meu reflexo no espelho. Começo a sentir uma espécie de repulsa e ódio, e de repente me descontrolo e aplico com força um soco no espelho, que por sua vez se despedaça, assim gerando outros reflexos meus em sua fragmentação, lavo as mãos e seco. Pego o celular e disco para a mente por trás de todo esse conflito.

- Alô. - diz.

- Quanto você quer para tirar Samsung desse lugar?

- Sempre direto. James, você tem mais de mim do que imaginava. Não é atoa que você saiu desse ventre.

- Por favor, pare de rodeios e diga logo o seu preço!

Posso ouvir o sorriso que se forma em seus lábios.

- Diga você. O que está disposto a me oferecer?

- 100.000 mil dólares.

- 150.000 mil dólares. Jeff quer um iate e este é o valor ideal.

- Finalmente deixou sua máscara cair, então aquele discurso todo de que somos uma família e que iríamos ficar unidos era tudo uma farsa? Não precisa responder. O dinheiro vai estar na sua conta em 5 minutos. Espero que a minha irmã saia no mesmo tempo.

Finalizo a chamada e faço a transferência do dinheiro.

+++

- Nos desculpem pelo transtorno. - diz o delegado com o seu maior cinismo. - francamente foi um terrível engano e lhe garanto que os responsáveis por esse ocorrido serão severamente punidos. Peço mais uma vez perdão pelo ocorrido Srta. Frey.

- Espero que esse "transtorno" não se repita novamente. - digo saindo da sala.

Chegando em casa, deixo as chaves no pote e digo para Samsung e o Dr. Torres para que se acomodem no sofá. De repente Alice surge, e atrás dela surge o mal em pessoa.

- James, por que não me disse que sua iria vir nos visitar? - pergunta ela.

- Não o culpe minha querida, eu que estava pelo bairro e resolvi fazer uma visita. - diz ela alisando o cabelo de Alice com a mão.

Fico sem reação com o que está acontecendo na minha frente.

- Bom, eu já vou indo! - diz ela.

Ela se vira para Alice e volta a dizer:

- Adorei lhe rever minha querida, depois do seu acidente não tive a oportunidade de ver como você estava, mas agora minha vontade de lhe ver, minha nora, foi totalmente saciada. Quando tiver tempo venha me fazer uma visita, estarei lhe esperando.

Ela passa por mim e me dá um beijo, em seguida sai da casa deixando o que sobrou de sua presença indesejável.

Minutos depois, Alice foi dormir, assim deixando somente Samsung, Tan e eu. Faço um café e levo até a mesa de centro. Sento me no outro sofá que me faz observa-los com clareza.

- Tan, lá na delegacia você me disse que Alice deixou uma coisa para mim...

- Sim, mas antes você vai ter que me explicar o que aconteceu aqui.

- Isso é uma longa história! - digo.

- Essa é uma longa noite. - retruca.