ROCINHA

*24*

-Juan-

Estou sendo conduzido pra delegacia é a primeira vez que vou preso, nunca pensei que fosse passar por isso, apesar da vida que levo, mas tenho que me conformar pelo menos a Lívia não está aqui.
Foi bastante difícil pra mim vê-la daquela forma, eu nao queria que ela tivesse que ver aquilo.
A Livia e tudo pra mim, eu sei que sou um filho da puta do caralho com ela, não sou bom pra ela, mas eu tento muito.
Chegamos em algum lugar e ele me colocam pra descer do carro, e logo vejo a imprensa a minha frente, merda. Não queria ter que lidar com isso também.

_ senhor Gimenez, o que o senhor tem a declarar?- fico calado de cabeça baixa.
Outro se aproxima.
_ Colômbia é o seu nome no morro?
_quantas pessoas o senhor matou?

É um inferno.

- Lívia-

Eu não acredito que isso tá acontecendo, tá passando na TV ele sendo preso, meu Deus e agora, eu não vou suportar isso, eu o amo.
Sento no sofá da sala e contínuo assistindo toda aquela merda, eu sei que ele é um bandido que não é uma boa pessoa, mas eu não queria que ele fosse preso.

Desligo a TV e vou até a janela, há um aglomerado de pessoas na frente da minha casa, o que eles querem. Logo vejo o Toni vindo e corro pra abrir a porta.

_ Lívi- ele me abraça e choro em sua camisa.

_ ele foi preso e agora?

_ nós vamos resolver isso.- ele diz e segura meu rosto limpando minhas lágrimas.

_ bateram nele na minha frente, eu não sabia o que fazer, não tive como ajudar.- digo entre os soluços que escapam de mim.

_ fica calma, ele é o Colômbia, tu acha que ele vai ficar muito tempo preso?- ele sorrir pra mim, mas não atinge seu olhar.

_ e tem outra, se ele for deportado? Ele é colombiano.

_ mas também é um cidadão brasileiro, vai ficar tudo bem, tamo entrando em contato com nossos informantes da polícia.- como assim informantes, eles não conhecem limites.

_ ele tem que sair dessa vida.

Me sento novamente no sofá e coloco minha cabeça entre as mãos. Mesmo depois do que ele fez ontem não consigo não pensar em como ele está, do que estão fazendo com ele, já vi algumas vezes que eles não tem pena de ninguém.
O que eu fiz da minha vida, onde eu fui me meter, isso é absurdo, minha vida não é mais minha, minha vida é dele. Isso tem que mudar.

Me levanto e vou tomar um banho, entro naquele quarto e lembranças do seus gemidos de dor vem em minha cabeça, seu momentos raros de sorrisos na nossa cama, seus raros momentos de carinho, eu realmente percebo o quão dependente dele eu sou.

Mesmo depois de tudo o que ele me fez, eu tô aqui, torcendo pra ficar tudo bem, chorando por ele ter sido preso, por ter sofrido nas mãos dos policiais, ou ainda está sofrendo.

Eu sei o quanto ele é perigoso, podem até me julgar por não querer que ele seja preso, o que ele faz é errado mas eu o amo, e esse amor supera qualquer coisa errada que ele faça.

Sei que se e quando ele voltar tem que ser diferente, ou não podemos continuar. Eu não suporto mais sofrer desse jeito e a noite passada foi a gota d'água, ele não vai mais mandar em mim, não vai mais me bater, se ainda quiser ter um futuro comigo tem que ser diferente.

Choro enquanto a água bate em meu corpo, ele dói, lembranças de ontem a noite bem em minha cabeça, foi a força, nunca pensei que o Juan fosse fazer isso, não chega, eu não quero mais nada com ele, só agora percebo o abuso que sofri, ninguém merece isso, contra sua vontade, sei que quando ele fica bêbado e drogado não tem controle, mas não nunca mais.

Não tenho mais forças pra continuar esse relacionamento, vou tocar minha vida, fazer meu mestrado e me reconstruir chega de Juan, Colômbia, chega disso tudo, ninguém mais vai mandar em minha vida.

Visto uma calça jeans e uma camiseta Rosa chá, volto pra sala e o Toni ainda está lá, mas agora acompanhado da Clarissa que corre pra me abraçar quando me vê.

_ amiga, tá tudo bem com você?- ela me abraça forte e beija minha bochecha.

_to bem, amanhã vou a faculdade fui aceita para meu mestrado, vou fazer minha inscrição e dá entrada na papelada, vida que segue.- ela olha pro Toni que a olha de volta._ olha eu tô bem tá Juan tá preso, é o mínimo só está pagando pelo que faz.

Entro na cozinha e abro a geladeira pego um pedaço de bolo de chocolate e começo a comer, eles me olham estranho.

_ vocês vai ficar com essa cara me olhando?- me sento na mesa enquanto  pergunto pra eles.

_ só estamos preocupados com você, o Juan foi preso e...- interrompo e Toni.

_ olha eu não quero falar disso, já disse o que penso, ele está lá porque cometeu crimes e tem que pagar por isso.

_ ele não vai ficar lá muito tempo.- o Toni diz e se senta no sofá.

_ tá tá isso não me importa.- digo mas não olho pra ele, se eu olhar com certeza vou chorar, estou me segurando.

Me levanto e volto pro quarto.