04

722 62 123
                                    

A primeira coisa que Roger notou foi o cheiro.

O aroma clássico de cafeína e livros velhos não escondiam o fato de ele estar numa cafeteria universitária. Era um local agradável, com grandes janelas, um balcão contendo uma diversidade de comidas e doces e mesas cercadas por cadeiras que alteravam entre estofados rosas e azuis. Sua visão não focou na decoração por muito tempo, é claro. O sorriso de Olivia enquanto entregava um copo de café para um cliente foi o suficiente para prendê-lo em sua figura. Estava com seu cabelo amarrado num rabo de cavalo, uma camiseta branca com a logo do local, uma saia preta e um avental. Não usava nada de maquiagem e nunca estivera tão linda.

Ainda não estava acostumado com o efeito que Olivia tinha nele.

Havia poucos clientes na cafeteria e Roger aproveitou isso como uma oportunidade para sentar na bancada principal. Acenou negativamente quando uma outra garçonete foi em sua direção e esperou obter a atenção de Olivia. Walker continuou concentrada no freguês e só tirou o sorriso de seu rosto quando o mesmo se virou para a saída. Parecia uma atendente excelente e atenciosa, do tipo que tenta agradar ao máximo os clientes e que, por isso, provavelmente seria adorada por todos. Roger tentou esconder o ciúme que sentiu ao pensar nisso.

Quando finalmente o viu, a sua expressão mudou de serena para irritada em menos de um segundo. Enquanto ela andava com passos largos em sua direção, Roger fez uma súplica mental para que Freddie estivesse certo ao dizer que ela não guardava rancor. No momento, parecia extremamente improvável. Olivia pegou um menu e jogou no balcão em frente ao homem.

— O que você quer?

— Quero falar com você — Respondeu, empurrando o cardápio delicadamente para longe de si.

— Estou trabalhando.

— Eu posso esperar.

Olivia revirou os olhos e cruzou os braços. Parecia estar calculando com cuidado o que dizer em seguida e como lidar com essa situação.

— Por quê? — Disse, por fim.

— Porque nós temos um novo baixista e eu acho que a banda pode dar certo dessa vez — Roger pausou e encarou os olhos da mulher com tristeza antes de continuar. — E eu fui um péssimo amigo ao desconsiderar o Freddie. Aliás, o Farrokh mudou seu nome...

— Eu sei — Interrompeu Olivia. — Ele é meu amigo também.

— Enfim — Roger continuou, não tendo certeza de se estava melhorando ou piorando sua situação —, eu cometi um erro e estou ciente disso. Olivia, eu preciso que você saiba que a Queen não existiria sem você.

— Então está finalmente assumindo o seu egocentrismo?

Com certeza, Roger não esperava que essa conversa fosse fácil, mas não sabia que Olivia iria dificultá-la tão cedo.

— Sim. Estou. — Falou, suspirando e relaxando sua postura. Não era todo dia que Roger Taylor admitia ter errado e a sensação ainda era desconhecida para ele.

Walker o encarou por mais tempo do que seria confortável. Naquele instante, sua expressão estava impossível de ler e Roger não sabia se deveria insistir em pedir desculpas ou sair correndo o mais rápido possível. Queria, acima de qualquer coisa, fazer a garota enxergar que ele não era a pessoa mau-caráter e desprezível que tinha demonstrado ser quando a conhecera. Era um ser humano que cometia erros e que estava disposto a aprender com eles. Não era mais um jogo de flertes, mas sim uma questão de perceber que tinha falhado como amigo e como indivíduo. Nenhuma pessoa jamais tivera em Roger esse efeito e ele não sabia porquê Olivia estava sendo a primeira, mas sabia que não tinha direito de reclamar. Precisava, desesperadamente, mostrá-la isso.

Play The GameOnde histórias criam vida. Descubra agora