Dezenove

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Hoje faz seis meses que voltei para o Brasil e cinco anos e meio que meus pais se foram.

Todo mês, quando chega esse dia, sinto como se voltasse ao dia em que eles morreram. Todo desespero, toda a angústia, toda a dor, toda a tristeza. Só pude ir ao cemitério onde eles foram enterrados aqui uma vez e por pouco tempo já que tinha que voltar logo para os Estados Unidos. Desde que cheguei aqui, tenho esperado por uma chance para visitar o lugar e este dia vai ser hoje, Thomas querendo ou não.

Já falei com Oliver e os outros seguranças que andam comigo. Depois do casamento de Alex eles me levarão até lá. Eu preciso ir até lá.

Esse últimos meses passaram voando. Peter recuperou-se completamente, para a alegria de toda a família. Todavia, não há avanço nenhum em relação às investigações de todos os atentados ocorridos a nossa família. Apesar disso, o clima esfriou e não houve mais nenhuma emboscada desde a de Peter. Isso foi bom por um lado, mas por outro vivemos em constante alerta e isso já está me deixando louca.

Eu e Thomas estamos muito bem, apesar dos pequenos detalhes que, de vez em quando, ocupam minha mente, como a aproximação do nascimento do filho e Emilly, e, talvez, de Thomas. Sobretudo, decidi enfrentar a situação se o filho for mesmo seu, afinal, é comigo que ele está, certo? Não comentei o assunto com ele, de qualquer jeito, considerando o clima maravilhoso que perdura entre nós, regado a várias declarações, beijos, carinhos e todo o resto.

Provavelmente ele não notou que eu observei a sua inquietação nas últimas semanas e várias podem ser a resposta para tal inquietude: o caso sem solução da nossa família, os quase seis anos que nossos pais morreram, a vinda de seu provável filho...Ainda assim, pode não ser nenhuma dessas opções.

Agora estou deitada na minha cama, com meu notebook nas pernas e Thomas está sentado na cama ao meu lado com seu notebook perto e olhando alguns papéis da empresa. Ambos trabalhando em casa.

Minha perna esquerda está por cima da sua perna direita e de vez quando ele a mexe causando arrepios em mim. Ele faz isso de propósito, é claro. Todos falam que parecemos casados. Não dormimos mais em camas separadas simplesmente por que não conseguimos, ou sequer tentamos.

Estou olhando alguns emails no notebook relacionados ao escritório de advocacia. Thomas parece mais calado do que o normal, parece até nervoso.

Só queria saber o porquê, mas prefiro falar de outra coisa.

- Poxa, ainda não me conformei com o fato de que perdi duas audiências enquanto estive hospitalizada. Maldito ombro! - Abro o calendário no notebook e olhando as datas percebo uma coisa que ainda não tinha notado - Ei, gatinho, falta um pouco mais de um mês para seu aniversário - Thomas me encara e levanta a sobrancelha.

- Jura? Caralho, nem me lembrava. Era capaz de chegar o dia e eu não me tocar - Ele fala e volta a atenção para os papéis. Eu o imito com um sorriso no rosto.

- Não lembra a data do próprio aniversário. Será que está ficando velho? - Pergunto irônica.

- Perca de memória longa, eu acho - Comenta no meu mesmo tom sorrindo - Mas com tudo o que aconteceu, não tive tempo nem pra lembrar dessas coisas.

- É, eu também não.

- Sabe, - comento depois de um tempo – Eu sei que deveria estar perguntando isso para ela, mas me recomendaram que não tocasse no assunto. Por que Jessie não se casou? E eu nunca sequer ouvi uma palavra dele desde que voltei, quer dizer, ele deveria ser importante, né?

- Essa história é um mistério até pra gente, Alicia. Ela alegou, no dia do casamento, que ainda não tinha superado a morte dos pais. Resumindo, ela deu um chilique do nada. Ela estava aparentemente bem dias antes do casamento. Insegura, sim, mas bem. Daí ela rompeu com ele, o que foi mais estranho ainda. Sobre o cara, era um empresário tão rico quanto nós, mas de outro ramo, sabe...A verdade é que eu nunca acreditei na desculpa dela para o fim do noivado, mas sempre que a gente comentava ela ficava muito mal e desconversava.

Atração InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora