Capítulo 35

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n/a: Esse capítulo foi escrito por escritora_dedicada. Todos os créditos a ela.

[ M E L I S S A ]

   -- Você tem certeza que não quer que eu ligue para o Artus? Mel, ele tem que saber o que se passa com você. - Eduardo falava aquilo pela milésima vez.

  Nós estavámos saindo da escola nesse exato momento, e eu ia para a casa dele. Acontece que desde manhã eu estava sentindo-me um pouco tonta e isso fez com que ele ficasse extremamente preocupado.

   -- Não! Artus tem que se concentrar no trabalho dele, você sabe. Além do mais, é só um mal estar. - pude ouvir um suspiro da parte dele, o que siginificava que ele enfim desistiu de insistir.

  Quando já estavámos em sua casa, eu apenas corri para o banheiro no intuito de tomar um banho quente e poder relaxar um pouco. Ultimamente qualquer coisa me estressa, além da sensibilidade que venho sentindo. Sempre ouvi falar que a gravidez não é fácil e agora tenho certeza disso.

   -- Mel, eu acho que você e Artus deveriam tirar um tempo só para vocês, quem sabe passar um final de semana em algum lugar tranquilo. - Edu sugeriu enquanto estavámos deitados em sua cama assistindo a um programa de TV qualquer.

   -- Edu, sinceramente não acho que seja possível. Não quero atrapalhar mais ainda Artus, ele vai começar a residência, ainda tem as preocupações com o ridículo do pai dele! Eu realmente acho que não estamos no clima. - falei calmamente.

  A verdade é que eu venho sentindo uma tristeza profunda ultimamente. Tudo tem sido tão monótono, cansativo e entediante, não que eu seja mal agradecida, sou muito grata por tudo que tenho, mas eu queria poder viver um pouco mais minha juventude, quem sabe fazer novas amizades ou viajar para algum lugar interessante. O que estou sentindo é algo como uma crise existencial, não nego que já amo o filho que está crescendo dentro de mim, mas me sinto um pouco deprimida quando penso que a partir se agora não serei mais a jovem que eu planejei ser. A faculdade vai ter que esperar, as viagens que eu pretendia fazer também, eu me sinto perdida, sem minha essência.

  Diria que é isso que vem me causando estresse e mal estar, o fato de eu estar tão deprimida.

  O restante do dia passa rapidamente, e já é noite quando escuto a buzina do carro de Artus. Pego minhas coisas e me despeço de Eduardo no intuito de ir para casa.

   -- Amor, eu tenho duas notícias. - é a primeira coisa que meu namorado fala quando entro no carro. Ele está aparentemente cansado, suas olheiras são perceptíveis, sua barba está bem maior que o habitual, as mangas de sua blusa social estão arregaçadas e seus olhos trazem uma sensação de extremo cansaço.

   -- Quais? - pergunto assim que ele dá a partida no carro e fixando meu olhar na estrada.

   -- Eu vou começar a residência próxima semana, meu horário vai ficar um pouco mais complicado. - ele diz calmamente e me olha de soslaio enquanto dirige.

  Que ótimo, não é mesmo? Já não basta te ver só a noite, ainda vai ser mais complicado.

  Uma sensação de tristeza ainda mais forte me atinge. Meu namorado, uma das únicas pessoas que está conseguindo me trazer paz ultimamente, vai se afastar ainda mais de mim. A verdade é que ele já nem parece se importar tanto, durante o dia mal responde minhas mensagens, e quando chega a noite nem conversa comigo direito. Ele só pergunta sobre o bebê, e é claro que ele deve se preocupar, eu também me preocupo, é nosso filho, mas ele está esquecendo do meu bem estar também.

  Talvez fosse melhor eu tirar um tempo só para mim, passar uns dias com a minha mãe. Tudo aconteceu de maneira tão precipitada.

   -- Melissa? Você me ouviu? - desperta-me dos meus pensamentos e eu desvio meu olhar para ele no momento em que ele faz o mesmo. Suas íris castanhas me observam com uma expressão confusa.

   -- É, realmente vai ser bem complicado... Qual a outra notícia? - pergunto.

   -- Bernardo vai voltar. - eu sorrio de imediato, era tão bom saber disso, afinal, significa que Eduardo vai ficar extremamente feliz e eu me sentia bem ao ver a felicidade do meu melhor amigo.

   -- Isso é tão bom. - falo realmente me sentindo contente por isso.

   -- Amor, você está tão estranha ultimamente. - ele comenta assim que chegamos em sua casa.

  Eu apenas suspiro e desço do carro a fim de entrar na casa, tomar um banho, comer algo e dormir. Não estou com a mínima paciência para essas indagações quando, na verdade, quem está estranha não sou eu.

   -- Melissa! Você pode, por favor, me dizer o que está acontecendo? - o médico usa seu tom rígido enquanto eu subo as escadas. Paro de supetão e olho para ele com uma expressão enfurecida.

   -- Tem certeza que sou a estranha, Artus? Faça-me o favor! Olha para você. Passa o dia inteiro sem me ver, sem sequer responder minhas mensagens, quando chega a noite mal conversa comigo. Você quer que eu fique feliz? Por favor, me diga qual foi a última vez que você perguntou se estava tudo bem comigo? Você está estranho! Eu não. Eu continuo a mesma pessoa, só que com mágoas e tristeza dentro de mim. - esbravejo tudo aquilo e sinto como se cem quilos tivessem sido tirados das minhas costas.

   -- Você só pode estar louca, né? Eu estou me esforçando ao máximo para fazer isso funcionar, mas você não colabora. Quer que tudo seja sempre em função de você. Olhe ao redor, veja se tem mais alguém que te ame e que cuide de você como eu fiz e faço todos os dias, mas você não sabe ser grata ao que tem, ainda é uma criança que não sabe lidar com os reais problemas da vida. - ele falou tudo aquilo bem em minha frente, olhando no fundo dos meus olhos.

  Senti lágrimas escorrerem por minha bochecha e me xinguei mentalmente por deixar que aquelas duras palavras me atingissem.

   -- Você mudou! Olha quem você era no começo, e olha quem você é agora. O Artus de antes nunca me falaria essas coisas. - eu soluçava e pude ver a expressão de culpa surgindo em seu rosto. - Eu sou criança? Só tenho dezessete anos, e já passo por coisas que nunca imaginei passar. Foi você quem bagunçou a minha vida, eu resisti ao seu amor e você insistiu em permanecer, eu te aceitei, nós construímos uma história, geramos uma vida, e agora você simplesmente mudou.

   -- Eu não mudei, eu só estou ocupado e distraído. Eu ainda estou aqui. - sussurrava cabisbaixo não conseguindo olhar nos meus olhos.

   -- Não, você está aqui, mas não está comigo. Nós não somos o que costumavámos ser e cada parte do meu corpo dói ao pensar que você já não é mais o mesmo. - foram as últimas palavras que proferi antes dele apenas se virar e sair daquela casa.

  E naquela noite, Artus saiu e me deixou sozinha.

  Sozinha.

 

Meu Médico Possessivo (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora