ALICE E EU

7

                Nunca gostei de velórios, sempre achei que velórios ou discursos fúnebres, são para amenizar o sofrimento dos vivos, no entanto para Sarah eu abro  uma exceção. Ela foi a única irmã que tive na vida, e agora se foi. Parece que todas as pessoas que amo se vão. Talvez então esse seja o motivo pelo qual eu não me apaixonei novamente? Talvez eu tenha me apaixonado e não saiba? Chega! Isso não é hora de pensar em mim, mas sim, na minha mãe e no meu irmão. Nós somos o que sobraram dos Raymond-Frey.

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                 A casa da minha mãe é realmente muito espaçosa, tanto que conseguiu abrigar alguns parentes distantes e uns amigos próximos da família e de minha falecida irmã. Ela está realmente exausta com tudo, assim como Noah e eu ela também ficou surpresa com a misteriosa doença de Sarah. Gostaria de verdade que esse momento nunca chega-se, no entanto não tenho como evitar o fluxo da natureza, só cabe a mim a aceitar as oposições da vida.

                Minha mãe está aos prantos, pois a única filha dela partiu. É totalmente reconhecedor o seu sofrimento, pois pense só; a única filha que ela já teve se foi. Ela nunca irá ver o vestido de noiva da própria filha, nunca terá netos de sua parte e principalmente minha mãe jamais verá novamente o rosto da minha irmã. Sei que julgo ela por ter tentado reconstruir sua vida, mas na verdade, ela só teve a coragem que eu nunca tive. Realmente, a morte de Sarah é com certeza um motivo para chorar, porém é para nos tornarmos mais fortes e mais unidos. Queria realmente não passar por isso. Por mais que eu não goste do rumo que minha mãe tomou, eu não gosto de vê-la assim.

                 Seu marido a abraça com força e lhe dá um leve beijo na testa. Queria que Alice tivesse aqui para me dizer as palavras certas para consolar-me.
 
                 Uma grande quebra de tempo depois, todas as pessoas que compareceram, foram embora. Jeff subiu para descansar, com certeza eu posso entende-lo, praticamente foi ele que resolveu todas as questões burocráticas do enterro de Sarah. Só restou nós três na sala, Noah, minha mãe e eu. Joanna traz cafés para nós, e se retira da sala.

                   — Eu abri um processo contra a médica, que atendeu a Sarah. — diz ela quebrando o silêncio e tornando o ambiente pesado e hostil.

                  — Por que você fez isso, Mary?  — pergunto em um tom que pudesse dizer que é auto. 

                  — A mamãe está certa, James! Aquela mulher matou nossa irmã.
 
                  — Negativo, nossa irmã morreu por causa da reação agressiva que o câncer teve no corpo dela, assim o seu coração não aguentou e veio a óbito. — respondi.

                  — Ela não poderia ter pegado o caso da Sarah, James! — diz ela um pouco alterada.
 
                  É realmente impossível conversar com essa mulher, Noah puxou muito dela, assim como Sarah também tem um pouco de seu gênio forte.
 

                   — Eu conheço a Dra. Frey, ela é uma ótima profissional! 

                   — Ela é a irmã de vocês! — diz ela.

                   De repente tudo se transforma em um enorme buraco, é como se o meu mundo desabasse. Isso com certeza é uma mentira! A Samsung não pode ser minha irmã.

                    — Isso é mentira! — grita Noah jogando a xícara no chão.
 
                    — Sei que é difícil de acreditar, mas é a pura verdade! Ela é a meia-irmã de vocês. A mãe dela era empregada doméstica aqui em casa. Joseph e eu estávamos  em uma época difícil do nosso casamento... — ela faz uma pausa e continua —... Eu e o pai de vocês resolvemos engravidar para poder tentar salvar nosso casamento. Porém não sabia que o seu pai tinha cometido adultério. Noah é mais velho que ela por meses. Quando ele descobriu que a mãe da Samsung, Nora Lee, também estava grávida, demitiu-a e  começou a pagar um certo valor para que ela permanecesse longe com a criança. A Samsung nasceu e o pai de vocês a registrou. Descobri só quando o Noah completou dois anos de vida.
 
                 — Isso é inacreditável! — diz meu irmão.

                — Meninos, por mais que eu esteja casada com o Jeff, vocês é que são a minha família! Eu amei muito o pai de vocês, como também amei totalmente Sarah. Agora só nos resta nós três, não podemos nos dividir, pois, Noah e James, eu amo vocês de uma forma inimaginável.

  Ela levanta do seu lugar e nos abraça.
 

               — Bom, espero que vocês estejam junto comigo nessa aventura em busca de justiça para nossa Sarah...
                        
               Nada é de graça para essa mulher! Saio do seu abraço e digo:
 
               — Olha, por mais que toda essa história seja perturbadora, eu não irei cometer injustiças! E tem um enorme fato que você, Noah, está esquecendo! — faço uma pausa rápido e prossigo — Samsung é nossa irmã! Eu acabei de perder uma irmã e está doendo demais. Não vou perder outra.
 
               — Ela matou Sarah! Eu vou ficar ao lado da mamãe, faça o que quiser, só fique no nosso caminho.
  Pego meu casaco preto, e saio daquele lugar asqueroso que um dia chamei de lar.
 
               Quando chego em casa, Alice ainda está ouvindo a mesma estação de rádio que eu havia deixado. Está sentada no sofá e rindo de alguma baboseira que o locutor disse.

                Coloco as chaves em cima da mesinha de centro, e me assento ao seu lado.
 
                — Você tem sorte! sabia? — pergunta ela.
 
                — Por que diz isso? — pergunto.

                — Você pôde viver com ela durante todos esses anos, e o melhor; você se lembra disso. Ela teve que ir, no entanto, suas lembranças nunca se partiram, pois isso que irá manter vocês conectados.
 
                Suas palavras fazem os meus olhos acumularem grandes quantidades de água. Sem pensar duas vezes lhe dou um abraço bem forte e choro em seu, assim dividindo com ela toda minha dor.

                Saio levemente do abraço, até que minha testa encosta na dela. Não resisto ao intenso desejo de a beijar, então sem pensar duas vezes, realizo o ato. Ela retribui da mesma forma afetuosa, assim me fazendo viajar em uma onda de proteção e paixão...
 
                 — Não foi o suficiente! — berra Noah.

                 — A Srta. Frey apresentava um caso complicado de ser resolvido. Seu quadro já estava em fase terminal.

                 — Fase terminal? Como assim? — pergunto extremamente curioso.
 
                 — James, sua irmã apresentava um caso de leucemia gravíssimo. Quando foi descoberto já era tarde demais, ela já havia me procurado à um tempo atrás, Sarah sabia que seu tempo de vida era curto. Ela estava cansada de tudo só queria um pouco de paz, nada de dor, nada câncer, só paz.

                 — Cala boca, sua vadia! — diz ele deslocando sua mão do seu corpo e assentando na face da Samsung.
 
                  A médica cai no chão com o rosto virado, por conta do impacto do tapa de Noah. Eu empurro ele para que não possa avançar para cima da Dra. Frey.
 
                  — Pare com isso Noah! — grito o mais alto que posso.
 
                 Samsung permanece no chão com o rosto tomado pelos cabelos. Os seguranças do  hospital de repente invadem o ambiente segurando Noah e o tirando de dentro do recinto, ele grita, no entanto não dou a mínima atenção.       
        
                  Seguro-a em meus braços e a ergo do chão. Seu rosto está vermelho e seus olhos puxados estão coberto de lágrimas. Ela me abraça e sussurra em meu ouvido:

                  — Eu juro que fiz tudo que podia. Eu nunca iria fazer mal a sua irmã!

                  — Eu sei que você fez tudo o que estava em seu alcance...

                  Ela sai de meus braços e vai em direção a uma sala e entra. Sento ao lado de Alice e começo a chorar, de repente ela pega na minha mão direita, leva até seus lábios e dá um suave beijo.

                  — Por mais que eu não me lembre da sua direito é possível notar que ela era uma pessoa extraordinária. — sua mão solta da minha e me abraça.

                  Apoio a minha cabeça em seu ombro, posso sentir o cheiro do perfume que se estala em seu pescoço. As lágrimas descem novamente dos meus olhos, não resisto e finalmente me entrego a minha dor.